A Casa Construída por Cogumelos

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Tecnologia

A Casa Construída por Cogumelos

Phil Ross pode ter descoberto o material de construção do futuro.

Phil Ross pode ter descoberto o material de construção do futuro. Ele é firme, resistente, e ecologicamente sustentável — praticamente inesgotável, na verdade. Ele aguenta tudo, desde temperaturas extremas à enxurradas de balas, e, quando ele deixa de ser útil, pode ser facilmente dispensado.

Só existe um problema: muitas pessoas podem não estar preparadas para viver em casas feitas de fungos.

Ross tem feitos experiências artísticas com fungos há quase duas décadas. Ao introduzir tecido fúngico em moldes cheios de serragem pasteurizada e fazendo com que esse fungos metabolizem o material, ele construiu esculturas fúngicas que já foram exibidas em galerias de arte e museus de todo o mundo. Ele já criou mesinhas de canto e cadeiras recostáveis de cogumelos. Mas só quando ele construiu uma pequena casa de chá com tijolos de cogumelos Reishi no Kunsthalle Düsseldorf — em seguida fervendo os tijolos e servindo-os em forma de chá para os visitantes da galeria — que ele compreendeu que esse material pode ter alguma serventia além das paredes dos museus.

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A casa de chás, Mycotectural Alpha, foi a primeira obra de "micoarquitetura" de Ross. A era construção meio bamba e um pouco mais alta que uma pessoa, parecendo mais com algo saído de um filme do Cronenberg do que com uma construção de Le Corbusier — mas os tijolos fúngicos usados em sua construção eram tão maciços que quebraram quase todas as ferramentas de construção de Ross. Ele aperfeiçoou o processo nas exposições, palestras e projetos seguintes, e não demorou muito até várias empresas entrarem em contato e pedirem sua ajuda para desenvolver materiais de construção de uso industrial.

Ross, um professor de arte na Universidade de São Francisco e que se auto-denomina como um "péssimo capitalista", notou o potencial da sua arte e decidiu investir nos fungos. Ele patenteou o produto e cofundou um startup chamado MycoWorks.

Ele se refere ao seus tijolos miceliais como "o material", o que traz um tom surreal de ficção científica para o negócio. "A aceitação cultural do material é um problema", ele explica. "Fungos tem uma má reputação no Ocidente, porque os associamos com casas mofadas ou pé de atleta — esses são os principais tipos de fungos."

E sim, construir uma casa com fungos parece uma loucura — até mesmo uma nojeira. Mas, como é o caso de muitas tecnologias inovadoras, só é preciso uma leve mudança de paradigma cultural para transformar esses fungos em algo completamente comum. O micélio — a parte vegetativa dos fungos, uma massa de filamentos galhosos e finos — é o empreendedor do mundo biológico. Ele pode se conectar, se espalhar, se propagar, e compartilhar nutrientes entre longas distâncias, em redes biológicas que o micólogo Paul Stamets comparou com a internet, e cuja estrutura se assemelha ao próprio universo.

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ESTAMOS MAIS PRÓXIMOS DOS FUNGOS DO QUE IMAGINAMOS

Estamos mais próximos dos fungos do que imaginamos. A camada superficial da Terra é praticamente sustentada por uma rede global de mícelio fúngico, e, mesmo que o reino animal tenha se separado do reino Fungi há 600 milhões de anos atrás, nós ainda compartilhamos mais da metade do nosso DNA com os fungos. Nós estamos muito próximos dos cogumelos — historicamente, culturalmente, e biologicamente.

Essa proximidade pode ser explorada em prol da humanidade: muito antibióticos antibacterianos poderosos vêm de fungos. Os antibióticos anti-fúngicos, por sua vez, costumam nos fazer mal, precisamente por nossa proximidade com os cogumelos.

Os tijolos de cogumelo de Phil Ross só precisam de um pouco de matéria orgânica, como resíduos vegetais ou serragem, e um pedacinho de cogumelo. Conforme o fungo consome os nutrientes da serragem, os fios do micélio se unem em um aglomerado sólido de células, que pode ser manipulado em qualquer forma, desde que o fungo permaneça vivo. Junte dois tijolos fúngicos, e eles irão se unir inseparavelmente em uma questão de horas. Cure o material para parar o crescimento do fungo, e voilà: um tijolo de cogumelos à prova de balas.

Apesar de Ross nunca ter assistido a série, o laboratório da MycoWorks lembra, e muito, alguns cenários de Breaking Bad. "Em certos aspectos", ele diz, "ele é sofisticado, e com máquinas de última linha, mas remendado com fita durex e filme plástico".

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Tendo dito isso, a MycoWorks está na proa do que promete ser uma grande indústria, transformando resíduos agriculturais, com um pouco de ajuda fúngica, em biomateriais fortes e capazes de superar os desafios de sustentabilidade desse século insano.

A MycoWorks é uma empresa nova. Ela já tem alguma competição na forma da Ecovative Design, uma empresa de Nova Iorque que produz materiais de embalagem biodegradáveis de micélio, entre outras coisinhas de cogumelos. Esse ano, a Evocative se uniu ao arquiteto David Benjamin para construir a Hy-Fi, um torre fúngica na entrada do MoMA PS1 em Nova Iorque. Construído a partir de 10.000 tijolos miceliais cobertos por papel alumínio, a estrutura brilhante — que apesar de ser completamente compostável, parece extremamente inorgânica— teve um importante papel na educação do público sobre as possibilidades da construção com cogumelos.

PODEMOS CONSTRUIR UMA CASA NESSE EXATO MOMENTO

Ross é mais artista que empreendedor, e está extremamente empolgado com sua crescente visibilidade. "Estamos prestes a ver a proliferação de objetos ainda mais fantásticos, feitos com esse material", ele me diz.

Conversando com Phil Ross, eu me peguei completamente encantada com a ideia de viver cercada de uma material fúngico formidável. Como é maravilhoso construir em união com a natureza — permitir que a força de algo vivo crie as paredes e o chão do lugar em que moramos. Quando eu poderei cultivar minha própria casa? Eu trouxe essa dúvida para Ross. Surpreendentemente, a resposta é: logo.

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"Podemos construir uma casa nesse exato momento", disse Ross. "Sabemos como construir essas estruturas. Podemos planejar, a partir do que sabemos sobre o material, e fazer cálculos de engenharia baseados nas características física do material."

Os desafios envolvem mais logística do que tecnologia — para ser reconhecido dentro da indústria de construção, o material precisa ser testado extensivamente, e a reação dele às intempéries climáticas precisa ser completamente compreendida. A MycoWorks e seus rivais precisarão publicar diversos artigos e se unir à instituições acadêmicas, ou — como ocorreu na torre Hy-Fi no MoMA PS1 — à museus para mostrar a viabilidade do produto ao público. A resistência ao material deve se transformar em aceitação, e, em seguida, em apoio entusiástico.

É uma meta razoável. Atualmente, quando Ross e a MycoWorks mostram protótipos de seu material para o público, ele sente que a aceitação, assim como a vontade de se dedicar às ideias ambientais, aumentou nos últimos tempos. As pessoas estão "ouvindo o apocalipse bater na porta", sugere Ross. "Eu não sei se isso é uma mudança ou uma mutação, mas o zeitgeist natureba está vindo com tudo."

Tradução: Ananda Pieratti