Sample é um assunto nebuloso. São raros os produtores que falam abertamente sobre esse tema porque,muitas vezes, apenas de comentar sobre o assunto publicamente você pode conjurar do éter jurídico um processinho, um pedido de retirada da música de todas as plataformas e/ou aquela indenização básica. O Rodrigo Ogi já passou por isso, o Don L também… vários outros passarão e recentemente o Baco Exu do Blues viu a faixa "Oração à Vitória" sair dos sites de streaming por causa de uma amostra usada de um fonograma do Milton Nascimento. Em meio a todas essas tretas, a gente se pergunta: tem como fazer isso de um modo legal? Sim, tem. Por este motivo o Noisey fez um tutorial abordando os passos e as dúvidas sobre como proceder. Mas um aviso importante: antes de você mergulhar no meio desse mar de sample, caso não tenha visto, recomendamos que você gaste uns minutos da sua vida lendo o nosso guia sobre direito autoral para entender melhor o funcionamento da lei no Brasil.
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ABRI O FRUITY LOOPS. PRECISO PEDIR AUTORIZAÇÃO?
DUAS MANEIRAS DE SAMPLEAR E DOIS CORRES A FAZER
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Se você foi além e cortou um pedaço da música original do Marvin Gaye, aí o rolê é um pouco maior. Você precisa negociar em duas frentes: primeiro com a editora, que administra o direito autoral daquela faixa, depois com o produtor fonográfico daquela obra, quem detém o direito daquele fonograma. No caso do Marvin Gaye, certamente seria uma gravadora, mas se o artista é independente, pode ser ele mesmo.Supondo que você seja um artista independente e não tenha uma gravadora que seja dona do direito fonográfico da sua obra, quem deve correr atrás disso tudo é você, ao lado de um advogado, claro. "Quem deve buscar a editora do artista original é o produtor fonográfico original dessa nova música que você está criando. É uma gravadora? É um artista independente? Se for, ele precisa procurar enquanto escritório. Se tiver uma obra fixada nessa nova música que eu tô fazendo, tem uma autoria que já existe, teria que procurar a editora dessa pessoa pra resolver a parte autoral, se além disso tiver um sample do fonograma — tiver usado a master — eu vou ter que procurar além da editora, o detentor dos direitos do fonograma original", diz Tiago.A lei não determina muita coisa e esse acordo vai variar de pessoa pra pessoa. Podem te pedir 70% da música, 20%, vai depender do que o produtor fonográfico e a editora julgarem correto. E um ponto importante também: esse pedido pode ser negado por eles, se acharem que a nova obra fere/difama a original. Um exemplo: se eu sou um produtor de funk e pedir autorização pro Detonautas Roque Clube pra samplear "Quando o Sol se For", é capaz que eles tomem como algo ofensivo. Quanto a isso, não há o que fazer, já que este direito é inalienável. Para deixar mais claro, Tiago mostra a diferença entre dois tipos de direito que existe dentro do autoral. "Quando a gente fala de direito autoral, é bom dizer que temos o direito moral e o patrimonial do autor. O patrimonial é o que a gente pode negociar, estabelecer acordos, o direito moral você não pode negar que ele não criou aquilo. São coisas que não se misturam".Tirando a parte de porcentagem, que vai sempre variar, a única coisa que você não pode fazer é estabelecer um acordo de direito autoral vitalício, pois pela lei brasileira, após 70 anos esse conteúdo vai para Domínio Público.
A LEI DETERMINA ALGO NO ACORDO?
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ONDE COLOCO AS INFORMAÇÕES DE AUTORIA E ETC?
PERDI MEU SOM E PRECISO FAZER UM ACORDO
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Caso tenha rolado com você o que aconteceu com um dos dois saiba que não é tão treta assim resolver, diz Tiago. "O grande lance é você suspender a distribuição assim que der problema, pra evitar que você tenha mais tretas pra resolver futuramente. Busque as pessoas responsáveis pelos direitos — editoras e produtores fonográficos daquele fonograma — e faça os acordos comerciais com eles pra não perder a propriedade do conteúdo e que ele continue sendo distribuído nas plataformas originais."Existem diversas ferramentas para você identificar um sample. O Shazam pode ajudar, mas normalmente os gringos tem escritórios específicos que cuidam apenas disso: ficar procurando artistas que usam samples. O WhoSampled é uma plataforma que pode fazer isso também. Tome como conselho o que o Don L disse: fica suave e não dê pala, caso não queira correr atrás da burocracia.Por outro lado, quem acredita que o Spotify analisa os dados da música em busca de amostras dos fonogramas alheios está acreditando errado. Procurado pelo Noisey, a empresa disse não ter um posicionamento oficial e fixo sobre o assunto e que quem faz o upload do conteúdo são as agregadoras e os selos. Quem identifica isso, pelo menos no caso dessa plataforma, é uma distribuidora digital, como a ONErpm. Quando você vai subir um som por lá, existe um algoritmo que faz esse trabalho. Isso aconteceu com o DJ Nato PK. "Uma vez fui subir um som do disco do Caprieh que eu usava um sample todo editado, mas cometi o erro de deixar uma introdução com um pequeno trecho da música original, que mesmo com filtros, foi barrada. Eles disseram: ou apresenta a autorização de uso ou remove o sample. Tirei a introdução e a faixa foi liberada."
QUEM CAGUETA MEU SAMPLE?
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"A gente tem uma ferramenta de utilização interna em nosso sistema que nos ajuda a fazer a aprovação de todos os álbuns que recebemos. Uma vez que a gente reconhece que existe a utilização de conteúdo de terceiros em alguma música, a gente dá duas opções pro artista: ou ele apresenta a autorização ou ele retira a música, a batida, enfim, o conteúdo de terceiro que quer distribuir", conta Marina Reis, gerente operacional da ONErpm. Essa autorização precisa ser por escrita, logo, seu acordo verbal com seu camarada não vale de muita coisa. "É uma autorização por escrito, de alguma forma, não é algo informal, verbal. Para que isso seja validado, utilizamos os meios tradicionais de escrita. Hoje em dia email já é considerado pela justiça brasileira. Recebemos todas as formas de registro que podem ser usados como comprovação perante um juiz", informa a diretora de marketing da distribuidora, Iasmine Amazonas.No YouTube, a política é um pouco diferente. Nesta plataforma eles dão acesso a um serviço chamado Content ID para "proprietários de direitos autorais que atendem a critérios específicos" e que "para serem aprovados, eles precisam deter direitos exclusivos sobre uma parcela considerável do material original enviado com frequência pela comunidade de usuários do YouTube". Por lá, a gravadora, o produtor ou seja lá quem for, pode gerir o conteúdo que ela detém mas que outras pessoas subiram pra plataforma. Se você receber uma reivindicação, existem algumas atitudes que pode tomar: tirar o sample, compartilhar a receita ou se eles estiverem viajando — o que provavelmente não é o seu caso, já que você usou um pedaço da música deles na sua — rola de abrir uma disputa sobre quem é o verdadeiro detentor daquela obra.Tudo vai depender do quão disposto você está a correr atrás da parte burocrática. Para um artista iniciante ou que não esteja consolidado, comercialmente falando, talvez não seja tão interessante fazer esse corre, já que sua obra dificilmente será retirada do ar por algum representante. O produtor curitibano Nave, que trampou com Marcelo D2, Ogi, Karol Conká e Emicida, diz que só acha válido correr atrás disso quando trabalha com artistas de grandes gravadoras. "Se quero samplear alguma coisa pro Marcelo D2 ou pra qualquer outro artista que esteja em uma gravadora, eu entro em contato com a editora que fez a edição dessa música. A única coisa que deve ser feita é pedir autorização pra evitar dor de cabeça no futuro. O que pega é o alcance que a música pode ter. Tem álbuns aqui no Brasil que são inteiramente sampleados que não vão dar problema ou não deram ainda… isso porque não fizeram aquele barulho a ponto da minha tia lá no interior ter ouvido a música. Lá na gringa há escritórios que só cuidam dessa parte do clean de samples e a internet aos poucos tá virando um “cagueta”… sites como WhoSampled ajudam muito nisso.""A recomendação pra um artista iniciante é: não se preocupe com isso. Crie, trabalhe com suas coisas, entenda que se um dia isso ficar relevante, você vai ter que procurar essas pessoas pra fazer um acerto. Agora, quando digo isso é pra um artista que não vive da música, que não tem um compromisso. Pra um cara que vive disso e tem condições, tem que fazer do jeito certo, até porque o risco dele é muito maior. Certamente você vai ter problema se não fizer", conta Tiago.