A reencarnação do Boston Breakers – ou como tirar das cinzas um time de futebol feminino

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A reencarnação do Boston Breakers – ou como tirar das cinzas um time de futebol feminino

Depois de duas falências, o BB agora tenta construir um time, uma torcida fiel, uma loja e um mercado consumidor nos EUA. É um processo longo, mas bem pensado.

Foto: Mike Gridley/Boston Breakers

Lindsay e Anne Clemons dirigem um Toyota RAV4 até o Harvard Stadium, em Boston, nos Estados Unidos. Homens vestidos de laranja indicam o caminho que elas devem seguir, de curva em curva, até a parte de trás do estacionamento lotado. Elas vieram ver o time de futebol feminino da cidade, o Boston Breakers. Será a primeira partida da equipe em casa na temporada, no Soldier Field, um campo de futebol com arquibancadas móveis escondido no meio do complexo esportivo de Harvard. É abril em New England e você pode sentir isso – uma brisa fria movimenta a água, um sol distante mal pode atravessar as nuvens. O casal nunca tinha ouvido falar do Breakers, a única equipe de futebol feminino da cidade, até algumas semanas atrás. "Eu amo esportes e sempre me interessei pelo esporte feminino, mas sempre tive a impressão de que ele acabava depois da faculdade", diz Lindsay, de 33 anos. Elas compraram duas camisas do Breakers, escondidas embaixo de seus casacos de inverno, e um pacote de 15 ingressos que podem usar a qualquer momento da temporada. Depois adquiriram um bilhete extra para irem juntas aos oito jogos do time em casa. Embora tenha feito a pesquisa online, elas não tinham ideia do que esperar. "Sei que isso soa terrível, mas eu só fui a jogos de futebol colegial para ver primas e amigas, então essa é a única experiência que eu tenho", disse Anne, de 32 anos. "Essa foi a prova de fogo para mim." Lindsay e Anne chegam a seus assentos no estádio junto do restante dos 2376 torcedores e se encontram cercadas por um mar de laranja em lugar do azul do Breakers. O time adversário, o Houston Dash, afiliado ao Houston Dynamo da Major League Soccer, a primeira divisão do futebol masculino nos Estados Unidos, tem uniformes cor-de-laranja vibrantes; as pessoas na seção de Anne e Lindsay estão ali para torcer para a zagueira do Dash, Nikki Cross, que é da cidade de Brockton, próxima do estádio. O jogo é o último antes antes que as estrelas da seleção feminina dos Estados Unidos deixem suas equipes para treinar para a próxima Copa do Mundo. O elenco do Dash inclui as boas meio-campistas Morgan Bryan e Carli Lloyd, da seleção nacional; o Breakers, por sua vez, tem apenas uma jogadora na equipe – Alyssa Naeher, a terceira goleira do time nacional. O jogo é disputado. O Breakers sai na frente por dois a zero no primeiro tempo. O Dash empata no segundo tempo até que um gol contra dá de presente ao Breakers sua primeira vitória na temporada. Lindsay e Anne saem do estádio felizes e incrédulas. "Nenhuma de nós cresceu jogando futebol, temos de admitir", diz Lindsay. "Foi algo novo. Elas jogam para valer. Ficamos muito impressionadas." A única decepção das duas é que elas nunca tinham ouvido falar do Breakers nem da Liga Nacional de Futebol Feminino antes. "Não existe nenhuma divulgação", diz Lindsay. "Isso é algo problemático", Anne completa. "Como nunca tínhamos ouvido falar disso?" Boston é uma cidade que eterniza sua história esportiva em estátuas de bronze e usa seus times para mostrar que não deve nada às cidades de fora – aos times grandes de Nova York e Los Angeles e todos os outros. Mas a cidade demora para se apaixonar por um time. A bem dizer, os moradores locais são céticos em relação a novidades – como o sistema de metrô, o Fenway Park, cargos eletivos –, e o Breakers, embora exista de uma forma ou de outra há quase 15 anos, é algo novo. A grande pergunta aqui é se o Breakers pode se dar ao luxo de esperar. Essa é a terceira tentativa de colocar o time de pé e não é nem um pouco fácil investir numa equipe esportiva profissional, sobretudo quando os preços de imóveis continuam a subir e os fãs de esporte já estão acostumados a suas rotinas. Para o Breakers, o desafio é encontrar espaço.

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Vá em frente, chute. – Foto de Mike Gridley/Boston Breakers

John Powers foi ao Harvard Stadium para assistir à partida do Boston Breakers contra… bem, ele não lembra qual era o adversário porque estava ocupado olhando ao redor e vendo todas as coisas que poderia trazer para a equipe.

Isso foi em 2014, e o Breakers estava no meio de sua segunda temporada na Liga Nacional de Futebol Feminino [NWSL, na sigla em inglês], a terceira tentativa de implantar um campeonato nacional de futebol feminino no país, e também a terceira encarnação do Breakers em Boston. Powers tinha acabado de se tornar um investidor do time e também um dirigente. O estádio comporta 30.323 pessoas, mas parecia vazio com cerca de 2.000 torcedores espalhados pelas arquibancadas. Powers, por sua vez, não viu um estádio vazio. Ele viu potencial. Powers foi enfeitiçado pelo futebol quando tinha 13 anos. Era 1973 e sua família se mudou de sua casa em Hartford para a Inglaterra por um ano; o futebol estava por todos os lados e tomou conta da imaginação de Powers. "Eu me apaixonei completamente pelo futebol", disse ele. "Eu amo o jogo. Eu amo a paixão que os torcedores têm pelo jogo. Eu amo as cores e os hinos das torcidas." Quando a família se mudou de volta aos Estados Unidos, o jogo saiu da vida de Powers até que ele teve filhos e começou sua própria família; seu filho e sua filha começaram a jogar no projeto Weston Youth Soccer. Powers, que trabalhava como gerente de investimentos para a J. O. Hambro Capital Management, se tornou o técnico do time feminino colegial de Weston em 2013 e teve dois mandatos na presidência do Weston Youth Soccer. "Ser técnico naquela temporada me fez lembrar do quanto eu amava o jogo", diz Powers. "Naquele momento da minha vida eu pensei: 'eu amo isso, eu quero me envolver com coisas que amo e não há nada que eu ame mais que o futebol.'" Em janeiro de 2014, Powers – que tem cara de banqueiro profissional com seu cabelo grisalho fino, porte atlético e cabeça quadrada – ligou para Lee Billiard, técnico do time escolar feminino Acton-Boxborough e gerente geral do Breakers. Os dois tinham se encontrado anos antes, quando Billiard era técnico do time da filha de Powers. Eles marcaram um almoço e Powers contou a Billiard seu plano. "Eu sabia que não conseguiria ser um técnico de nível extraordinariamente alto", diz Powers. "Mas há lugar no esporte para gente com conhecimento de finanças, negócios e capacidade de organização." Billiard convenceu Powers de que trabalhar com o Breakers era uma boa ideia e o apresentou ao sócio-proprietário, Michael Stoller. Powers decidiu pesquisar sobre o time para ver se o investimento fazia sentido. "Eu tive a sorte de fazer amigos no mercado esportivo ao longo dos anos", diz Powers. "Acho que falei com todos eles e perguntei: 'você pode me indicar mais alguém com quem eu possa conversar sobre o jogo?' Eu falei com gente que me disse que eu era louco, com gente que achava que agora sim a liga ia para a frente. Eu ouvi todas as opiniões possíveis." Em abril, Powers sentou com Billiard e Stoller num Starbucks em Newton e fechou negócio. Powers virou um sócio-proprietário. Ele pensava que o Breakers poderia ser mais que o sexto ou sétimo time esportivo profissional de Boston. "Eu acho que existe espaço para o futebol feminino nesse mercado esportivo que é reconhecidamente saturado", diz Powers. "Eu estou convencido. Precisaremos de tempo para fazê-lo crescer e quero ser parte disso." A verdade é que o Breakers está num dos mercados esportivos mais saturados do país, com torcedores apaixonados que já dão tudo o que tem para cinco grandes times profissionais – todos eles em esportes masculinos, é claro. Houve vezes em que as jogadoras do Breakers caminharam por Harvard Square com o uniforme do time e perguntaram a elas se eram de uma equipe de basquete. "O nosso logotipo tem uma bola de futebol", diz Powers, rindo.

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Michael Stoller se apaixonou pelo futebol depois que sua filha, Brooke, começou a jogar aos quatro anos. Quando Brooke estava na segunda série, Michael já tinha entrado para a diretoria do programa de futebol feminino de Newton e a família tinha ingressos para toda a temporada de partidas do Boston Breakers para a Associação de Futebol Feminino [WUSA, na sigla em inglês] em Nickerson Field, na Universidade de Boston. Os planos para a WUSA começaram no final de 2000, um ano depois da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 1999. O futebol feminino nos Estados Unidos chegou ao ápice em 1999, quando o país sediou a Copa do Mundo. Multidões inundaram os estádios em todo o país para ver a seleção nacional ganhar tudo e atingir um recorde de público no Rose Bowl; quase 18 milhões de pessoas assistiram ao jogo na televisão, que acabou com Brandi Chastain tirando a camisa depois de sacramentar a vitória americana nos pênaltis. Depois da competição, foram criados planos para uma liga profissional de futebol feminino a fim de aproveitar a empolgação do público, como aconteceu com a Copa do Mundo de 1994, que marcou o início da Major League Soccer, a primeira divisão do futebol masculino. A primeira liga profissional de futebol feminino nos Estados Unidos começou com oito times e US$ 5 milhões de investimento de televisão a cabo. O Breakers jogou sua primeira partida em casa em maio de 2001, em frente a um estádio lotado com 11.714 torcedores. O Breakers teve uma média de mais de 8.000 torcedores por jogo na primeira temporada e mais de 20.000 ingressos foram vendidos para a final do campeonato da WUSA entre o Bay Area CyberRays e o Atlanta Beat no Foxboro Stadium. O futuro parecia brilhante pro futebol feminino, em Boston e por toda parte. Apesar disso, depois de três temporadas, a WUSA acabou. A liga tinha um déficit de US$ 16 milhões e torrou investimentos de mais de US$ 100 milhões. O anúncio da falência veio cinco dias antes do pontapé inicial da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2003. Em 2007, Stoller foi convidado para se juntar a um time de investidores para trazer o Breakers de volta à ativa e ajudar a fundar uma nova liga, a Liga Profissional de Futebol Feminino [WPS, na sigla em inglês]. Dois anos antes, Stoller tinha vendido seu negócio e estava buscando algo para fazer. "Depois que eu me aposentei, tinha tempo para fazer as coisas de que realmente gostava", diz Stoller. "E decidi que me envolver no futebol era uma dessas coisas." A WPS começou em 2009 com oito times, e o Breakers foi um dos membros fundadores, outra vez. E a liga entrou em colapso, outra vez, embora as jogadoras recebessem salários mais baixos e houvesse grandes patrocinadores como a PUMA, que deveriam ser suficientes para sustentar a liga. O Breakers teve um dos melhores recordes de público na liga, mas ainda assim teve uma média de menos de 4.000 torcedores por partida. O aumento no número de torcedores depois da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2011, na qual os Estados Unidos fizeram uma campanha dramática e chegaram à final antes de perder para o Japão, parecia ser a salvação da lavoura. Mas a liga estava perdendo rios de dinheiro e havia uma disputa judicial entre a liga e Dan Borislow, o proprietário do time MagicJack. Depois da conclusão da temporada 2011, a WPS encerrou suas operações. "Eu acredito que na época nós subestimamos o impacto que a recessão teria. Embora eu não possa dizer que esse seja o principal fator, eu acredito que todos o subestimamos na época", diz Stoller. "E nesses dois primeiros anos nos tornamos uma espécie de grupo rachado, perdemos um ou dois times, acrescentamos um time, e na hora em que chegamos ao terceiro anos a situação era algo como 'oh, meu Deus, apenas cinco de nós estão dispostos a retornar.'"

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Cat Whitehill fazendo sua parte como membro do Breakers 2.0, em 2013 – Foto: Mark Konezny/USA TODAY Sports

Stoller e seus parceiros reuniram alguns dirigentes ainda interessados em manter o futebol feminino vivo e criaram a liga WPSL Elite. A esperança era criar uma liga pequena com um orçamento extremamente limitado – algumas jogadoras não ganhavam absolutamente nada – que pudesse manter os times vivos enquanto dirigentes tentavam construir uma nova liga profissional. Para a nova liga, eles decidiram pedir ajuda à U.S. Soccer [Federação Americana de Futebol] na organização, algo que a U.S. Soccer fez pela MLS mas ainda não havia feito pelo futebol feminino. A U.S. Soccer trouxe as federações mexicana e canadense para ajudar a processar os salários de jogadoras da seleção nacional. Em novembro de 2012, a Liga Nacional de Futebol Feminino tornou-se oficial. O Breakers estava de volta. Bem, quase isso. O embalo da WUSA e da WPS se perdeu com o fechamento das duas ligas. Nos anos de intervalo entre as duas, o time perdeu algumas das principais estrelas do time nacional, incluindo as futuras campeãs mundiais Kalley O'Hara, Lauren Holiday, Amy Rodriguez, Meghan Klingenberg e Sydney Leroux, que poderiam ter ajudado a divulgar o time. Acrescente a isso o tempo longe de qualquer holofote, a perda de interesse e a má localização do Dilboy Stadium em Summerville, e o Breakers estava numa situação difícil. "Eles não podiam sequer comprar anúncios no The T [sistema de transporte de Boston] ou colocar um outdoor na Harvard Square", diz Stephanie Yang, escritora freelancer especialista em futebol feminino e uma das fundadoras da torcida organizada do Breakers, The Armada. "Isso realmente acabou com o público. Agora eles de fato estão tentando que recomeçar do zero." O recomeço não tem sido fácil. "Entre todos os times atualmente na NWSL, estamos provavelmente no mercado mais disputado", diz Stoller. "O Red Stars de Chicago é parecido, mas eu acho que de um modo geral o futebol é um foco maior para a comunidade do que na grande Boston. Esta é uma cidade de beisebol, hóquei e, agora, futebol." Um time como o Portland Thorns compete apenas com o outro time de futebol na cidade, o Portland Timbers; ambos são propriedade de Merritt Paulson, então os recursos são divididos em vez de usados um contra o outro, e isso se traduz num público médio de mais de 13.000 torcedores por jogo. O Breakers não tem esse tipo de estrutura para alavancar a torcida do Revolution, e o time da MLS não fez muito para ajudar. "Nós não temos nenhum tipo de parceria com os Revs [apelido dado ao Revolution], diz Lee Billiard, gerente geral do Breakers. Isso significa que o Breakers não está apenas tentando construir uma equipe esportiva profissional do zero, mas também está tentando fazer isso rápido – antes que o dinheiro acabe.

Jogadoras felizes e torcedores felizes na final da NWSL em 2014. O problema é chegar lá. Foto: Steven Bisig/USA TODAY Sports

Esses relacionamentos não surgem de um dia para o outro. Quando o Celtics se mudou de Buffalo para Boston em 1946, ele sofreu para levar torcedores para os ginásios, e a média de público foi de menos de cinco mil torcedores de 1946 a 1950. As pessoas não acreditavam no basquete profissional e se interessavam mais no esporte universitário, e as médias de público continuaram baixas mesmo depois que Bill Russell chegou e deu início a uma das mais dominantes dinastias do esporte. Em apenas duas temporadas entre 1946 e 1972 o time conseguiu uma média de mais de dez mil torcedores por partida em casa – 1956-57, a temporada do primeiro título do time, e 1966-67. "Tínhamos que vender o esporte e vender a nós mesmos", Red Auerbach contou a John Feinstein em seu livro Let Me Tell You a Story [Deixe-me contar uma história, em tradução livre, sem edição em português]. "Eu não era apenas o técnico e gerente geral, eu era o cara do marketing também. Estávamos constantemente tentando inventar novas ideias para trazer mais torcedores. Mesmo quando começamos a ganhar nós não esgotávamos o número de ingressos para a temporada regular, porque os torcedores sabiam que íamos ganhar de qualquer jeito e os playoffs eram o que importava. Então tivemos que pensar em maneiras diferentes de fazê-los comparecer." Para aumentar sua baixa média de público, Auerbach tentou todos os truques que conseguiu imaginar, o que incluiu tornar os Celtics um dos primeiros clubes a dar prêmios a torcedores. Auerbach tentou até oferecer ingressos de US$ 1 para trazer torcedores a um jogo vespertino na Boston Arena, que reuniu cinco mil pessoas. Tudo mudou em 1979, quando Larry Bird se juntou ao Celtics, ressuscitou o time e o levou à era de ouro do basquete. O próximo grande empurrão veio com a chegada de Kevin Garnet e Ray Allen no verão de 2007. Um time com calibre de campeão levou os torcedores para a arena. Desde então, o Celtics tem sido capaz de manter as arquibancadas cheias apesar de estar em uma fase de renovação. Eles transformaram as partidas em uma experiência, um evento. Isso é o que o Breakers está tentando fazer. Powers entrou em contato com a CBS Radio e começou a anunciar em estações de rádio em Boston; ele levou DJs às partidas e começou a fazer propagandas no rádio. Ele fez um grande esforço para aumentar o número de opções de cervejas e comida. Agora está tentando cortejar jovens que cresceram vendo futebol, para não depender apenas das famílias e crianças que formam a base da torcida do time atualmente. "Se você está completando 25 anos neste ano, em 2016, você completou cinco anos em 1996, quando a MLS foi formada, dois anos depois que seriamos a Copa do Mundo de futebol masculino", diz Powers. "Isso significa que você cresceu com uma grande liga profissional – uma liga de homens, mas uma grande liga profissional de futebol em seu país. Você cresceu vendo as partidas periodicamente na televisão e com certeza cresceu com uma oportunidade de jogar futebol infantil. Há uma sólida possibilidade de que você seja um fã." As vendas de ingressos não são a única fonte de receita para fazer do Breakers uma marca estável. O maior apoio financeiro para o Breakers é seu programa de academia de futebol e sua parceria com times juvenis na região. "As frutas mais maduras, por assim dizer, são os grupos de futebol juvenil", diz Billiard. "É daí que vem a maior parte das nossas vendas de ingressos e do interesse dos torcedores." O Breakers trabalha com times juvenis regionais e oferece pacotes de ingressos para os jogos com descontos, assim como treinamento e recursos técnicos oferecidos por funcionários do clube. Na primavera de 2013, o Breakers inaugurou o Boston Breakers Academy Program. Na academia, garotas pagam para treinar com jogadoras e treinadores do Breakers para melhorar suas habilidades, o que também dá ao Breakers uma maneira de estabelecer uma conexão pessoal com os torcedores. "Um dos meus trabalhos iniciais foi: como posso organizar isso para que se pareça mais com um negócio?", diz Billiard. "Nós começamos com os times juvenis e crescemos; temos uma equipe reserva agora, temos uma equipe universitária da academia, temos uma estrutura para o time juvenil. Vamos basicamente do berço à tumba. Fazemos acampamentos de verão e clínicas educacionais em outras cidades, então há fontes de receita diferentes entrando para compensar parte dos gastos que temos com o time profissional, impulsionar-nos para a frente, melhorar nossa marca e ajudar-nos a operar mais como um negócio para que possamos começar a ganhar dinheiro." Há um atalho para chegar ao sucesso com uma equipe esportiva em Boston – vencer. E essa é a parte que o Breakers ainda não conseguiu fazer.

Matt Beard, sem barba em Liverpool. Foto: Boston Breakers

O time termino em último lugar na NWSL nas duas últimas temporadas com o técnico Tom Durbin e frequentemente parece perdido em campo. No final da temporada, Billiard decidiu fazer uma mudança. Ele sabia quem ele queria. Matt Beard, de 38 anos, esteve no futebol em sua vida inteira. Seu pai era diretor da academia de futebol do Millwall, um clube em Londres, e seu irmão mais velho Mark jogava profissionalmente. Matt também era um jogador do Millwall – ele deixou o clube para tentar a sorte fora de lá, não teve sucesso e saiu do futebol profissional aos 19 anos. Com o tempo, acabou subindo degraus da carreira de treinador na Inglaterra. Beard levou o Millwall a 16 vitórias consecutivas e um título da liga. Ele trabalhou para o Chelsea e então para o Liverpool, onde ganhou o primeiro título do clube na liga feminina. E seu pedigree de renovador de times entusiasmou Billiard e o Breakers. O sentimento era mútuo – depois de uma temporada difícil e cheia de jogadoras lesionadas, Beard estava pronto para uma mudança. "Eu queria mudar e me desafiar num país e num ambiente diferentes, me desafiar como treinador", diz Beard. O desafio é grande e começa por transformar o pior time da liga numa equipe respeitável. O Breakers já começou uma renovação do elenco, trocando sua única campeã mundial americana, Naeher, com o Chicago; o acordo trouxe de volta a zagueira da seleção americana Whitney Egan, que jogava para Beard no Liverpool. O time também contratou a meio-campista Angela Salem, do Washington Spirit, a meio-campista Mccall Zerboni, e Sinead Farrelly, do Portland. Eles também assinaram com a ex-goleira do Liverpool de Beard, Elizabeth Stout, que segundo Beard logo será uma jogadora da seleção americana. As mudanças são parte de um plano elaborado para reconstruir o elenco com jogadoras experientes que podem levar o time adiante e colocar em prática a visão de Beard para o time. "Tudo o que posso fazer é trazer uma marca de futebol que os fãs querem assistir e vocês [da mídia] querem discutir", diz Beard. As mudanças parecem estar funcionando. [O canal] NESN assinou uma parceria com o Breakers este ano e vai mostrar mais jogos do time na rede de televisão regional, um negócio semelhante ao assinado com o time profissional de hóquei feminino Boston Pride. Quando as jogadoras americanas retornaram a seus times da NWSL depois de cativar o país a caminho de sua vitória na Copa do Mundo de Futebol Feminino, as vendas de ingressos saltaram em toda a liga. O Breakers lotou o estádio nos três últimos jogos da temporada. Mas isso já aconteceu antes. As ligas surfam na onda de uma vitória na Copa do Mundo ou nas Olimpíadas por algum tempo, mas depois isso acaba – os torcedores se interessam por suas novas jogadoras favoritas, e não pelos times em que elas jogam. "A Copa do Mundo é ótima porque nos dá alguma atenção, mas precisamos estabelecer-nos como um clube e não como um time em que algumas estrelas da seleção jogam", diz Powers. O Breakers precisa se tornar mais do que um lugar onde as pessoas veem suas jogadoras favoritas da seleção, se quiser ter sucesso no longo prazo. "Se você está em Boston, você diz coisas como 'quero ir ao Fenway e ver o Red Sox, não importa contra quem estão jogando, só quero ver o Red Sox jogar', certo?" diz Cat Whitehall, ex-jogadora da seleção e zagueira do Breakers. "Se você vai a um jogo do Breakers, você não é um torcedor fanático pelo Breakers. Você é um torcedor fanático pelo futebol feminino, ou um torcedor fanático da Hope Solo. Eu acho que esse é o principal problema da nossa liga. Em vez de dizer 'venha ver a Stephanie McCaffrey e o Boston Breakers', diga 'venha ver o Boston Breakers e pronto'. Você não diz 'venha ver Tom Brady e o New England Patriots.'" Esta geração do Breakers ainda é nova, e o mesmo vale para o futebol feminino em geral. A NWSL já superou as ligas anteriores ao conseguir chegar a sua quarta temporada, mas ainda está passando pelas dores do crescimento. O confete vai cair outra vez no futebol feminino nos Estados Unidos. Agora, o sonho do Breakers, e de sua liga, é sobreviver por tempo o bastante para chegar até a parte divertida. Tradução: Danilo Venticinque