Fotos que capturam perfeitamente a brutalidade do black metal norueguês
Foto principal: (Esquerda) Sigurd Dybing dos Grand Alchemist; (Direita) Oyvind Rasmussen dos Skromt. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

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Fotografia

Fotos que capturam perfeitamente a brutalidade do black metal norueguês

O fotógrafo da Magnum Jonas Bendiksen queria fotografar a música brutal norueguesa de um jeito brutal — e conseguiu.

(Esquerda) Sigurd Dybing do Grand Alchemist; (Direita) Oyvind Rasmussen do Skromt. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

O black metal é a coisa mais norueguesa que existe. Ouvir alguém dizer "Noruega" já conjura a imagem de um homem cabeludo gritando numa caverna escura, ao som de uma bateria de pedal duplo ensurdecedora. O que não é lá grande surpresa, já que o black metal é o maior produto de exportação musical da Noruega.

Quando penso em "Noruega", o que vem à mente são bandas como Mayhem, Burzum e Darkthrone; no assassinato do guitarrista Euronymous do Mayhem por Varg Vikernes do Burzum; e na série de incêndio a igrejas em que algumas bandas estavam envolvidas. Faz 20 anos que tudo isso aconteceu, e agora o black metal é mais mainstream que nunca.

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Essa associação de longa data — entre Noruega e o black metal — era o que interessava ao fotógrafo da Magnum Jonas Bendiksen, também norueguês. Em sua nova série Singing Norwergian Singers, um trabalho comissionado pela Leica, Bendiksen abordou alguns vocalistas de bandas de black metal e os fotografou urrando diretamente para as lentes. As fotos são desconfortavelmente próximas; narinas abertas; línguas brilhando com saliva; tudo capturado sob a luz fria do flash da câmera.

Liguei para Bendiksen para saber mais sobre sua homenagem à música brutal da Noruega, se o satanismo realmente existe dentro dela, na falta de mulheres na cena e por que a série não pretendia ser um cara a cara do black metal.

Erik Unsgaard do Sarkom. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

VICE: Oi, Jonas. O que te atraiu no tema dos vocalistas do black metal norueguês?
Jonas Bendiksen: Sempre fui fascinado por como o metal extremo norueguês é conhecido ao redor do mundo. Já viajei para vilarejos do mundo todo, de Bangladesh a Venezuela, e alguém sempre vem me dizer "Ah, Noruega, sim!", aí listava esses caras e sabia todas as histórias da cena. Às vezes era a única coisa que a pessoa sabia sobre a Noruega. É um negócio enorme. Aqui na Noruega chamamos o black metal de nossa maior exportação cultural. Em termos de números de vendas e distribuição ao redor do mundo, é algo gigantesco. O black metal não é uma coisa marginal, ele é grande fora da Noruega e nos lugares mais estranhos.

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O black metal aparece na TV na Noruega? É uma coisa que está sempre à vista do público?
Ele vai e volta. Nos anos 90, quando o black metal entrou no radar, ele era uma coisa de choque. Algumas das primeiras bandas, como o Mayhem, eram a coisa mais chocante que você pode imaginar: um cara se matou, outro matou o cara de outra banda, outro foi preso pelo assassinato e igrejas foram incendiadas — tudo isso.

Aleksander Ilievski do Imaginatior e Empty. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

A cena se acalmou desde então?
De certa maneira ela se tornou mainstream. É algo grande comercialmente, há grandes selos. E muita gente acha que isso não é bom, que a filosofia se diluiu. Bom, com o estilo tão difundido eu queria fazer algo que se ligasse a isso. E muitos dos caras que fotografei não são necessariamente black metal puro tradicional; há várias subcategorias. Alguns puristas dizem: "Esse é o jeito certo, o resto é fake". Black metal, death metal, thrash metal — eu queria fotografar a música brutal norueguesa de um jeito brutal.

Esse projeto é tipo uma homenagem às bandas?
Talvez seja, sim. Um tributo à energia desse jeito de fazer música. Tem alguma coisa nesse estilo realmente pesado de música norueguesa que toca corações por todo o mundo, e eu queria fotografar exatamente isso.

Mayhem e Burzum provavelmente são as bandas mais conhecidas. Mas onde esses caras se encaixam na história do black metal norueguês?
Alguns deles são daquela era antiga, mas sim, fotografei gente da nova geração também. De certa maneira, quem é de fora associa o black metal norueguês com esses primeiros caras: Varg Vikernes, aqueles caras do satanismo e que queimaram igrejas. Mas na realidade, a maioria desses caras hoje — mesmo os que eram daquela época — são pais de família e fazem trilha nos finais de semana, sabe, compraram um carro familiar.

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Jimmy "Ofu Khan" Ivan Bergsten do Red Harvest e Waklevoren. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

Então a coisa do satanismo não existe mais?
Existe, mas… definitivamente existe, e alguns desses caras ainda estão nessa trilha [risos], mas outros não estão. Alguns tradicionalistas dizem que se você não tem uma mensagem satânica, você não faz black metal; outros vão dizer que não precisa ter esses elementos, que o black metal é uma coisa completamente diferente.

Você falou com algum desses artistas mais antigos do black metal?
Sim, alguns. Alguns foram difíceis de achar. Eles não querem atenção, sabe. Mas consegui falar com alguns e alguns não quiseram participar do projeto. Mas eu não achava importante que isso fosse um compêndio de todos os grandes vocalistas da história. Eu só queria fotografar pessoas apaixonadas por esse estilo. Eu não estava preocupado em mostrar todas os famosos envolvidos.

O que eles acharam da ideia de serem fotografados?
A reação foi tipo: "Isso parece loucura". Alguns acharam divertido ver fotos de uma maneira ligeiramente diferente, porque a estética da fotografia desse tipo geralmente segue muito uma fórmula. Não posso dizer que todo mundo gostou, mas muitos acharam interessante.

Outra coisa que se destaca é a falta de vocalistas mulheres. As mulheres também são parte dessa cultura?
Há muitas mulheres fãs e entusiastas; bem menos dentro das bandas. Não sei por que, mas tem algumas. É uma cena muito masculina, e acho que tinha algo na masculinidade dela que me intrigava.

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A Magnum geralmente se envolve com fotojornalismo impactante. Como você acha que seu trabalho se encaixa lá?
Você acha todo tipo de coisa na Magnum, gente fazendo todo tipo de experiência. Não sei dizer o que é sério e o que não é. Alguns projetos da Magnum são carregados e sérios, acho, e alguns são mais leves. Essa é uma exploração do nosso fenômeno cultural. Não sei se dá para chamar isso de sério ou leve, ou qualquer coisa. Não me importo com o rótulo que derem. Claro, a Magnum é conhecida pelas fotografias de guerra, mas desde o começo da agência as pessoas vêm explorando diferentes tendências culturais e artísticas, e tentando registrá-las.

Obrigado, Jonas.

@OliverLunn

Singing Norwergian Singers de Jonas Bendiksen está em exposição na Leica Gallery de Mayfair, Londres, até 27 de outubro de 2016.

Veja mais fotos abaixo:

Jonas Nordli do Imaginator. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

Stein Roger Sound do Evig Natt. Noruega, 2016. (Copyright: Jonas Bendiksen / Magnum Photos)

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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