Meio Ambiente

Como obrigar seu patrão a ajudar a salvar o planeta

Sua empresa provavelmente está contribuindo com a crise climática. Veja como exigir que a chefia faça alguma coisa sobre isso.
KY
ilustração por Koji Yamamoto
MS
Traduzido por Marina Schnoor
A collage of people working in an office surrounded by plants and wind turbines..
Ilustração por Koji Yamamoto.

As mudanças climáticas são péssimas para os trabalhadores e a economia. Agricultores do Meio Oeste americano estão sofrendo bilhões de dólares em perdas com inundações históricas, uma empresa da Fortune 500 pediu falência depois dos incêndios florestais do ano passado na Califórnia, e poderosas instituições financeiras como o Banco da Inglaterra estão alertando sobre uma catástrofe humana e financeira iminente.

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Ainda assim, 100 CEOs no comando das empresas responsáveis por 71% das emissões de gases-estufa do mundo continuam dando inventivos de curto prazo para demolir o clima. Mesmo executivos que falam sobre a importância da sustentabilidade, como Larry Fink da BlackRock, lucram com extração de combustível fóssil e desmatamento na floresta tropical.

Se não podemos confiar nos líderes de negócios para abordar a emergência climática, então os trabalhadores precisam obrigá-los a fazer isso. Nos dias 20 e 27 de setembro, milhares – talvez milhões – de pessoas vão deixar seus locais de trabalho para exigir que os políticos eliminem as indústrias de carbono destrutivas e criem milhões de novos trabalhos verdes bem pagos.

Especialistas em trabalho e organizadores de movimentos sociais disseram a VICE que as greves climáticas não só oferecem aos trabalhadores uma oportunidade de protestar contra um sistema capitalista determinado a jogar o planeta no lixo, mas também podem te ajudar a formar laços poderosos com seus colegas para exigir que a gerência de sua empresa faça algo sobre a crise.

Aqui você lê as sugestões desses especialistas de como fazer isso.

Comece a falar com seus colegas de trabalho em vez de evitá-los

Real: colegas de trabalho podem ser estranhos, desagradáveis e irritantes às vezes. Mas também podem se tornar amigos e aliados se você der uma chance.

“Essa na verdade é uma das maiores coisas que as pessoas precisam fazer, construir relacionamentos”, disse Carlos Saavedra, ativista do movimento DREAMer para imigrantes sem documentos e fundador do Ayni Institute, que ajuda a treinar organizações ativistas para ser mais estratégicas e eficientes.

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Antes das greves climáticas, pergunte no trabalho se alguém está interessado em fazer alguma coisa sobre as mudanças climáticas. Quando você tiver alguns nomes, considere realizar um pequeno evento fora do trabalho ou uma happy hour. Crie um ambiente relaxado e receptivo.

“Vejam se vocês estão prontos para fazer greve ou não. Talvez não estejam. Talvez vocês pensem 'Olha, é uma ótima ideia, mas não estamos prontos, precisamos de mais seis meses'”, disse Saavedra. “É um começo, você inicia as coisas com o diálogo.”

Participe das greves climáticas – e divulgue

Digamos que você e seus colegas decidam participar das greves climáticas. Não há um padrão para como agir aqui. Vocês podem decidir fazer um seminário sobre a emergência climática na sala de almoço, organizar uma manifestação na frente do escritório, ou se juntar a ações públicas maiores planejadas por organizações com a coalizão Global Climate Strike.

Há um precedente forte para esse tipo de ação coordenada. Em 2006, mais de 1,5 milhão de trabalhadores e suas famílias participaram de greves “Um Dia Sem Imigrantes”, protestando contra leis severas para trabalhadores sem documentos propostas pelos republicanos. (A tática foi repetida em 2017.)

A cobertura da mídia da greve em 2006, além de todos os locais de trabalho a organizando, ajudaram a levar muito eleitores latinos a votar nos democratas nas eleições dos EUA. “Foi uma guinada política clara que então permitiu que a presidência de Obama acontecesse”, disse Saavedra.

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Qualquer ação que vocês escolham para as greves de setembro, divulgar isso contatando a mídia local ou postando nas redes sociais com a hashtag #ClimateStrike, para tornar o evento uma representação visível para políticos e negócios. O objetivo das greves é mostrar para os líderes políticos que tem muita gente querendo soluções transformadoras para a emergência climática – e também para ajudar a construir movimento sociais em massa capazes de pressionar os líderes a agir. Como em 2006, isso acontece mais rápido se os eventos de greve forem altamente visíveis.

Enquanto você deve prestar atenção no objetivo maior de revolucionar nossos sistemas políticos e econômicos, também é útil fazer exigências menores e mais fáceis de atingir durante sua ação de greve climática, que podem afetar diretamente sua vida e de seus colegas.

Um jeito de abordar isso é articular demandas “de um jeito que abordem as mudanças climáticas e melhorem seu ambiente de trabalho”, disse Ian Allinson, organizador trabalhista do Reino Unido.

Por exemplo, seu grupo de greve climática pode decidir pressionar para que as refeições servidas no refeitório usem ingredientes que causem o menor impacto ambiental possível. Ou, como os “degrowthers”, vocês podem pressionar para uma semana de trabalho mais curta. “Se as pessoas estão trabalhando quatro dias por semana em vez de cinco, isso representaria uma grande redução das emissões de carros e transporte público”, disse Allinson.

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Conseguir pequenas melhoras para o local de trabalho não vai salvar o planeta, mas pode criar energia e entusiasmo para demandas mais ambiciosas.

Pressione seu empregador para se desassociar dos combustíveis fósseis

Em algum ponto vocês podem considerar como o modelo de negócio do seu empregador contribui especificamente para a emergência climática, e onde você e seus colegas podem aplicar pressão de maneira mais eficiente para mudar isso.

Um dos estudos de caso clássicos desse tipo de ação é o “green bans” que aconteceu na Austrália nos anos 1970. Esse movimento começou quando a Federação dos Trabalhadores de Construção de Nova Gales do Sul se recusou a trabalhar em projetos que prejudicassem o meio ambiente ou prédios de importância histórica.

De 1970 a 1974, eles mobilizaram centenas de pessoas para bloquear projetos de mais de US$ 4 bilhões na época, transformando o planejamento urbano da Austrália e levando ao Environmental Planning and Assessment Act de 1979.

“Eles impediram dezenas de projetos de construção e reforma urbana de continuarem”, disse Erik Forman, organizador e educador trabalhista do Bronx. “Isso basicamente criou o impulso político que resultou nas leis de conservação ecológica na Austrália.”

Não houve nenhum movimento dessa escala nos EUA, mas houve a aliança Labor for Standing Rock, que começou para mostrar solidariedade aos povos indígenas lutando contra o Oleoduto Dakota Access. Também há centenas de trabalhadores da Amazon que planejam parar em 20 de setembro, para pressionar a empresa a parar de trabalhar com companhias de combustíveis fósseis e se tornar neutra em emissão de carbono.

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Seja criativo na estratégia para obrigar seu empregador a “se afastar do capitalismo baseado em carbono”, disse Forman. “Esse tipo de movimento precisa acontecer.”

Faça eventos mensais depois para manter a energia de greve fluindo

As greves climáticas não vão fazer um bem de longo prazo a menos que a energia e atenção que elas gerem sejam canalizadas para alguma coisa concreta duradoura. Um jeito de fazer isso em pequena escala é agendar encontros mensais com todos os colegas que participarem das greves climáticas. Torne isso uma celebração.

“Tenha alguma comida”, disse Saavedra. “Alguém prepara um prato num dia, outra pessoa prepara um prato no outro.” O objetivo é “manter esses relacionamentos”, ele explicou. Também é uma boa ideia conectar seu local de trabalho com uma organização de mudanças climáticas.

Você também pode começar a empreender os tipos de ações políticas que especialistas de movimentos sociais descreveram para a VICE este ano, que podem ser mais eficientes e transformadoras do que reduzir marginalmente sua pegada de carbono pessoal.

A chave é tratar as greves como uma tática numa estratégia maior, em vez de um fim em si. “Organização é um processo”, disse Forman. “Acho que já é um sucesso se isso nos colocar numa posição mais forte para nos organizar de maneira mais eficiente da próxima vez.”

Geoff Dembicki é o autor de Are We Screwed? How a New Generation Is Fighting to Survive Climate Change . Siga o cara no Twitter.

Esta matéria é parte de uma série sobre ativismo ambiental da VICE EUA para a greve do clima em 20 de setembro. Leia outras matérias da série aqui.

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