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A ironia trágica dessa defensora dos direitos LGBT ser vítima de um terrível crime de ódio não se perdeu na comunidade ativista turca. Na última quinta-feira (18), uma coalizão de grupos LGBT realizou uma entrevista coletiva pedindo para o parlamento turco fazer mais pelos direitos dos transgêneros. Numa declaração, os ativistas exigiram: "justiça para todas as vidas perdidas na luta por ser mulher, trans ou gay".Na noite de 21 de agosto, centenas de manifestantes repetiram a mesma exigência. Mais de 200 pessoas, segundo a Al Jazira, se reuniram para uma marcha pacífica na Avenida Istiklal em Istambul. Elas levavam cartazes com os dizeres: "Justiça para Hande; justiça para todos". Enquanto isso, a hashtag #HandeKadereSesVer ( "dê voz a Hande Kader") entrou nos trend topics do Twitter.LEIA: "Travesti, prostituta e acadêmica: Amara Moira lança livro sobre trabalho sexual emCampinas"
Violência contra trabalhadores sexuais, mulheres e pessoas LGBT como Kader, infelizmente, não é algo incomum na Turquia. Mês passado, o refugiado sírio gay Muhammed Wisam Sankari foi estuprado e assassinado em Istambul. Segundo o Transgender Europe, há mais assassinatos de transgêneros na Turquia que em qualquer outro lugar da Europa, com 43 mortes entre 2008 e abril de 2016, ainda que muitas outras mortes não cheguem sequer a ser registradas.She was RAPED, BEATEN and BURNT TO DEATH, why you may ask, because she was transgender — Irmak (@irmakbostan)17 de agosto de 2016
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Hun também aponta o Artigo 40 do código civil turco, que exige que pessoas trans sejam esterilizadas como parte obrigatória da política de mudança de gênero. "Isso é uma violação dos direitos humanos básicos", diz a advogada. Além disso, o processo para reconhecimento legal do novo gênero pode levar de cinco a seis anos.Enquanto isso, grupos islâmicos radicais destilam mais ódio contra grupos LGBT. "Ano passado, depois da Parada Gay, grupos islâmicos publicaram uma declaração horrível encorajando o assassinato das pessoas LGBT."De acordo com Hun, a violência que as mulheres trans turcas enfrentam frequentemente as empurra para o trabalho sexual. "É quase compulsório", explica Hun. "[Trabalhadoras sexuais trans] não têm educação então não conseguem arrumar trabalho, e a transfobia dificulta ainda mais conseguir um emprego para elas." Segundo as estimativas de Hun, cerca de 60% das mulheres trans na Turquia estão envolvidas com trabalho sexual.A solução? "Precisamos de uma política que aborde diretamente os crimes de ódio contra os trans", argumenta Hun.Tradução: Marina Schnoor.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.LEIA: "Como países de maioria muçulmana estão lidando com o HIV"