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Como Estas Canadenses Estão Enfrentando um PUA que Filmava Mulheres Secretamente

Os vídeos deviam ensinar como ser um "daygamer", um homem que aborda mulheres na rua durante o dia.

Screenshot do canal no YouTube Lukeutophia. Foto cortesia de Rosella Chibambo.

Um grupo de mulheres de Ottawa está tentando conscientizar outras pessoas sobre um homem que vem filmando secretamente abordagens de rua com mulheres desavisadas. O homem pretendia ensinar outros a como conversar com mulheres e pedia que outros homens compartilhassem suas histórias com a hashtag #corneredinottawa (algo como "encurralada em Ottawa").

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O suposto pick-up artist (ou PUA) Luke Horward é considerado mais um assediador de rua por muitas mulheres em Ottawa, já que ele filmava e postava interações com elas em seu canal no YouTube, Lukeutopia. Os vídeos deviam ensinar como ser um "daygamer", um homem que aborda mulheres na rua durante o dia, em vez de à noite num clube ou bar. (Depois da cobertura recente da imprensa sobre o caso, os vídeos foram tirados do site.)

Até o momento, a polícia de Ottawa diz que não considera filmar pessoas em público algo necessariamente ilegal, apesar de parte desse comportamento poder ser classificado como assédio. Algumas mulheres já prestaram queixa. Apesar de Howard ter dito que não considera suas ações ameaçadoras, muitas mulheres resolveram se pronunciar publicamente sobre o "trabalho" dele.

O grupo de mulheres que se formou nas redes sociais decidiu chamar atenção para o que Howard estava fazendo. No domingo passado, dia 19 de julho, elas se juntaram para discutir as possíveis ações contra ele, criando uma hashtag e uma página no Tumblr para compartilhar suas histórias.

A VICE falou com Rosella Chibambo, que faz parte do grupo, sobre a decisão de falar sobre o assunto e qual é o verdadeiro problema com os PUAs.

"As mulheres já estavam alertando umas às outras em Ottawa há meses, tipo: 'Cuidado com aquele cara!'.", Chibambo contou à VICE. "As pessoas têm vergonha de falar sobre coisas assim: você recebe muito ódio, haters dizendo que você é sensível demais ou que quer proibir que homens conversem com mulheres."

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A página no Tumblr do grupo é dedicada a compartilhar histórias de encontros com Howard.

Uma colaboradora anônima da página alega que ele bloqueou seu caminho e a agarrou mais de uma vez, e que ela acabou correndo até o outro lado da rua para evitá-lo. Ela escreveu que achava esses incidentes perturbadores, especialmente pelo fato de ele gravar e postar os encontros na internet.

Outra postagem anônima informa que, em mais de uma ocasião, Howard mandou uma mulher se foder quando ela pediu para ser deixada em paz.

Numa declaração em seu blog, Lukeutopia, Howard disse: "Se alguma mulher já se sentiu ameaçada e desconfortável na minha presença, então peço minhas sinceras desculpas – essa nunca foi minha intenção".

"A rua é muito diferente de ser 'encurralada' num bar ou clube", ele continuou. "As mulheres estão livres para ir embora a qualquer momento ou simplesmente não se envolver. Isso é o direito delas. O mesmo direito que você tem se um mendigo pede dinheiro ou se uma pessoa de uma ONG tenta abordar você. Você pode dizer 'NÃO!'… este ainda é um país livre, e sou grato por isso."

Chibambo não acredita inteiramente na desculpa.

"Acho pelo fato de ele não perceber que as mulheres se sentem intimidadas com esse comportamento muito questionável", ela frisou. "Ele sabe que esse comportamento é inapropriado."

Numa entrevista para a CBC, Howard afirmou que o propósito dos vídeos era ajudar outros homens a superarem a ansiedade e o medo de falar com mulheres.

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"Não sei se isso é antiético, porque meu objetivo sempre foi mostrar para os caras que não é assustador falar com mulheres à luz do dia. Elas não vão arrancar sua cabeça", ele comentou. "Noventa e nove por cento das mulheres gostam disso.

"Eu não queria contratar atrizes, eu queria que isso fosse cru e real."

Chibambo questiona as afirmações de Howard.

"Ficou claro que isso foi muito mais longe que apenas algumas pessoas sendo assediadas na rua", ela criticou. "Os vídeos são bastante perturbadores: ele assedia mulheres, as encurrala nas ruas de Ottawa e tenta exigir o telefone delas.

"Alguns dos títulos dos vídeos são sexistas e racistas."

Entre os títulos na screenshot do site de Howard no YouTube, quando os vídeos ainda estavam disponíveis, incluíam-se "Ottawa Day Game Number Close A Colombian Girl", "Daygame Ottawa Number Close a Hot Jamaican Girl" e "Ottawa Daygame Number Close Savannah with a BF".

Pick-up artists não são algo novo no Canadá. Eles já viraram manchete em Vancouver e Montreal.

Roosh V. Foto via Facebook.

Outro PUA está gerando polêmica atualmente no país. Roosh Valizadeh (também conhecido como Roosh V) é um norte-americano que planeja visitar Toronto e Montreal para dar palestras sobre como tratar mulheres. Já há uma petição circulando para impedir que ele entre no país.

Segundo a petição, Roosh é o criador e administrador do site Return of Kings, que pretende "inaugurar o retorno do homem masculino a um mundo onde a masculinidade é cada vez mais punida e envergonhada com o objetivo de se criar uma sociedade andrógina e politicamente correta que permita que as mulheres afirmem superioridade e controle sobre os homens".

"Uma das similaridades entre todos os PUAs é que eles atacam as inseguranças das mulheres e as desumanizam", apontou Chibambo. "Eles não admitem que mulheres sejam seres humanos, que elas têm o direito de falar, fazer e ir aonde quiserem sem serem intimidadas. Eles se baseiam na ideia de que as mulheres são presas."

Chibambo espera que mulheres continuem usando a hashtag e que essa questão ganhe mais atenção. Ela quer que isso seja "um mecanismo para que as mulheres de Ottawa possam compartilhar suas histórias, para que elas saibam que não estão sozinhas nessa experiência e que isso não é um comportamento apropriado. Eles não têm o direito de fazer isso".

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Tradução: Marina Schnoor