​Tudo que sabemos sobre a operação que prendeu 10 pessoas suspeitas de terrorismo no Brasil
Foto: Felipe Larozza

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​Tudo que sabemos sobre a operação que prendeu 10 pessoas suspeitas de terrorismo no Brasil

A Operação Hashtag, deflagrada nessa quinta (21), é o primeiro caso que será aplicado a Lei Antiterrorismo brasileira.

Essa reportagem foi atualizada com a chegada de novas informações.

Foi deflagrada nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal a Operação Hashtag, criada para investigar movimentações terroristas no Brasil. Um grupo, formando por integrantes brasileiros, foi desarticulado após um dos integrantes negociar um AK-47 com um comerciante ilegal do Paraguai. O grupo também é suspeito por ter ligação com o Estado Islâmico (mais abaixo). A operação abrangeu 10 estados, 15 dias antes das Olimpíadas no Rio de Janeiro, e é o primeiro caso que a Lei Antiterrorismo será aplicada.

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Durante a coletiva de imprensa, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, se negou a conceder mais informações sobre a operação e nem se arma foi adquirida. Ele declarou que o monitoramento do grupo foi feito pelas redes sociais, inclusive pelo Whatsapp e Telegram. A declaração causou certa estranheza, já que o Brasil enfrentou o terceiro bloqueio judicial só esse ano do uso do aplicativo justamente pela empresa não compartilhar informações de usuários para a polícia ou o Judiciário. Questionado durante a coletiva, Moraes disse não poder dar mais detalhes para não atrapalhar as investigações.

Foram expedidos mais de 10 mandados de prisão pela 14ª Vara Federal do Paraná - o líder do grupo mora em Curitiba. Os mandados são de 30 dias, prazo previsto em lei, mas o próprio ministro afirmou que os envolvidos ficarão encarcerados por 60 dias. Além dos mandados para prisão temporária de dez pessoas, a Justiça Federal em Curitiba emitiu dois mandados de condução coercitiva e 19 de busca e apreensão no Amazonas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Os que não foram presos estão "rastreados", declarou o ministro.

Na mesma manhã, a Secretaria de Segurança Público do Amazonas também confirmou a prisão de um dos suspeitos da Operação Hashtag em Manaus. Também não revelou nenhum detalhe sobre o suspeito detido. Quatro pessoas em diferentes cidades de São Paulo também foram presos. Os suspeitos estavam localizados na Zona Leste da capital, em Campinas, em Guarulhos e em Amparo. Na cidade de Morro Redondo (RS), outro suspeito de 26 anos foi preso.

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Em Paraíba, na região da Grande João Pessoa, outro mandado de prisão foi cumprido pela Polícia Federal e o suspeito foi preso na casa dos pais e mandado para Brasília.

Segundo o ministro da Defesa Raul Jungmann, a divulgação da Operação Hashtag foi feita contra a vontade do Governo Federal e a prisão dos suspeitos só foi divulgada porque a esposa de um deles divulgou o caso no Facebook. O próprio ministro declarou que a organização do grupo é "de um amadorismo, de uma porralouquice".

O nome dos supostos membros do grupo Defensores da Sharia foi divulgado hoje pela Veja. São 14 nomes: Alisson Luan de Oliveira, Antonio Andrade dos Santos Junior, Daniel Freitas Baltazar, Hortencio Yoshitake, Israel Pedra Mesquita, Leandro França de Oliveira, Leonid El Kadre de Melo, Levi Ribeiro Fernandes de Jesus, Marco Mario Duarte, Matheus Barbosa e Silva, Mohamad Mounir Zalaria, Oziris Moris Lundi dos Santos Azevedo, Valdir Pereira da Rocha e Vitor Barbosa Magalhães.

Mais cedo, Larissa Rogrigues, esposa de Vitor Barbosa Magalhães escreveu um post no Facebook avisando a prisão do namorado feita hoje cedo pela Polícia Federal. "Os únicos grupos que ele tinha no WhatsApp sobre o islã eram os de árabe, porque ele dá aula pelo youtube e responde as dúvidas por mensagem", diz Larissa.

Vitor trabalha na funilaria do seu pai para sustentar os dois filhos mora em Guarulhos, se converteu ao islamismo em 2010 e em 2012 foi chamado para aprender árabe e os preceitos da religião. Ele foi citado em uma reportagem da Veja, apontando-o como simpatizante do ISIS. A esposa de Vitor nega a acusação.

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Na coletiva, Moraes informou que o grupo jurou lealdade ao Estado Islâmico, mas, trata-se de um núcleo amador que planejava, além de ações com fuzis, "treinar artes marciais". O ministro disse que, fora o batismo, não houve mais nenhum contato com o EI, apenas o desejo do líder de poder encontrar com os líderes da célula terrorista.

Segundo ele, nas conversas monitoradas, os integrantes teciam comentários de intolerância racial e religiosa, além de comemorarem os atentados na França. Os envolvidos são brasileiros e houve uma menção de um menor de idade. Os contatos eram estritamente virtuais, exceto um encontro ao vivo entre dois envolvidos.

No mês passado, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) anunciou que detectou a abertura de uma conta no Telegram para troca de informações sobre o EI. Até então, não houve nenhuma ameaça efetiva contra o país.

Nesse mês, o físico Adlène Hicheur, professor da UFRJ, foi deportado para a França por conta de uma condenação em 2009 de terrorismo. Hicheur, de origem argelina, foi condenado por ter trocado mensagens com um representante da Al Qaeda. A Polícia Federal monitorava o físico desde sua chegada no país, em 2013.

Nas redes sociais brasileiras a ação gerou muitos piadas dadas a inverossimilhança das declarações do ministro e o suposto despreparo do grupo preso.

Na cidade de Varginha (MG), um mandado de condução coercitiva foi cumprido na parte da tarde. Um homem foi até a delegacia para prestar informações e foi liberado. Não foi revelada nenhuma informação adicional sobre ele.

O juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal do Paraná explicou em uma coletiva o motivo que autorizou a prisão temporária do grupo autodenominado Defensores da Sharia. De acordo com Josegrei, existem elementos suficientes para dizer que os envolvidos "cometeram o crime de integrar ou promover organização terrorista ou cometeram atos preparatórios para cometer atos terroristas". O juiz disse que o grupo é composto por idades variadas, na faixa dos 20 aos 40 anos de idade.

Josegrei ressaltou que o homem apontado como liderança do Defensores da Sharia não é um líder proeminente, contrariando a fala do ministro da Justiça. As interações do grupo eram feitas pelas redes sociais, principalmente pelo Facebook. Alguns membros disseram que juraram lealdade ao Estado Islâmico, porém, até o momento, não há indícios de comunicação direta com o grupo terrorista. Nas trocas de mensagens, não foi apontado nenhum alvo específico, mas houve conversas no sentindo que um ataque durante as Olimpíadas seria uma oportunidade para agir e demonstrar apoio ao EI.

ATUALIZAÇÃO (21/07 às 19:14): O suposto líder do grupo foi identificado. Levi Ribeiro Fernandes de Jesus tem 21 anos, é natural de Guarulhos (SP) e mora na região metropolitana de Curitiba.

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