O pior show que eu tive que ir com o meu pai

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O pior show que eu tive que ir com o meu pai

Relatos de filhos que tiveram que enfrentar uma cilada musical por amor ao seu progenitor.

Em 2012, eu tinha 16 anos e era uma adolescente doida do indie rock. Passava dias no Tumblr reblogando foto do Arctic Monkeys e pesquisando bandinha atrás de bandinha inglesa de guitarrinha pop e sintetizador. Daí a minha empolgação nula quando o meu pai, o mais arquetípico pai-do-rock, fã incondicional de Led Zeppelin e Deep Purple, disse que ele queria que eu fosse com ele no show que o Roger Waters faria tocando o disco The Wall, do Pink Floyd, na íntegra no estádio do Morumbi.

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Meu pai é fanático por Pink Floyd e ficou fascinado pelos shows pirotécnicos e megaproduzidos do Roger Waters desde que ele viu a turnê anterior do músico, tocando o The Dark Side of the Moon em 2007. Quando o baixista original da banda resolveu voltar, então, cinco anos depois, meu pai achou que seria uma boa ideia que toda a família fosse vê-lo e lá fomos eu, minha madrasta e meu irmão mais velho para o Morumbi.

Eu nunca cheguei a contar isso pro meu pai — e, pai, se você tiver lendo isso, saiba que era pra não te magoar — mas aquele show me proporcionou as duas horas mais tediosas da minha vida inteira no que diz respeito a espetáculos de entretenimento. Me desculpem os fãs, mas Pink Floyd nunca foi muito a minha brisa e o The Wall menos ainda, ainda mais com aquele palco gigantesco em que acontecia uma coisa em cada ponta, cada uma mais teatral que a outra, por entre solos intermináveis de guitarra.

Em defesa do meu pai, ele também teve que me acompanhar em shows dos quais ele provavelmente não gostou nem um pouco, tipo High School Musical e Black Eyed Peas uns anos antes (eu era uma pré-adolescente eclética). Mas no fim é nisso que se baseia a relação pai e filha, né? Ter a companhia de seu criador ou criatura, não importa onde.

Pra provar que o que importa é sempre o companheirismo, compilei outras histórias de filhos que tiveram que acompanhar seus pais nas mais diversas ciladas musicais. Feliz dia dos pais pra todos os pais roqueiros desse Brasilzão.

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Raíssa Rivera, 23 anos

O primeiro show que eu fui na vida foi do Tihuana. Eu achei top na época pois tinha oito anos e tava nos ombros do meu pai curtindo demais mas hoje em dia eu fico, meu deus, o primeiro show que eu fui na vida foi do Tihuana sabe. Obrigada por tudo, pai.

Elisa Ferreira, 25 anos

Quando eu tinha uns 12 anos, tive que ir ao festival de rock universitário Uni Fest Rock, cujo headliner era Detonautas, porque o pai da minha amiga era jurado da competição das bandas. Foi horrível, as bandas era muito ruins, uma banda de reggae ganhou, e depois teve show do Detonautas pra fechar com chave de ouro. Já meus próprios pais me levavam em shows massa tipo Elza Soares, mas eu era pequenininha e tava sempre chorando de sono e querendo ir embora.

Ananda Muylaert, 21 anos

É importante dizer que eu nasci e vivi minha vida inteira ouvindo metal por tabela. Minha mãe fez o lado do The Police e do rock progressivo de mãe, mas meu pai me fez ir do Black Sabbath ao Mayhem, passando pelo Angra e pelo Anthrax e infinitas outras bandas cujos álbuns ele comprava em uma loja de roqueiros da qual ele era amigo dos donos. Flash-forward pra 2016: depois de inúmeros shows do Iron Maiden acompanhada por ele, meu pai me convida para ir ao show do Children of Bodom, cuja descrição no site do Circo Voador era “Eles vêm da Finlândia pra tocar o terror e o pânico, além de seus maiores sucessos”. Não que eu fosse muito fã, mas aceitei o convite, e lá fui eu acompanhada por meu paizinho, no meio de uma procissão de metaleiros.

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O show começa. Porradão. Coturno pra todos os lados, cabelo comprido, a porra toda. Eu, que não tenho força pra ficar no meio de show, optei por ficar no cantinho. Um metaleiro-maconheiro parado perto de mim acende um baseado; eu, que até então estava na minha, resolvo bolar umzinho e fumar. Meu pai, este tempo todo, fazendo um headbang agressivo e levantando a mãozinha do metal gritando passionalmente as canções da banda. Imagem: um coroa, advogado trabalhista com cabelo cortadinho e ex-baixista de banda de grindcore de garagem nos anos 80, inteiramente tatuado. Fumo em uma comunhão silenciosa com o metaleiro canábico parado ao meu lado, ouvindo a brutalidade, e de repente meu pai some. Minutos depois, quando o show acaba, meu pai reaparece ao meu lado, suado, pingando, e fala as palavras: “o moshpit ali tava foda, mas acho que caiu uma fivela do meu sapato”. Olho para o sapato do meu pai, um coturno com fivela de caveira, e constato que falta uma caveira: “é, pai, caiu uma caveira”. Meu pai me lança um olhar sóbrio, sereno, pleno, como apenas um coroa fã de death metal de espírito elevado após um mosh violento poderia fazer, e faz a afirmação mais sincera de seus então 45 anos de vida: “ainda bem que eu tatuei uma caveira na minha perna e agora espero que você tenha entendido que o metal é a melhor coisa do mundo, filha”.

Gabriel Eliot Garcia, 21 anos

Eu não gostava de música até uns 12 anos de idade, e quem me mostrou, apesar da extensa coleção de CDs e DVDs do meu pai, foi o Hadd – meu melhor amigo, que hoje toca comigo na eliminadorzinho. Ele me mostrou Beatles e Pink Floyd e em questão de semanas eu comecei a consumir todo tipo de rock que eu encontrava pela frente, alguns por indicação do meu pai.

Em 2012 anunciaram que o Roger Waters viria pra São Paulo pra dois shows do The Wall, e apesar de gostar muito do Pink Floyd, eu não curtia esse disco. Meus amigos tinham comprado os ingressos meses antes e não falavam de outra coisa. Quando fiz 15 anos, pouco antes do show, meu pai me deu de presente um ingresso para o show. Eu ainda não tinha assistido a música ao vivo, então eu acabei ficando feliz com a oportunidade.

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O show em si não foi exatamente ruim, mas durante toda a apresentação eu percebi que aquilo era muito diferente do que eu tava esperando. Era muita luz, muito espetáculo, muita nostalgia envolvida e enquanto isso as pessoas que (de vez em quando) estavam no palco pareciam mais uma banda cover gourmetizada, tocando de um jeito meia boca e quase sem sentimento. Sem contar o próprio Roger Waters, que na minha cabeça ainda era um garotão de 30 anos na sua melhor forma possível, e na realidade já não conseguia nem cantar algumas partes mais agudas das músicas. Culpa minha que ainda não sabia muito que os ídolos envelhecem. No fim, saímos do Morumbi e quase fomos pegos num arrastão.

Não foi um bom primeiro contato com shows: num estádio, sentado e de longe, vendo algo que mais parecia feito pra DVD do que realmente pra assistir de frente. Mas valeu pela experiência, eu acho.

Ti Durães, 20 anos

Quando eu tinha uns 12 anos tava em Belo Horizonte visitando a família que tenho lá, e o Beto Guedes ia fazer um show/gravação de DVD. Meus pais queriam ir e me levaram junto. Foi horrível, ele desafinou demais, parava a música o tempo inteiro porque esquecia as letras, uma hora botaram pra ele ler e mesmo assim ele errava. Chegou num ponto que as pessoas estavam indo embora do teatro porque não tava dando, nem meus pais aguentaram e fomos embora jantar.

Amanda Paschoal, 22 anos

Em 2014 meu padrasto me levou junto com o grupo de punks aposentados dele pra ver o show do Ultraje A Rigor com abertura de uma banda cover que tocou clássicos do rock, de Raul Seixas à Guns’N’Roses. Agradeço ele por me apresentar The Clash e Ratos de Porão, mas poderia ter ficado sem essa.

Fernanda Barros, 23 anos

Já fui em muito show bom com meu pai porque ele tem muito bom gosto mesmo, salvo raras exceções, mas uma vez ele e minha mãe queriam porque queriam me levar num show do Velhas Virgens e eu escapei por pouco porque não tinha idade. Só que eu sei que é literalmente o sonho da vida dele levar a família toda pra um show do Iron Maiden mas até hoje nunca fomos porque é muito caro. E eu realmente espero que um dia ele consiga porque, apesar de eu não ser muito fã, o véio ama.

Ully Correa, 25 anos

Meu pai me levou na Virada Cultural que teve Misfits e foi horrível. Não o show, mas a gente presenciou um casal transando no meio da Virada além de quase apanhar porque meu pai tava com uma camiseta que tinha estampa da bandeira de São Paulo. Isso rolou porque eu queria muito ir, mas ele ficava cabreiro de eu colar com meus amigos e aí ele que decidiu me levar, mas só se eu visse Edgar Winter junto com ele. Foi chato demais.

Isabelle Vímara, 21 anos

Em 2005, meu pai levou a família para assistir o Celso Blues Boy no Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras. Eu com meus oito anos e um repertório de new rave no iPod me senti em um pesadelo de jaquetas de couro protagonizado por uma tia com voz de cigarro.

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