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Interviews

O Movimento Insurgente Anarquista Reivindica a Autoria de Três Ataques a Bancos e Declara que Outros Virão

Em entrevista exclusiva para a VICE, integrantes do movimento brasileiro declaram confronto ao Estado e às instituições capitalistas.

Às 21h30 do último dia 13 de setembro, o Corpo de Bombeiros de São José dos Campos, interior de São Paulo, recebia a chamada para mais um incêndio. Chegando ao local da ocorrência, na Av. Nelson D'Ávila, parte de uma agência do banco Itaú é encontrada em chamas. O fogo atingiu quatro dos sete caixas eletrônicos e fez ceder um trecho do teto do prédio. Embora nada tivesse sido roubado, algo fazia aquele incêndio fugir do corriqueiro: em meio a labaredas e cinzas, enigmáticos papéis negros com letras brancas revoavam pelo local.

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Imagem divulgada pelo Corpo de Bombeiros de São José dos Campos/ Fonte: Meon

Às 22h39, o fato tomava sentido com uma mensagem enviada para a redação do portal de notícias Meon, que atua na região: "Somos o MIA (Movimento Insurgente Anarquista) de São José dos Campos. Acabamos de incendiar uma agência bancária do Itaú entre o Habib's e o EXTRA do centro, próximo ao shopping center vale [sic]. Caso algum repórter esteja por perto, o fogo ainda persiste. A […] foto anexada é de nosso panfleto, que foi jogado na parte externa da agência".

Panfleto deixado pelo MIA no ataque ao Itaú

Junto com a mensagem enviada ao Meon, havia um link para o manifesto do MIA, no qual o grupo explica seu posicionamento político e afirma que anteriormente havia deflagrado uma bomba incendiária de cinco litros de gasolina em outra agência, dessa vez do Bradesco, mas sem informar o local ou a data do ocorrido.

Conseguimos um contato com pessoas que se declaram membros do Movimento Insurgente Anarquista e assumem a autoria dos atentados. Nesta primeira entrevista para um veículo de comunicação, eles falaram à VICE sobre os últimos acontecimentos, os objetivos do grupo e, entre outras questões, a promessa de ações futuras. De acordo com eles, o MIA é composto por pessoas que "lutam em diversos movimentos por moradia, causa animal, trabalhista e antifascista". Eles alegam ainda a existência de uma célula do MIA em Porto Alegre que recentemente realizou um terceiro ataque a banco. "Estamos prontos para entregarmos até a vida, quiçá alguns anos na prisão." Por se tratar da primeira entrevista dos supostos autores dos ataques para um veículo, optamos por publicar as respostas na íntegra.

Imagem enviada à VICE pelo Movimento Insurgente Anarquista

VICE: O MIA assume a autoria do incêndio que aconteceu em uma agência do banco Itaú no dia 13 de setembro de 2015 em São José dos Campos e outro em uma agência do banco Bradesco em data e local não revelados?

MIA: Sim, assumimos integralmente. Entretanto, a ação anterior a essa foi realizada em uma agência do banco Santander na Rua Adhemar de Barros, em São José dos Campos, na noite do dia 17 de agosto, e não do Bradesco, como havíamos anunciado no manifesto. A intenção era, mesmo que por pouco tempo, confundir as primeiras horas de investigação da polícia e garantir mais tempo para nossa reorganização e segurança. Houve ações em outras regiões além de São José dos Campos?
Uma célula do MIA em Porto Alegre também levou a cabo uma ação incendiária contra a sala de caixas eletrônicos de uma agência do Bradesco, no bairro Rio Branco, no dia 19 de setembro. Não podemos garantir a validade de futuras ações como sendo do MIA, pois atuamos de forma descentralizada. Isso pressupõe que células podem ser criadas da noite para o dia, realizando ações logo em seguida sem a necessidade de contato conosco. Sim, criamos e articulamos a base do MIA, porém a intenção é abrir o movimento para que esse se torne, sobretudo, uma ideologia – uma metodologia radical para os setores anarquistas e insurrecionalistas. Se a ação direta seguir a lógica anticapitalista, antissistêmica e insurgente que pautamos em nosso manifesto, então o ataque decerto foi realizado por camaradas do MIA. Mas o que é o Movimento Insurgente Anarquista?
O MIA é, sobretudo, uma práxis insurgente calcada na teoria anarquista. Somos um movimento baseado em células descentralizadas e autogestionadas que buscam levar a cabo a insurgência contra a escravidão econômica que nos é imposta. Pautamos a luta anticapitalista por meio da agitação, propaganda e ação direta. O MIA surge, portanto, para sacudir as estruturas não somente da direita e dos parasitas encrustados na gigantesca máquina capitalista como também para acordar e mobilizar a esquerda estagnada, reformista e pelega. Mudanças significativas e estruturais não podem ser concretizadas com um partido social-liberal como o PT nem com burocratas ou engravatados. Não reconhecemos os políticos como servidores do povo, mas sim como negociantes, as pontas de lança dos interesses do Capital. Nossas urgências não podem esperar pelo jogo burocrático da máquina administrativa totalmente dependente do sistema econômico. Não há outro caminho senão o da revolução através da pressão organizada pelo povo e para o povo. Nesse aspecto, o MIA surge como a fagulha dentro do barril de pólvora. Como e por que surgiu o MIA?
O MIA surgiu a partir da necessidade de intensificar ações anticapitalistas que hoje se expandem pelo mundo através de diversos outros movimentos de esquerda que têm uma postura combativa. De forma mais precisa, surgimos a partir do encontro de pessoas que se sentiam conectadas ideologicamente, insatisfeitas com os rumos dos movimentos sociais pós-2013. O que de fato ocorreu foi uma contraofensiva conservadora, de caráter moralista e pseudonacionalista. A direita brasileira não tem uma forma sólida ou organizada. Ela morre e ressurge conforme o contexto lhe propicia tal chance. Como dizia Bertolt Brecht, "A cadela do fascismo está sempre no cio." A esquerda acabou por adotar uma postura defensiva no sentido de apoiar um governo menos pior frente a uma oposição que tampouco representa os interesses do povo. A solução dos problemas do mundo pela via democrática já não mostra mais a efetividade que de fato existia, ainda que restrita a países no eixo central do fluxo de capital (Europa, EUA e aliados) no século passado. A crise do subprime de 2008, que afogou o mundo em uma depressão sem precedentes que ainda persiste, apesar da negação da grande mídia, demonstrou de forma muito clara que somente uma revolução - popular e combativa - poderá colocar um fim ao jogo capitalista. O MIA é apenas um entre os milhares de movimentos radicais, insurgentes e revolucionários que hoje ganham espaço graças às duras medidas de austeridade impostas pelos governantes, oligarquias e grandes corporações. Não há como se manter passivo e não agressivo frente a uma estratosférica crise capitalista que se forma e se agiganta no horizonte, enquanto o povo paga o pato pelas extravagâncias e lucros incessantes das castas que hoje montam em cima de nós.Que os ricos paguem pela crise que eles mesmos criaram. O MIA é composto atualmente por quantos integrantes? Há integrantes que participaram de outros movimentos políticos no passado?
Por questões de segurança, não poderemos responder a essa pergunta de forma precisa. Somos poucos, porém coesos. Na nossa célula, existem membros que lutam em diversos movimentos por moradia, causa animal, trabalhista e antifascista. Não estamos alienados às lutas de massa do dia a dia, como alguns alegam. Quais são os alvos e os objetivos do MIA?
Novamente, por questões estratégicas e de segurança, preferimos não responder a essa pergunta. Os objetivos ficaram mais claros nas respostas anteriores, mas salientamos novamente: o MIA não objetiva levar a cabo, de maneira isolada, uma revolução, mas sim pavimentar o caminho para que a mesma ocorra. Poucas e isoladas ações não constroem uma revolução, mas a onda e a espuma irão crescer conforme mais células se unirem à urgência. Quais ações vocês já fizeram e o que pretendem fazer daqui pra frente?Atuamos anteriormente em atos de sabotagem e ação direta: libertação de animais, ataque a gangues de extrema-direita (Neonazistas e Integralistas). Também estivemos presentes em inúmeros protestos, na linha de frente contra a repressão do aparato estatal. Quanto a ações futuras, não responderemos por questões estratégicas e de segurança. Por que o MIA optou por esse tipo de ação direta em vez de inserções sociais?
A questão não é termos optado por um ou outro caminho. Seguimos ambos, de forma que um não exclui o outro. Militamos por diversas causas: de pautas de minorias a movimentos trabalhistas, anticapitalistas e revolucionários que possuem inserção social. Camaradas da FIP (Frente Independente Popular), COB-AIT (Confederação Operária Brasileira), OASL (Organização Anarquista Socialismo Libertário), entre outros inúmeros movimentos anarquistas e socialistas, já trabalham por vias de massificação social. Nesse sentido, movimentos de massa já existem. Do que o Brasil necessita, sob uma ótica mais radical, é de movimentos que partissem de princípios insurgentes. Como funciona a organização do grupo e a tomada de decisões?
A tomada de decisões funciona de forma horizontal. Pautamos nossa luta com as perspectivas e sugestões dos membros que compõem nossa célula. Sendo assim, seguimos o modelo de democracia direta. Entraves ocorrem naturalmente, porém decidimos o melhor para o movimento com base no consenso e no respeito mútuo. Quanto à estrutura do grupo, preferimos não responder por questões de segurança. Vocês buscaram referências de outros movimentos da atualidade na criação do MIA?
Sim. Nossa inspiração parte das lutas anticapitalistas e antiglobalização que hoje se radicalizam na Europa e no mundo, em especial a CCF (Conspiração das Células de Fogo), a Federação Anarquista Informal, a ALF (Animal Liberation Front), o EZLN do México e o YPG (Unidades de Proteção do Povo) do Curdistão. Temos também um grande apreço pela cultura e iconografia de resistência de nosso país. João Cândido, Marighella e Espertirina Martins são alguns entre os vários personagens da nossa história nos quais nos inspiramos. Qual vertente do anarquismo vocês seguem?
Sendo o MIA um movimento de células descentralizadas, não há como definir precisamente uma única corrente. O anarquismo possui diversas – do anarco-sindicalismo ao anarquismo verde. O Movimento Insurgente Anarquista põe à mesa toda a variedade de lutas que integram o anticapitalismo e a luta libertária. O MIA, acima de tudo, abre espaço para que qualquer ativista de postura insurrecionária, independente de vertentes, se some, junto, à luta, construindo sua célula local. Basta apenas lutar a boa luta. Até o momento, já houve algum tipo de divergência com grupos de outras vertentes mais específicas do anarquismo em relação à forma como vocês agem?
Sim, existem divergências. A divergência é o primeiro sinal que indica um possível sucesso. Quando setores governistas da esquerda e liberais da direita te atacam mutuamente, isso é um sinal de sucesso. Não é possível lutar por uma causa sem ter atrás de si uma legião de opositores, mesmo que esses lutem pelos mesmos ideais que você. A ampla variedade de estratégias dentro do anarquismo acaba por inevitavelmente criar divergências no que tange à questão do uso da ação direta como método válido para atingir objetivos. Isso remonta inclusive ao século passado, quando alguns setores optavam por assassinar reis e explodir parlamentos, enquanto outros optavam por sindicalização, greves e luta de massas. Não desacreditamos por completo o pacifismo presente em algumas vertentes anarquistas. Pelo contrário, acreditamos ser de fato possível alcançar determinados objetivos por meios pacíficos utilizando a desobediência civil, mas há momentos em que o uso da força deve imperar. Sobretudo quando falamos em algo tão massivo e brutal quanto a superestrutura capitalista. Não há como enfrentar o poder do aparato estatal sem travar uma constante luta de terror, força descentralizada e informação. O MIA age sozinho ou se articula em conjunto com outros grupos?
Agimos, até o dado momento, sozinhos. Porém estamos buscando articulações com outras frentes insurgentes no país e no exterior, em especial com os camaradas gregos da Conspiração das Células de Fogo. Vocês pretendem agir em âmbito nacional no futuro?
Não podemos profetizar o futuro, tampouco criar expectativas. Estamos tentando. Acreditamos que é isso que falta hoje em nosso mundo. Tentar, de alguma forma, nem que seja miseravelmente fracassando, mudar este terrível cenário que hoje nos assola. Tentaremos articular células em todos os cantos do país para, juntos, mobilizarmos ataques incessantes frente a este gigante moedor de carne humana. Tentaremos, a partir desse princípio de disseminação e propagação, construir uma guerrilha urbana (popular, prolongada e revolucionária) contra os parasitas e seus respectivos habitats. O que representa cada símbolo na bandeira do MIA?
A pata de um felino representa o gato negro, presente na simbologia anarquista. A ideia está atrelada ao fato de que o gato opera nas sombras, furtivamente, e não busca liderar ou ser liderado. Quanto aos outros elementos da bandeira: o coquetel molotov representa a destruição e a chave inglesa, a construção. Em uma síntese mais filosófica, é a ideia do caos edificante (Destruam et Aedificabo ou, em português, "Destruir para Edificar"). Negamos o reformismo e qualquer outra tentativa de consertar este majestoso erro chamado capitalismo. Não há como consertar algo que já nasce calcado em ideais quebrados, assim como não há como perfumar merda. Objetivamos, em contrapartida, erguer uma nova civilização a partir das cinzas dessa velha. Somente assim seremos, de fato, livres. Há algum tipo de situação que poderá ocasionar a dissolução do movimento?
Não. Essa é a vantagem de operar radicalmente a partir das sombras, atrás de uma ideologia fracionada e dispersa em células descentralizadas. Podem nos prender ou nos matar, mas a ideia persistirá. Monarcas, reis, ditadores, presidentes ou policiais – todos tentaram enterrar o anarquismo. Não será agora que nos enterrarão. Mesmo que o façam, estariam apenas plantando novas sementes que breve dariam novos frutos. Afinal, o que o sistema menos quer, neste exato momento, é criar mártires e espelhos de luta. Vocês estão dispostos a chegar até que ponto para alcançar seus objetivos?Vamos inverter a pergunta: "O sistema capitalista estaria disposto a chegar até que ponto para alcançar seus objetivos?". A resposta para isso alude a guerras mundiais, crises sistêmicas, concentração de renda, exploração laboral no terceiro mundo, consumismo e toda a sorte de desumanidade e opressão. O que é um banco queimado com gasolina frente às bombas produzidas pela Avibraz e Condor em solo brasileiro para serem vendidas ao regime sionista e genocida de Israel? O que é um panfleto frente à gigantesca estrutura midiática que controla o que é e o que não é informação? Estamos dispostos a elevar os ataques à [potência] máxima. Elevar nossa postura revolucionária e até a entregar nossas vidas frente ao caos que se aproxima. Acreditamos em apenas um lema: "A omissão e a passividade é [sic] a parteira de toda a injustiça". O MIA está preparado para represálias por parte das autoridades governamentais?
Não podemos precisar. O Estado tudo pode. A nós, nada é permitido, senão o silêncio e a passividade. Acreditamos em nossas medidas de segurança e emergência, mas, à medida que a chefia aumentar ostensivamente seus canhões de espionagem e repressão, seremos um alvo fácil. Estamos prontos para entregarmos até a vida, quiçá alguns anos na prisão. Não temos carros luxuosos, mansões na praia ou uma vida de sucesso. Estamos tão arruinados quanto qualquer outro assalariado. Os ricos são os que mais têm a perder nesse mundo. Vocês têm receio de que a atuação do MIA seja confundida ou relacionada com adeptos da tática Black Bloc? Como vocês explicariam a diferença entre os dois?
Não tememos caso isso aconteça. Apenas lamentamos a natural incompreensão política por parte de uma sociedade orientada a não discutir a raiz dos problemas que a aflige. É natural, portanto, que as pessoas se confundam e mesclem conceitos e acontecimentos, de forma a tomar posicionamentos extremamente equivocados. Já estamos acompanhando essas manifestações nas redes sociais e nos comentários que ouvimos nas ruas. Porém gostaríamos de ressaltar a diferença entre a proposta do MIA e a proposta dos ditos Black Blocs. A começar pela diferença estrutural, na qual o MIA é um movimento organizado, com manifesto e objetivos, e o Black Bloc, sendo caracterizado como uma tática de manifestações de rua, não como um grupo. Caracteriza-se muito mais como uma denotação do que de fato como uma autointitulação, se pegarmos a origem do termo criado pela mídia alemã durante o nascimento dos blocos negros de operários anarquistas e comunistas que combatiam nas ruas contra a repressão da polícia nas décadas de 70 e 80. O chamado Black Bloc já foi bastante discutido durante as revoltas populares de 2013, mas parece que as pessoas ainda não compreendem o que de fato é o Bloco Negro. Não negamos a validade dessa tática – como forma de pressão e, sobretudo, defesa – adotada em manifestações de rua. Pelo contrário, a enaltecemos. Todos os nossos membros já estiveram presentes em blocos negros nas manifestações de 2013, na linha de frente contra o belicismo da polícia militar. Entretanto, atacamos sim o uso inconsequente dessa tática por parte da garotada mais jovem e com pouca compreensão política que acaba por descarregar sua raiva em lixeiras, bancas de jornal, casas ou pequenas propriedades em geral. O inimigo jamais será a população. O inimigo veste terno de linho e gravata borboleta – e está rindo da cara de quem quebra lixeiras ou bancas sob um suposto pretexto revolucionário. Porém ele certamente não dará risada quando vir seu banco em chamas. Aliás, SEUS bancos. Vocês gostariam de dar algum recado para as instituições que são alvos do MIA? E para a população e outros anarquistas?
Aos que ainda persistem em comprar as perguntas, respostas e afirmações da grande mídia: não o façam. Se desejam mudança, comecem por aí. Diferente[mente] do que disseminam, não praticamos o terrorismo cego e aleatório, que busca sucesso através do tamanho da pilha de corpos. Pelo contrário. Ressaltamos: nossas ações são previamente planejadas e orquestradas, levando sempre em consideração a segurança da população. Não vamos, não poderíamos e sequer seríamos capazes de matar ou ferir alguém. Diferente[mente] dos oligarcas e mercadores da morte que vendem armas e munições para regiões em guerra, não dormiríamos à noite sabendo que alguém morreu pelas nossas mãos. Não buscamos aterrorizar o trabalhador ou a dona de casa que humildemente faz valer o pão da semana com o suor de cada dia. Buscamos, sim, aterrorizar o verme parasita que lucra uma incontável pilha de dinheiro sobre a exploração das camadas sociais mais baixas. Não podemos nos pacificar diante do fato de que 1% da população do planeta, no caso a mais rica, detém METADE de toda a riqueza do planeta, segundo a OXFAM. Não podemos nos acovardar e aceitar o fato de que podem cortar nossos salários, enquanto o lucro do Itaú, somente no segundo trimestre deste ano, foi de [R$] 5,9 bilhões. É sabido que os bancos em todo o mundo são instituições agiotas legalmente reconhecidas pelo Estado, que exploram seus devedores através da prática da usura. É um lucro sujo, imoral. Não podemos sentar e aguardar o estouro de uma nova crise econômica global e uma nova guerra mundial que se formam no horizonte. Dias melhores e mais belos virão se nos insurgirmos contra aqueles que obstruem a janela. Não aceitem a realidade tal como ela é, pois toda realidade é passível de mudança. Não batalheis pela escravidão. Lutemos pela liberdade. A revolução de fato não pode surgir da noite para um dia. Sequer podemos enxergá-la no horizonte. A revolução se constrói não para que sejamos libertos, mas para que libertemos nossos filhos. Esse é o verdadeiro âmago revolucionário e anarquista: o amor deve ser maior para com o próximo. A nós, cabe apenas a luta e a redenção. No décimo sétimo capítulo de São Lucas, está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas de todos os homens. Está em nós. Nós, o povo, temos o poder de criar riqueza. Riqueza essa que nos foi usurpada e dividida entre engravatados. Se construímos suas empresas, bancos e castelos, vamos destruí-los até que os parasitas saiam de suas tocas. Lutemos por um mundo novo. Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à juventude e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! A elite se liberta, porém escraviza o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder do povo há de retornar ao povo. E, assim, enquanto morrem os homens e mulheres, seus ideais persistirão. Toda a nossa solidariedade ao camarada Nikos Romanos, preso político e herói do povo grego, encarcerado e em greve de fome por lutar pelo que acredita. Se a injustiça é lei, a revolução é ordem. OK, obrigado pela entrevista. As fontes de informação da VICE são sigilosas, e a VICE garante total proteção aos indivíduos ou às entidades que entram em contato com ela para prestar informações. Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.