Cinco anos sem ‘Chorão Skate Park’
Chorão em sua pista de skate. (Imagem via YouTube)

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Cinco anos sem ‘Chorão Skate Park’

Com a morte do vocalista do Charlie Brown Jr., a pista mantida por ele em Santos acabou demolida. Relembramos a história e a controversa campanha para manter o local aberto.

Nos anos 80, Alexandre Magno Abraão, o Chorão, era um reconhecido praticante da modalidade freestyle. Enquanto estava no Charlie Brown Jr., nunca escondeu a vontade de inaugurar uma pista de skate em Santos, sua cidade natal, para lembrar dos velhos tempos. O sonho só foi se realizar em 2004, no Chorão Skate Park na Vila Mathias. Lá dentro tinha todos os obstáculos que ele gostava: banks, mini ramp, área de street com direito a corrimãos, além de loja de skate, lanchonete e um estúdio musical particular.

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Tão logo Chorão morreu, em 2013, uma galera começou a agitar uma campanha a fim de que a prefeitura e a iniciativa privada se unissem na luta para manter a pista funcionando. De nada adiantou, porém. Quem, afinal, estaria disposto a arcar com o exorbitante aluguel de R$ 16 mil?!

O nome dele, a princípio, parecia ser Tico Santa Cruz, o vocalista do Detonautas Rock Clube.

Comovido pelo fim trágico de Chorão, o roqueiro se uniu à campanha de fãs e skatistas e acabou se tornando ponta de lança do movimento todo. “Minha parada com a skatepark do Chorão foi por conta da admiração pelo trabalho dele. Eu sou fã do Charlie Brown”, assume Tico. “Depois de tudo o que aconteceu, fiquei sabendo que o pessoal tinha tentado manter a pista funcionando, mas que não havia rolado. Ficou difícil pra eles, eles iam desistir, e eu entrei nesse momento. Eles já tinham até encerrado a parada”, relembra.

Tico entrou em contato com a empresária do Chorão na época e iniciou toda a correria. Rapidamente, foram criadas as campanhas #EuQueroManterOSonhoDoChorãoVivo e #ChorãoSkateParkOSonhoNãoAcabou. Em uma semana, ele conseguiu levantar uma avalanche de contatos e garantiu um ano de pagamento do exorbitante aluguel. Nomes fortes entraram na corrente: Luciano Huck, Red Bull, João Paulo Diniz, Sônia Abrão, Falcão (O Rappa), Marcos Mion, Cone Crew Diretoria, atores e atrizes globais, e até o Santos Futebol Clube, segundo ele.

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"Os caras pagaram o maior mico, o lugar era uma propriedade particular. Vi um monte de gente que nem andava lá falando uma par de groselha." (Tom Leal, skatista e amigo de Chorão)

“Dei um jeito de falar com o cara que era prefeito de Santos, sugeri que a prefeitura adotasse o espaço para poder fazer um trabalho com as comunidades carentes, as crianças. Eles toparam. Não entrar com dinheiro, mas oferecer estrutura pra dar oficinas de skate lá”, revela Tico Santa Cruz sobre a movida. “Cumpri todas as condições que o dono do terreno pediu. Ele havia me dado uma semana pra eu conseguir achando que não seria possível.”

Ângulo dos corrimãos da Chorão Skate Park. Foto via Facebook

A pista ficava num terreno pertencente a uma senhora. Dois netos desta senhora encarregavam-se da administração. “Um dos irmãos era favorável, o outro não queria, e a senhora não sabia exatamente”, Tico detalha. Daí, quando chegou o dia de assinar o contrato, a família deu pra trás. Ali na região havia uma concessionária da BMW, e a empresa propôs a compra do terreno.

“Eles acabaram não fechando o contrato pra poder negociar com os caras da BMW. A gente levantou uma grana alta pra caralho, e os caras devem ter conseguido subir ainda mais o valor com essa galera da concessionária”. A Chorão Skate Park funcionou até o vencimento do contrato, em setembro de 2013, e foi demolida em janeiro do ano seguinte.

Na visão de Tom Leal, skatista local, amigo do Chorão desde 1986 e antigo frequentador da pista, o movimento para salvar a Chorão Skate Park original foi uma pura viagem. “Os caras pagaram o maior mico, o lugar era uma propriedade particular. Vi um monte de gente que nem andava lá falando uma par de groselha”, critica Tom.

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“Ainda puseram um slogan: ‘Não deixe o sonho acabar’. Mano, nada a ver… O cara tinha a pista dele, pros amigos. Pra quem era amigo e ia lá, a pista não tinha mais nexo de existir. Era uma coisa dele, meio que o seu refúgio. O irmão, o Fábio [Abrão], ainda tentou fazer eventos, segurar a onda, mas o aluguel era impossível”.

Wagner Ratinho mandando um frontside melon na Chorão Skate Park. Foto: Tom Leal

A Chorão Skate Park abriu sob o mote comercial em 2003, com uma equipe de funcionários, cobrança de entrada e tudo mais. Com o tempo, o público de pagantes, e também de frequentadores, foi diminuindo, até se reduzir ao círculo de amigos pessoais do cantor. “Tentaram ainda dar um gás, fazer alguns eventos, mas a coisa foi perdendo a força”, diz Leal. “Depois, o Fábio foi lá pra coordenar, ainda na época em que o Chorão estava vivo. Na última fase, acabavam indo só os amigos mesmo. Ninguém pagava pra andar. Eu mesmo, paguei só no começo, quando abriu a pista. Mas o Chorão disse que não precisava, então nunca mais paguei.” Tom Leal afirma que a loja da BMW chegou a oferecer ao próprio Chorão um carro e mais uma grana para que ele vagasse a propriedade.

Numa cidade que conta com três pistas públicas, mais uma em São Vicente, cidade vizinha, e pelo menos uma em todas as outras entre Peruíbe e Maresias, o skatista old school opina que o paliativo de rebatizar um aparelho preexistente, na tentativa de fazer a média com os manifestantes da ocasião, não foi a melhor saída: “Se fosse para manter o sonho do Chorão vivo, como dizia o slogan da campanha, porque a prefeitura não construiu uma nova pista pública e deu a ela o seu nome?”.

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