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Noisey

Os bastidores da criação da capa de 'Sobrevivendo no Inferno', dos Racionais MC's

Marcos Marques contou no Facebook como surgiu a ideia de colocar a cruz para ilustrar esse clássico do rap nacional.

Na quarta (22), o Brasil ficou alvoroçado com a improvável notícia de que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, presentou o papa Francisco com o álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MC's. Aproveitando a lembrança deste clássico disco lançado em 1997, o criador da capa, Marcos Marques, compartilhou em sua página no Facebook os bastidores da criação da imagem que ilustra Sobrevivendo no Inferno.

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Perguntamos ao Marques o que ele achou dessa história do papa receber o disco. "Essa capa foi muito significativa pra mim. Imaginar que o Papa vai pegar na mão e ver a capa e muito provavelmente ouvir o CD. Lembrei do dia que rabisquei o desenho da cruz. O Mano Brown não tinha aprovado a primeira capa e logo tive a ideia de fazer a cruz que ele tem tatuado no braço na capa do CD. Foi uma sacada", disse ele.

No Facebook, Marques conta que a ideia inicial era colocar como capa uma foto dos Racionais em frente a uma igreja. Só que a banda acabou não curtindo muito o resultado, e aí ele teve o estalo de desenhar a cruz tatuada no braço de Mano Brown - esse rascunho que você vê aí em cima. Leia na íntegra a história dos bastidores, que envolve armas, o camburão da Rota e o filho de Pelé:

Em 1997 eu era diretor de arte da revista RAÇA. Estava na minha mesa quando o telefone tocou. Era o Ice Blue. Eu já era fã dos caras e não estava acreditando que ele queria falar comigo. Eles curtiam o trabalho que eu estava fazendo na revista e me convidaram para fazer a direção de arte do encarte do CD. Fiquei honrado com o convite.

A primeira reunião foi no Capão Redondo junto com o Mano Brown. Blue dirigia o carro, levei meu irmão Douglas Marques que também adorava os Racionais. Em uma das quebradas do Capão, cruzamos com um camburão da Rota. Ali naquele momento vi um gigante encarando todo o sistema. Ice Blue com o vidro do carro abaixado, passou bem devagar e encarando altivo e fulminante os policiais.

Chegamos para a primeira reunião com o grupo. Para as fotos convidei o Klaus Meiodavila e para a produção a energética Margareth Tagliapietra. Umas das fotos que eles queriam eram com armas. Mais uma vez em uma quebrada do Capão, já com a van da produção para mais um dia de fotos, chegaram 3 carros em alta velocidade e freando. Sairam de dentro do carro engatilhando escopetas e todo tipo de arma que eu nunca tinha visto. Chegaram as armas. Só ouvi alguém dizendo: coloca as armas no carro da imprensa que é limpeza. Fomos até o local das fotos com a van carregada de armas. Ficamos com o c na mão, mas foi tudo bem.

Para a capa eles queriam a foto do grupo em frente a uma igreja. Fizemos com os quarto e também com uma galera que eles convidaram para a cena da foto. Até o Edinho, filho do Pelé, participou das fotos. No dia de apresentar o encarte e a capa para aprovação, percebi que eles não tinham curtido a foto da capa. Frio na barriga. E agora? O que faço? Foi quando tive um insight. Olhei para o braço do Mano Brown onde tem uma tatuagem igual a cruz da capa. Sugeri: Mano, por que não fazemos a capa com essa cruz do seu braço? Ele perguntou: dá pra fazer? Disse: é pra já. Rabisquei a cruz num papel (esse da imagem) e depois o Rodrigo Pereira finalizou. Por 18 anos o Marcelo Rainho guardou o rascunho e me deu de presente novamente. Foi um dos trabalhos mais bacanas que fiz na minha carreira. E esta semana foi o presente que o prefeito Haddad deu para o Papa.