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Soldados gregos relembram os piores trotes que passaram

Além da comida horrível e de ter que perder um ano da sua vida, os gregos também têm que aguentar vários rituais pensados para humilhar novos recrutas e entreter os mais velhos.
Todas as fotos por Alexandros Avramidis.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Grécia.

O serviço militar obrigatório foi introduzido na Grécia em 1909, depois de um golpe que colocou o primeiro-ministro Eleftherios Venizelos no poder. Desde então, a duração do serviço foi mudando para refletir a situação política do país. Em 2009, ficou decidido que o serviço militar obrigatório na Grécia duraria de nove a 12 meses para homens entre 19 e 45 anos, o que ainda está em vigor.

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Todas as fotos por Alexandros Avramidis, via.

Além da comida horrível e de ter que perder um ano da sua vida fazendo nada de útil, os gregos também têm que aguentar vários rituais pensados para humilhar novos recrutas e entreter os mais velhos. Alguns amigos me contaram suas histórias sobre "os bons tempos no exército".

A Náusea

"Escolhi servir nas Forças Especiais, então eu estava preparado para o trote. Ouvi incontáveis histórias sobre ter que correr carregando todo seu armamento, ter que se arrastar pela lama e banhos com tempo contado, mas nada poderia me preparar para a cerimônia de iniciação que os recrutas mais antigos batizaram de 'A Náusea'.

"Era minha primeira semana de serviço e tínhamos acabado de comer, aí disseram que a unidade toda tinha que se exercitar até alguém vomitar. E assim fizemos — corremos, pulamos, escalamos, fizemos flexões e abdominais no sol a pino, até que um cara se ajoelhou e começou a lançar jatos de um líquido verde com arroz no chão. Ainda não sei como não fiz o mesmo depois de ver o que estava saindo da boca dele."

— Thodoris, 30 anos

Faxina de Primavera

"Minha unidade estava no serviço de cozinha quando começou a chover. Eu estava literalmente descascando batatas quando um oficial entrou e nos entregou um monte de jornais e produtos de limpeza. Tínhamos que limpar as janelas do prédio enquanto estava chovendo. O esforço era inútil porque as janelas ficavam imediatamente molhadas de novo."

— Akis, 24 anos

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Foto: Alexandros Avramidis.

A Jukebox

"Estávamos em dez novatos e tínhamos acabado de entrar no nosso dormitório depois do treinamento. Um grupo de recrutas mais velhos entrou e nos mandou ficar em posição de sentido por mais 15 minutos, acho que só por diversão. Aí, o recruta mais velho que estava no comando perguntou alto: 'Quem curte jukeboxes?' Um cara magrelo se atreveu a dizer que sim, aí eles o pegaram e trancaram num baú de roupas."

"Por uma hora, eles ficaram enfiando moedas num vão do baú e o cara tinha que cantar uma música diferente toda vez que eles faziam isso. Isso aconteceu várias vezes naquele ano, mas consegui me safar. Sou muito alto, então eles não iam conseguir me enfiar num baú."

— Christos, 39 anos

As Baionetas

"Os recrutas mais velhos faziam a gente ficar em pé, com os braços abertos, segurando uma prateleira com coisas em cima. Eles colocavam uma baioneta em pé em baixo da sua mão, e quem deixava os braços caírem acabava cortado."

— Anônimo

Bacalhau

"Eu era parte dos Evzones, ou a Guarda Presidencial, uma unidade de elite que deve guardar o Túmulo do Soldado Desconhecido, a mansão presidencial e o portão do campo de Evzones em Atenas. Os evzones devem ficar completamente parados e atentos por longos intervalos de tempo, então resistência e autocontrole são uma grande parte do treinamento e dos trotes do grupo."

"Eu tinha que ficar imóvel e atento por 30 minutos enquanto três recrutas mais velhos tentavam me provocar. Isso incluía tapas na cara e no pescoço — o que é conhecido como 'bacalhau' — e cobrir minha cara e cabelo com espuma de barbear até eu parecer um Smurf."

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"O trote foi intenso, mas quando me tornei um recruta mais velho, eu podia fazer qualquer coisa que quisesse — por exemplo, os recrutas mais novos tinham que virar estátua quando eu gritava 'Congelar!'"

– Dionysus, 23 anos

Foto: Alexandros Avramidis.

A Escova de Dentes

"Toda vez que um general ou alguém de 'alto escalão' inspecionava nosso dormitório, ele achava manchas e sujeira nas privadas e chuveiros. E toda vez tínhamos que limpar o banheiro todo com nossas escovas de dente. Esse é um dos trotes mais comuns e nojentos do exército."

— Nikos, 25 anos

Doido do Exército

"Tínhamos acabado de terminar o relatório da noite, então o oficial no comando — um notório cuzão — mandou todo mundo para o dormitório. Assim que deitamos, ele nos chamou de novo, porque supostamente estávamos fazendo muito barulho. Ele fez isso várias vezes, e tínhamos que entrar no escritório dele com o uniforme completo — arma, capacete, coturno, tudo — como se estivéssemos indo para a guerra. Aí ele nos fez marchar por uma hora. Ele só nos deixou dormir depois da 1 da manhã.

"Só que alguns de nós tinham que ficar de guarda na torre de vigia depois, ou tinham serviço bem cedo no outro dia, então basicamente ninguém dormiu. Ele era um escroto, a definição de doido do exército."

— Tasos, 32 anos

A Camareira

"Tínhamos inspeção nos dormitórios logo de manhã. Os oficiais verificam se está tudo limpo e organizado. Eles são particularmente severos com o jeito como você arruma a cama — os lençóis e cobertas têm que ser dobrados como eles fazem nos hotéis. Uma manhã consegui fazer tudo direito, mas, mesmo assim, o oficial arrancou os lençóis da minha cama, dizendo que não estava bom o suficiente, e me fez arrumar de novo. E de novo. E de novo. Tive que fazer a cama cinco ou seis vezes até que ele ficasse satisfeito, simplesmente porque ele gostou de zoar comigo."

— Akis, 24 anos

Tradução do inglês por Marina Schnoor

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