FYI.

This story is over 5 years old.

Sexo

Mergulhando fundo no lado NSFW do LinkedIn

Desde que a “rede social para profissionais” deixou a sua timeline meio Facebook, seus usuários começaram a tentar emplacar virais na esperança de que isso ajude a descolar um emprego.

Um exemplo do tipo de autoajuda que você encontra atualmente no LinkedIn.

Megalomania, chantagem emocional, prostituição, drogas e caras nojentos chamados Bob. Esses são os ingredientes das primeiras duas temporadas de Twin Peaks, ou coisas normais que você encontra no seu feed no LinkedIn.

Visite a maior rede social para profissionais do mundo e você vai notar que algo está mudando. O site não é mais caracterizado por atualizações sérias de CV e pessoas endossando competências de jóquei como "perder peso" e "pastoreamento" no perfil dos amigos. Agora você tem muito mais: mensagens diretas te convidando para se juntar a esquemas de pirâmide "aprovadas pelo Fat Joe"; fotos de pessoas fazendo "boas ações"; gerentes banco de meia idade discutindo peitos, e um fluxo constante de autoajuda, com Salvador Dali, Steve Jobs e Muhammad Ali concedendo gotas de sabedoria que não têm nada a ver com arranjar um emprego.

Publicidade

Alguns usuários estão tentando viralizar seus perfis na esperança de que empregadores em potencial vejam como eles são bons em compartilhar memes, e ofereçam um emprego na sua consultoria atuarial ou na sua funerária. Na verdade, como a gerente de comunicação sênior do LinkedIn Crystal Braswell admite, é a evolução da rede social para algo mais próximo do Facebook e Twitter, o que deu um "impulso pesado" aos membros que tentam gerar virais.

Mesmo não tendo dados estatísticos que comprovem isso, Braswell diz que há uma ligação direta entre usuários postando conteúdo viral e crescimento de carreira. "Já ouvimos falar de membros que postaram conteúdo viral e conseguiram novos empregos e oportunidades", ela diz. "É uma questão de abrir seu fluxo de pensamento para seus colegas."

Mas parece que nem todos os colegas apreciam essa abertura do seu processo de pensamento. Alguns usuários da rede estão expressando sua irritação com a Facebookização do site usando a hashtag #RIPLinkedIn no Twitter, lamentando as "fotos inapropriadas"; os muitos, muitos spams e a "propaganda política" que vêm aparecendo no site.

Ainda assim, Braswell diz que os 430 milhões de usuários do LinkedIn agora "estão mais engajados que nunca". Mas o que exatamente eles acham tão atrativo?

FILOSOFIA DE AUTOAJUDA

Imagine o cenário: você está num festival de música, tomou um ácido, se perdeu dos seus amigos porque está escuro e você está bem louco. Aí você decide subir num barranco e dançar um pouco sozinho mesmo. Você está menos consciente do seu corpo que o normal, então não percebe que está balançando os braços em cima da cabeça e que seu queixo está paralelo com a ponta do seu nariz.

Publicidade

anos depois

Você ouviu dizer que um perfil no LinkedIn vai te ajudar descolar um salário de seis dígitos, então faz sua inscrição. Tudo parece ótimo no começo. Otávio Roberto, do colegial, endossou sua competência de pontualidade; Liliam Almeida, da faculdade, entrou em contato para te dizer que há vagas temporárias na empresa de logística aleatória em que ela trabalha, se você estiver interessado.

Aí você atualiza seu feed. Pânico — do tipo quando você acorda depois da festa de fim de ano da firma e lembra que chamou seu chefe de "coxinha bostolão" umas 15 vezes — consome todo seu sistema nervoso central. Um guru de Relações Públicas chamado Hans postou um vídeo da sua dança naquele festival, junto com a mensagem de autoajuda: "É preciso apenas uma pessoa para criar uma multidão".

"Posso ver uma postagem assim no meio de um dia agitado, e isso é um reset bem-vindo", diz Braswell. "Pode ser inspirador ler coisas de homens e mulheres de sucesso."

Geralmente não me sinto muito inspirado com vídeos de pessoas dançando, então vou passando pelo meu feed no LinkedIn para ver se encontro algo realmente inspirador ou que forneça um reset bem-vindo da sucessão de decepções que é a minha vida.

Alguém postou a história de um bebê — bom, uma foto de banco de imagens de um bebê — dando para a mãe a mais doce de duas maçãs. A postagem visa "melhorar suas capacidades de julgamento como profissional". Óbvio. Outro post sobre cachorros gigantes prestes a se estraçalharem é um conto preventivo sobre sua consciência moral… no escritório! Finalmente, sou recebido por uma imagem do 11º presidente da Índia, APJ Abdul Kalam. Uma citação atribuída a ele diz: "Definição de sucesso: quando sua 'assinatura' vira 'autógrafo'". Ele zomba de mim com seu sorriso escroto.

Publicidade

Nada disso me inspirou. Na verdade, fiquei me sentindo pior. Tenho 27 anos e minha assinatura não é considerada um autógrafo por ninguém na face da Terra.

CHANTAGEM EMOCIONAL

O mundo dos negócios, né? A velha engrenagem. Sobrevivência do mais apto. Trampar. Tudo isso pode ser um negócio pesado. Tão pesado que às vezes nossa mente fica cega diante de todas as planilhas e formulários de despesa, e perdemos de vista as lutas de outros seres humanos.

E que maneira melhor de remediar isso — e bombar o engajamento no seu perfil — que compartilhar postagens estilo Humans of New York com seus contatos do LinkedIn? Uma gerente de RH da Asda, que recentemente postou uma selfie com um idoso com quem ela tomou café por duas horas, sabe muito bem disso. A legenda da foto diz que a conversa deles "foi um lembrete perfeito que entre a correria do dia a dia e do trabalho, tempo é o maior presente que você pode dar a alguém". A postagem dela rendeu quase 200 mil likes e foi elogiada por alguns comentaristas como "a melhor coisa que vi este ano".

Crystal Braswell, do LinkedIn, aprova o post, dizendo: "Não acho que isso é aleatório, apesar de não ressoar com alguém como você, outra pessoa pode ver muita relevância nisso ou se inspirar a dar uma pausa no seu dia agitado".

Mas vamos explorar os fatos: na pior das hipóteses, você seria demitido se sumissem por duas horas para tomar café com um estranho. Na melhor, teria que aguentar uma reunião disciplinária bem chata. Mas quem sou eu para discordar de um post curtido por quatro vezes a população das Ilhas Faroe? Cada vez mais postagens de "boas ações" surgem no site, provavelmente porque as pessoas concatenaram a ideia de que Ser uma Pessoa Legal = Boas Chances de Estar Empregado.

Publicidade

AS CANTADAS

A advogada inglesa Charlotte Proudman, apelidada de "feminazi" pelo Daily Mail, virou manchete recentemente depois de receber uma mensagem de um sócio-sênior de sua firma de advocacia, em que ele chamava a foto de perfil dela de "estonteante". Depois ela revelou que ele era um sexista e afirmou que empresários brancos e ricos agora usam o LinkedIn para cantar mulheres.

Perguntei se isso já tinha acontecido com uma amiga minha. Ela me apresentou Bob, um dos muitos comentaristas regulares do perfil dela. Bob, que ela nunca viu na vida, diz que vai mover "céus e terra" para se encontrar com ela. Outro cara acrescentou um emoji piscando à frase: "Você já trabalhou com empréstimo entre pessoas?"

Não sei se esse tipo de cantada bizarra funciona com alguém, mas definitivamente não funcionou com a minha amiga.

Separadamente, vejo que uma estilista dos meus contatos postou uma selfie sorridente com seu cachorrinho linguarudo. O vestido dela era um tanto decotado. Não sei por que ela resolveu compartilhar isso no LinkedIn, mas os comentaristas do perfil dela não pareceram se importar.

FAKES

Scraping — um processo em que empresas usam detalhes de membros do LinkedIn para criar perfis falsos e vender negócios financeiros duvidosos — está em ascensão no LinkedIn. A empresa já admitiu que isso "mina a integridade e eficácia da rede profissional do LinkedIn, poluindo-a com milhares de perfis falsos".

Publicidade

Isso significa que você pode estar aceitando convites de clones dos seus amigos na rede, ou ser vítima de alguém usando sua imagem para foder outras pessoas.

SEXO E DROGAS

Digite a palavra "escort" no site e você encontra mais de 10 mil resultados. Mesmo não sabendo se todos eles representam mesmo trabalhadores sexuais, só precisa de alguns cliques para que eu acabe num agência de acompanhantes chamada Midlands Maidens, que orgulhosamente cita "Microsoft Office" entre suas competências. O LinkedIn está na internet, então encontrar sexo entre milhões de contas não é lá uma grande surpresa — mas um pouco estranho, considerando que o site proíbe especificamente "perfis ou conteúdo promovendo serviços de acompanhantes ou prostituição".

Outra busca me leva até uma página oferecendo orgulhosamente um suprimento regular de cocaína. Essa provavelmente era um hoax, mas não é segredo que transações de drogas acontecem no LinkedIn, com growers de maconha operando em lugares onde a droga e legal e fazendo propaganda disso para o resto do mundo — o que ainda é confuso em termos de leis de drogas. Será que logo vou poder recomendar pessoas da minha lista de contatos baseado em suas competências de cultivo de maconha?

Braswell contrapõe: "Acho que estamos conseguindo derrubar muito do conteúdo que viola as regras. Vejo nossa equipe trazendo bons resultados nisso. Em último caso, fornecemos ferramentas para filtrar conteúdo que você não queira ver no seu feed. Você pode usar aplicativos de bloqueio de propaganda. Continuando, vamos fornecer mais clareza e educação aos usuários sobre essas ferramentas. O feed vai se tornar mais customizável".

Justo. Depois de tudo, parece que eu não precisava estar vendo nada disso. Tenho escolhas. Posso clicar em "esconder conteúdo" e "deixar de seguir" em todas as pestes que entopem o meu feed, aí clicar em atualizar. Ainda não tenho um emprego, mas pelo menos nunca mais vou ter que ler outra citação da Katharine Hepburn na vida.

@thobbsjourno

Tradução: Marina Schnoor

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.