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Existe pelo menos 39% de chance de estarmos sozinhos no universo

Novo relatório descobriu que existe uma grande chance de que sejamos a única forma de vida inteligente no universo.
Imagem: NASA/Composição: Motherboard US.

Será que estamos sozinhos no universo? Esta pergunta instiga os filósofos e cientistas há muitos e muitos anos, contudo, nos últimos cinquenta, responder a essa pergunta se tornou o propósito exclusivo da Busca por Inteligência Extraterrestre (SETI, na sigla em inglês), uma iniciativa científica dedicada a buscar vestígios de vida alienígena no universo. Desde o início da SETI moderna, nos anos 1960, as coisas pareciam bastante promissoras. Existem bilhões de estrelas no universo e agora sabemos que muitas delas provavelmente abrigam planetas. A probabilidade de que ao menos um desses planetas seria o lar de uma civilização alienígena parecia boa — era só uma questão de encontrá-lo.

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Praticamente 60 anos depois de o Projeto Ozma utilizar um radiotelescópio para vasculhar o universo em busca de mensagens alienígenas pela primeira vez, ainda temos de buscar evidências de que não estamos sozinhos. Alguns pesquisadores do SETI, como Seth Shostak, estão otimistas de que o primeiro contato acontecerá a qualquer momento, contudo, de acordo com uma pesquisa nova do Instituto para o Futuro da Humanidade, de Oxford, pode ser que isso nunca aconteça porque há grandes chances de que somos as únicas criaturas inteligentes no universo observável.

Solipsismo cósmico?

Em 1950, o físico Enrico Fermi estava bastante ocupado desenvolvendo a bomba de hidrogênio no Laboratório Nacional de Los Alamos, mas ainda encontrou tempo para contemplar o universo nos momentos em que não estava envolvido em uma das armas mais destrutivas já construídas no mundo. Levando-se em consideração o quão grande é o universo, Fermi deduziu que ele deveria estar fervilhando de vida inteligente. É estranho que, até então, nenhuma civilização extraterrestre tenha feito contato com a Terra ou mesmo tenha deixado o mínimo vestígio de sua existência.

Esse improvável silêncio do universo ficou conhecido como o Paradoxo Fermi. Mesmo que Fermi nunca tenha perseguido essa noção além de um experimento inicial, e parafraseado Lorde Kelvin, que não é ciência se não houver alguns números. Felizmente, uma década mais tarde o cientista planetário Frank Drake transformou o Paradoxo Fermi de uma parábola para a física com a, agora famosa, equação de Drake, utilizada pelos pesquisadores do SETI a fim de estimar a probabilidade de vida na Via Láctea.

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Para estimar o número de civilizações inteligentes no universo, a equação de Drake combina a taxa de formação de estrelas por ano, a fração das estrelas com planetas, o número de planetas considerados habitáveis, a fração de planetas habitáveis com vida, a fração com vida que possa desenvolver inteligência, a fração de civilizações inteligentes que são detectáveis e a longevidade das civilizações detectáveis.

Quando Drake apresentou essa equação aos seus colegas na conferência de Green Bank em 1961 acompanhando o término do Projeto Ozma, eles estimaram que a Via Láctea poderia ser habitada por algo entre 1 mil e 100 mil civilizações inteligentes. (O próprio Drake estimou que poderia haver 10 mil civilizações inteligentes e capazes de se comunicar em nossa galáxia.) É uma extensão enorme, mas somente porque a maioria dos valores da equação são palpites. Os únicos valores dos quais os cientistas têm dados reais são a formação de estrelas e a quantidade de exoplanetas.

Fora disso, os resultados da equação de Drake dependem, na maioria, do quanto você é otimista sobre a formação de vida e da sobrevivência com sua própria inteligência. (Neste momento, muitos físicos talentosos no mundo todo estão trabalhando em armas nucleares.) Conforme o astrônomo Steven J. Dick apontou, “talvez nunca na história da ciência uma equação foi desenvolvida com a produção de valores que diferem em oito ordens de magnitude. Cada cientista parece ter seus próprios preconceitos sobre e hipóteses para o problema.” O próprio Drake admitiu os problemas da equação, que somente foi desenvolvida para articular as direções de pesquisa no SETI em vez de apresentar um número concreto sobre a prevalência de vida extraterrestre no universo.

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SETI científico

Em um artigo publicado no arXiv no início deste mês, pesquisadores do Instituto para o Futuro da Humanidade da Universidade de Oxford argumentam que, quando muito, o fato de que as estimativas com a equação de Drake variarem somente em oito ordens de magnitude é surpreendente. Por causa dos vieses dos cientistas que utilizam a equação, essa faixa pode ser muito maior. A fim de compreender o paradoxo de Fermi, os pesquisadores argumentam que os valores da equação de Drake não devem ser concretos, mas variações ou distribuição de probabilidade. Ao observar o uso de distribuição de valores, eles descobriram que o Paradoxo de Fermi não é lá muito um paradoxo, porque as chances de que estamos, de fato, sozinhos na galáxia e até mesmo no universo são muito grandes.

Como não ser abduzido

O problema, de acordo com os pesquisadores, é que inserir valores na equação de Drake como “melhor aposta” implica em certeza e resultados em estimativas incorretas. A distribuição de probabilidades, por outro lado, permite que a incerteza seja capturada na equação.

Para estimar a probabilidade de estarmos sozinhos na galáxia e/ou no universo observável, os pesquisadores utilizaram dois métodos diferentes. Um deles pesquisou o estado atual do conhecimento científico sobre as diferentes variáveis da equação de Drake (por exemplo, a probabilidade de emergência de vida em uma sopa escaldante pré-histórica). O outro método analisou artigos científicos publicados que utilizaram a equação de Drake para quantificar a incerteza de cada variável de acordo com o conhecimento científico atual.

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Os resultados desses métodos foram comparáveis e ambos sugeriram que existe uma probabilidade substancial de que estejamos sozinhos. De acordo com os pesquisadores, existe entre 38 e 85% de chance de que estamos sozinhos no universo visível e entre 53 e 99,6% de que estejamos sozinhos em nossa galáxia.

São resultados sensatos, mas os pesquisadores advertem contra qualquer pessimismo cósmico. “Essa conclusão não significa que estejamos sozinhos, somente que isso é cientificamente plausível e não deveria nos surpreender”, os pesquisadores afirmam. “É uma declaração sobre a situação do nosso conhecimento, não uma nova medição.”

Em outras palavras, não há motivos para tristeza — ainda. Quanto mais aprendemos sobre o universo e nosso próprio planeta, mais nos afastamos da incerteza latente da equação de Drake. Por exemplo, nossa incapacidade de detectar civilizações extraterrestres ao longo da década pode aumentar nossa certeza de que estamos sozinhos, mas, novamente, o universo pode estar repleto de sinais extraterrestres os quais simplesmente não sabemos como reconhecer. Contudo, por enquanto, os pesquisadores sugerem que, se houver aliens por aí, eles estão “provavelmente muito longe e provavelmente muito além do horizonte cósmico e inalcançáveis para sempre”.

Matéria originalmente publicada pela MOTHERBOARD US.

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