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Este software está remixando as traduções da Bíblia para encontrar novos significados

Uma obra de literatura gerada por computador traduz o Livro de Eclesiastes até a eternidade.
Crédito: Shutterstock

A essa altura da existência, você deve saber que há dezenas de versões da Bíblia. Também é bem difundido que as diferenças entre cada uma delas podem alterar bastante o significado dos antigos textos e, como a História nos ensina, uma discordância interpretativa pode ser o suficiente para eclodir inúmeros conflitos religiosos.

Eis que surge, no ano 2017 depois de Cristo, o Hyperbible, um aplicativo web que está remixando a Bíblia por meio de escrita generativa e que promete explorar suas mais variadas nuances de interpretação.

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Desenvolvido pela estudante de ciências da computação Katherine Ye, da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, o Hiperbyble gera novas traduções do Livro de Eclesiastes, uma coleção de próverbios e conselhos, se valendo de análises combinatórias. Nessa fase do projeto, ela só usa as versões em inglês.

Em cada versículo, o Hyperbible seleciona aleatoriamente uma entre dez diferentes traduções do Eclesiastes, colocando-as em ordem cronológica até ter o livro completo. O resultado é uma versão quase infinita do livro, já que cada um de seus 222 versículos pode ser interpretado de até 10 formas diferentes e combinadas também de forma diferente. Experimente você mesmo clicando neste link.

“A chance de dois leitores se depararem com o mesmo Eclesiastes ao longo da vida útil deste universo é zero”, disse-me Ye via email.

Por que alguém leria uma versão picotada da Bíblia? Porque sim: o código-fonte do Hyperbible foi criado em novembro durante o National Novel Generation Month (NaNoGenMo) ou Mês Nacional de Geração de Romances, uma versão mais nerdalha do Mês Nacional de Escrita de Romances, que desafia programadores a desenvolverem códigos que escreverão livros para eles. Dentre outros experimentos em literatura gerada por computador, temos ainda uma rede neural que está escrevendo seu próprio volume de Game of Thrones e um script que revisou os padrões de sentenças de Herman Melville na linguagem dos felinos. Neste último caso, sob a pena do computador, “Me chamem de Ismael” virou “Miau mi miaaaau”.

Mas diferentemente das sopas de letrinhas que outros algoritmos podem criar, a Hyperbible foi desenvolvida cuidadosamente para lidar com o tema espinhoso que é a tradução bíblica. Ye sabia bem dos perigos de se confiar numa única tradução da Bíblia graças à sua mãe, chinesa, que sempre preferiu a versão inglesa em detrimento da de língua chinesa por acreditar que a primeira estaria mais próxima da palavra de Deus.

“Quando a tradução como um todo ganha um nome bacana e é canonizada, como a Bíblia do Rei James, é fácil esquecer a camada intersticial”, disse Ye. “Escolher aleatoriamente as traduções amplia o desconforto que se deve sentir ao ler qualquer coisa que traduzida.”
Futuramente, Ye gostaria de trabalhar com estudiosos bíblicos para analisar textos controversos e, assim, determinar a intenção do autor desconhecido do livro de Eclesiastes, mas por enquanto, ela não planeja em hiper-traduzir toda a Bíblia.

“Gostaria, mas acabei encontrando um erro de análise no Êxodo.”

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