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Entretenimento

Comandando a Ação

Pond Patrol é uma das novelas protagonizadas por bonecos de guerra mais assistidas da internet (uau!).

Em 2005, Gio Toninelo resolveu destacar um de seus bonecos Falcon para a tarefa de vigilância do tanque que ficava no quintal de sua casa. Motivo: uma das suas tartarugas havia sumido, e isso não deveria se repetir. Acabou que esse segurança de cerca de 30 centímetros de altura deu origem a Pond Patrol, uma das novelas protagonizadas por bonecos de guerra mais assistidas da internet (uau!). Sua saga, que durou dois anos, foi contada semanalmente, todas as quintas, por imagens e texto.

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Terminada a trama, a fascinação pelos bonecos da franquia GI Joe de Gio, um brasileiro que atualmente vive em Denver, continua. Foi por isso que decidiu criar o International GI Joe Fest, que nada mais é do que um festival de curtas de animação stop-motion no qual o ator principal obrigatoriamente deve ser um GI Joe. Quando eu era criança até cheguei a fazer alguns trabalhos parecidos, só que com bonecos de Lego. Com um roteiro já em mente, resolvi procurar o Gio pra perguntar algumas coisas sobre o festival – e sentir se, por acaso, rolaria uma história interracial libidinosa entre os brinquedos de cabeça amarela, Barbies e herois genuinamente norte-americanos.

Vice: É verdade que quando você era criança só tinha um GI Joe que era mandado pra conserto todo Natal e dado de volta pra você como se fosse novo?
Gio Toninelo: É. Eu cresci em Santa Catarina, numa cidade pequena. Meus pais sempre trabalharam muito, mas tendo três crianças, às vezes a grana era curta. Perto do Natal, meu Falcon desaparecia. Às vezes eu nem notava, pois o coitado estava faltando um braço ou perna. Mas ele sempre voltava, pronto para novas aventuras.

Então toda essa sua fascinação por GI Joes hoje é um complexo por esses dias passados?
Absolutamente!

O festival tem crescido muito?
No primeiro ano recebemos 83 filmes. Agora, estamos indo para a quarta edição e, até agora [o prazo final para envio de trabalhos é dia 20 de julho] já atingimos mais de 200 filmes. Eles chegam todas as semanas. Ontem recebemos um muito bacana, contando uma história na qual o Ken – da Barbie – desafia um Falcon para uma corrida de ski. O final é de morrer de rir.

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Tem algum tema que não pode ser abordado, como sexo, drogas ou coisas do tipo? Já teve que censurar algum trabalho?
Não. Se o filme for bom, a gente irá mostrá-lo. Não há restrições, e essa é a maravilha. O céu é o limite, mesmo que esteja puxando o envelope.

Puxando o envelope?
"Pushing the envelope". Quer dizer cenas de sexo, uso de drogas, xingamentos… Tem até uma cena de estupro entre GI Joes na animação Rik’s Battle Shock. Como se diz nos Estados Unidos, “it’s a mixed bag”. Temos de tudo, incluindo adaptações de um livro do Goethe, um Cobra invadindo a Estrela da Morte – do Guerra nas Estrelas – e até um Falcon pretendendo ser Muhammad Ali.

Aliás, quando assisti a um dos trabalhos do festival pela primeira vez lembrei muito do Frango Robô, que passava na Cartoon Network. Sendo que esse programa começou em 2005, e o seu festival em 2007, você vê muita influência dele sobre o seu concurso, ou pelo menos nos filmes que você recebe?
Com certeza, afinal “boys will always be boys”. Sempre recebemos alguns curtas com ‘humor de banheiro’, uma característica do Robot Chicken.

Humor de banheiro…
Toilet humor, expressão americana.

Ah tá. Tem muito brasileiro participando?
Só um, no primeiro ano.

Trailer de WAR, dirigido por Alex Queiroz de Souza

E mulheres, têm? Ou são só filmes feitos por homens?
A cada ano o número de mulheres participando está aumentando, mas os homens ainda são a maioria. Só que às vezes as mulheres são mais criativas.

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Já pensou em convidar algum cineasta famoso pra dirigir uma animação pro seu festival?
Sempre, principalmente o George Romero.

Quanto custa, em média, uma produção dessas?
Pastrami on Rye custou US$ 50. Bloody Revenge 2, US$ 500. E tem o vídeo pra banda francesa Zombie Zombie, que já tinha sido feito – mas enviado ao festival no ano passado – que custou US$ 2 mil. Depende muito…

Quanto tempo demorou para Pastrami on Rye ficar pronto?
Uns dois meses. Não só de filmagem, isso inclui a construção do cenário e a gravação das vozes. O roteiro foi desenvolvido por mim e meu querido amigo, o escritor Anthony Ilacqua. O resto foi tudo eu.

Tem algum projeto de longa metragem com animação de GI Joes?
Já está sendo filmado. Foi produzido no estado do Texas. É um filme da Guerra do Vietnã. Ainda não fechei a parte financeira e legal, então não posso abrir a boca demais.

OK. Então me diga o que você achou do filme GI Joe – A Origem de Cobra?
Quando Marlon Waynes [Todo Mundo em Pânico, Todo Mundo em Pânico 2, As Branquelas… tá, vai, e Réquiem Para Um Sonho] é a melhor coisa de um filme, deve ter algo errado. E por que o Snake Eyes tem lábios?

Vi que alguns críticos chegaram a sugerir que se assistisse ao seu festival em vez da versão hollywoodiana. O que achou disso?
Muito bacana, e concordo: se quiser matar saudades desses brinquedos, nosso festival é o lugar certo.

O que você achou da linha de bonecos GI Joe baseados no filme?
Não gosto de falar mal da Hasbro [fabricante desses brinquedos], mas acho que faltou empenho, sem falar no preço… Acho que comprei só uns dez bonecos.

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Eu ainda não assisti, mas pessoalmente acredito que a Sienna Miller seja mais atraente em carne osso do que em plástico.
[Risos] Algumas versões em plástico dela não desapontam.

Por falar nisso, sua mulher já chegou a ter ciúmes dos brinquedos? Seja pelo fato de eles roubarem algum tempo que você deveria passar com ela ou mesmo porque “algumas versões em plástico” de beldades “não desapontam”?
[Risos] Não, não… Ela me ajuda também. Tenho o apoio total de minha querida esposa, desde que eu tire o lixo pra fora nas quintas-feiras.

E filhos, você tem? Deixa ele brincar com seus GI Joes?
Eu casei com a condição de não ter filhos, mas tenho uma caixa especial no estúdio para crianças de amigos e sobrinhos brincarem.

Sério que teve essa condição? Aposto que é só pra você não ter que dividir seus bonequinhos com seu filho.
[Risos] Não quero mudar meu estilo de vida. Do jeito que está, está maravilhoso.

Quantos bonecos você tem agora?
Estou prestes a perder as contas. Tenho mais de 400 Falcons. Se for contar os Comandos em Ação… Credo, não quero nem saber.

E onde guarda todos eles?
No meu estúdio e no porão.

Gio, no estúdio, preparando um dos atores de Pastrami on Rye.

Não tem nada que você ame mais que eles, né?
Ah… Tartarugas. Tenho umas dez tartarugas que vivem no meu jardim.

Qual foi o maior preço que você já pagou num boneco GI Joe?
Se eu te contar vou acabar tendo que dar algumas explicações aqui em casa. Então não vou falar o preço, mas foi em um protótipo de 1964 [ano de lançamento dos bonecos maiores da franquia, de cerca de 30 centímetros, que no Brasil foram batizados de Falcon].

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Tem um cara no Mercado Livre vendendo uma coleção de Falcons porque ele “chegou no limite”. Você acha que um dia vai enjoar disso tudo?
Com quase 40 anos de idade, acho que já está tarde para eu desistir da coleção. Só vou parar quando acabar o espaço.

Que pena, porque ele anunciou por R$ 29.000.
Putz, coitado. Boa sorte para ele, então…

Situação: se sua esposa te desse um ultimato, quem você escolheria? Ela ou os bonecos?
Putz… Bom, acho que ela e uns bons soldados.

Você ainda brinca com eles?
Tu não achas que eu já brinco demais?

Fotos: Cortesia