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Gás lacrimogêneo e coquetéis molotov em Paris nos protestos contra as reformas trabalhistas na França

Nesta terça (14), milhares de sindicalistas e simpatizantes tomaram o centro da capital francesa. O confronto com a polícia foi pesado e 40 ficaram feridos, 60 presos.
Foto por Etienne Rouillon/VICE News

Em junho de 1848, trabalhadores revolucionários realizaram um levante em Paris que entrou para a história. A causa deles: a falta de oportunidades de trabalho honesto e salário decente na capital francesa.

No final daquele mês, milhares de homens jovens tomaram as ruas no "Levante dos dias de junho". Eles se armaram e fizeram barricadas improvisadas. Eles atacaram os oficiais da Guarda Nacional enviados para manter a ordem. No final, dezenas de milhares de pessoas foram mortas e feridas — e outras milhares foram deportadas para a Argélia.

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Quase 168 anos depois, os trabalhadores franceses novamente tomaram o centro de Paris, com um resultado menos sangrento. Na terça-feira (14), milhares de sindicalistas e simpatizantes realizaram um protesto no 13th arrondissement de Paris, contra um novo pacote de reformas trabalhistas que visa tornar a economia francesa mais moderna e "flexível".

Todas as fotos por Etienne Rouillon/VICE News.

Os manifestantes jogaram pedras na polícia e quebraram vitrines. Os policiais dispararam dezenas de saraivadas de gás lacrimogêneo e usaram um canhão de água para separar os vários grupos de manifestantes vestidos de preto.

A VICE News viu os manifestantes jogarem coquetéis molotov nos policiais, que ficaram em chamas por alguns segundos. Muitas horas depois do começo da marcha, um homem com a cabeça sangrando foi levado pela polícia; sua camiseta branca estava ensopada de sangue.

Segundo os sindicatos organizadores, quase um milhão de pessoas protestaram nas ruas de Paris na terça — mas esse número é quase dez vezes maior que as estimativas oficiais, de 75 mil manifestantes. Autoridades dizem que pelo menos 40 pessoas ficaram feridas nos enfrentamentos e que cerca de 60 foram presas.

O protesto aconteceu num momento incrivelmente tenso na França. O país está em estado de emergência desde os ataques terroristas de novembro de 2015. Além disso, centenas de milhares de torcedores de futebol vieram a Paris para o Campeonato Europeu 2016 — e cerca de 13 mil seguranças particulares foram trazidos à cidade para manter a segurança dos estádios.

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O ministro dos esportes francês Patrick Kanner recentemente acusou o sindicato CGT e outros de "estragarem a imagem da França".

Do outro lado da cidade, a Torre Eiffel foi fechada porque os operadores do monumento não podiam garantir a segurança dos visitantes.

"Todo mundo odeia a polícia!" "A polícia odeia todo mundo!", gritavam os manifestantes, enquanto a marcha ia na direção norte.

"Tivemos uma reação autoritária que vem caracterizando esse governo, especialmente dentro do enquadramento do estado de emergência", disse Jean, um estudante de vinte e poucos anos que preferiu dar apenas o primeiro nome, a VICE News. Ele veio para a marcha como simpatizante dos sindicatos — e alguém cada vez mais preocupado com a violência policial. Jean disse que num protesto estudantil recente, sua amiga teve as costelas quebradas por um policial que a chutou quando ela caiu no chão.

Outros manifestantes falaram sobre uma usurpação de direitos civis pelas autoridades francesas na esteira dos ataques de novembro. O estado de emergência imposto depois dos ataques garantiu poderes maiores à polícia francesa — incluindo permissão para conduzir batidas em propriedades privadas sem mandado. Logo antes dos protestos da terça, a polícia de Paris proibiu que 130 agitadores conhecidos comparecessem à marcha.

O protesto veio depois de meses de greve em Paris e arredores, e era esperado como a maior demonstração dos últimos meses. Vários sindicatos se opõem às reformas trabalhistas do governo — incluindo 700 mil membros do CGT — e incentivaram seus membros a deixar seus locais de trabalho. Mais de 500 ônibus trouxeram manifestantes de fora da cidade para a capital, segundo oficiais da CGT.

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Um problema em particular é a chamada loi travail: uma lei trabalhista que o governo passou pelo parlamento sem votação em março. A proposta, que deve ser apresentada ao Senado francês esta semana e que o presidente François Hollande espera transformar em lei em julho, facilitaria a contratação e demissão de funcionários para empregadores privados. Isso ameaçaria a sagrada jornada de trabalho de 35 horas semanais dos franceses, permitindo que os empregadores estendam horas extras e cortem o pagamento para essas horas.

Os sindicatos dizem que a reforma representa o governo se vendendo ao setor privado. O governo diz que ela é necessária para tornar as rígidas leis trabalhistas francesas mais flexíveis. Um ambiente de trabalho rígido, dizem os defensores da proposta, faz as empresas francesas serem cautelosas na hora de contratar trabalhadores permanentes e isso emperra o crescimento econômico.

As taxas de desemprego na França pairam em torno dos 10%, e quase um em cada quatro jovens de menos de 25 anos está desempregado. Cerca de 85% das novas contratações na França são com contratos precários de curto prazo.

O Senado tem poderes limitados sobre o pacote de reformas, mas pode ratificar ou não artigos individuais. O Senado tem até 28 de junho para debater a nova legislação. O líder do sindicato CGT, Philippe Martinez, prevê uma manifestação "enorme" coincidindo com o voto final do Senado.

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Reportagem adicional por Pierre Longeray.

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Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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