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A Guia Espiritual de Joan Rivers Combate o Crime com Vodu em Nova Orleans

Joan Rivers preferia médiuns que resolviam de verdade as paradas.

Fotos por Michael Winters

Sallie Ann Glassman não é a última sacerdotisa vodu de Nova Orleans, mas com certeza é parte de uma raça em extinção. Há quase 40 anos, ela vem conjurando espíritos antigos, ofício aprendido por ela no Haiti para proteger sua comunidade e livrar seu bairro de espectros maus e traficantes de crack. Ela não é mais uma dessas videntes de televisão com um baralho de tarô e uma máquina de cartão de crédito. Sallie Ann sabe o que está fazendo. Ela chegou a espantar um demônio enraivecido da casa de Joan Rivers nos anos 90, ajudando-a durante um dos períodos mais tumultuados de sua vida e se estabelecendo como a guia espiritual pessoal da falecida comediante.

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Depois de um verão sangrento, a sacerdotisa vodu está novamente chamando poderes superiores para limpar seu bairro e trazer o equilíbrio de volta para o seu lar. Glassman falou com a gente sobre seu relacionamento de longa data com Rivers e sobre os sustos em barões da droga e policiais corruptos de sua comunidade.

VICE: Oi, Sallie Ann! Por que você chamou especificamente o espírito Ogou para essa cerimônia?
Sallie Ann Glassman: Chamei Ogou Achade, porque ele é um dos espíritos guerreiros mais impetuosos. Ele era o espírito que governava meu papai no Haiti; quando ele morreu, eu herdei esse espírito como um dos meus espíritos-guia. Ele é meio mágico, é um protetor da família e da comunidade. Ele ama o fogo, e fogo é algo que funciona bem quando você está tentando lutar contra o crime. A melhor coisa sobre o fogo é que isso transforma coisas materiais em espirituais ou as manda para o reino espiritual, e o vodu justamente faz a transferência do visível para o invisível e vice-versa.

E essa não é a primeira vez que você chama Ogou, certo?
Sim. Nos anos 90, Bywater era considerado um dos bairros mais violentos do país, então tive de chamar Ogou nessa época.

E houve uma mudança perceptível no crime daquela vez?
A criminalidade caiu totalmente e a polícia ficou com parte do crédito, mas nós sabíamos que era o poder do vodu. Isso aproximou a comunidade de uma maneira diferente de antes. Acho que, como os vizinhos fizeram a cerimônia juntos, isso uniu a comunidade – e bem na cara do criminoso que estava intimidando todo mundo até aquele momento.

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Era um cara específico?
Sim. Ele tinha uma gangue e a polícia também estava envolvida. E sabíamos que a polícia estava envolvida, por isso sentimos que precisávamos recorrer a poderes superiores. Não podíamos negociar em termos cotidianos.

O que aconteceu depois que você realizou a cerimônia?
Bom, no dia seguinte, o traficante veio até a porta da minha casa implorar por perdão, e eu disse: “Não posso te ajudar. Já chamei Ogou. Agora o assunto é com ele. Ele responde apenas à sua própria autoridade moral. Não posso dizer a ele o que fazer”.

E o que aconteceu com o traficante?
Ele foi preso quase que imediatamente e morreu de Aids na cadeia alguns anos depois.

E os policiais corruptos?
Os policiais envolvidos foram pegos num curto período entre a cerimônia e as prisões.

Tipo umas duas semanas?
Algo assim. Eles pegaram os policiais com 900 quilos de crack num galpão de Bywater.

Então poderíamos dizer que o crime caiu porque 900 quilos de crack foram tirados das ruas, não?
Sim. Mas, para mim e para quem estava na cerimônia, fomos nós que colocamos em movimento as energias que encontraram seus resultados naturais, equilibrando e limpando nosso bairro.

E por que você decidiu que precisava chamar Ogou novamente?
É algo de uma magnitude completamente diferente, com esses garotos espancando pessoas nas ruas por diversão e outras coisas assim. Temos um problema. Então fomos primeiro aos ancestrais, porque eles nos amam; eles são muito ligados a nós, têm compaixão por nós e sabem de onde viemos. Eles têm esperança em todos nós, assim como temos esperança em nós mesmos.

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Podemos falar sobre sua relação com Joan Rivers?
Conheci Joan 22 anos atrás, quando ela sentiu uma presença demoníaca e um fantasma no apartamento para onde ela estava tentando se mudar. Edgar (Rosenberg, o marido dela) tinha se matado, e ela estava tentando sair de Los Angeles e começar de novo. Ela tinha sido banida do programa do Johnny Carson e tinha gastado todo seu dinheiro naquele apartamento em Nova York, um triplex sensacional no topo do prédio.

Foto cortesia de Sallie Ann Glassman. 

E ela não conseguia se mudar por causa do fantasma?
O fantasma ainda está lá, mas ele nunca foi o problema e nunca vai ser. O fantasma é até bastante simpático, e a Joan não se importava com a presença dele, mas havia alguma coisa profundamente demoníaca no lugar. Era um dos lugares mais assustadores em que já estive. A Melissa não queria por os pés lá dentro.

E o que estava acontecendo lá?
Havia um porão e uma porta que levava até abaixo da rua. Ali costumava ser uma passagem subterrânea, mas o túnel tinha sido completamente cimentado. Um vento uivante passava por ali e um líquido preto escorria por baixo disso, mas só havia cimento ali. Era muito assustador. E muitos suicídios tinham acontecido no prédio. O porteiro estava aterrorizado por estar ali. Ele descreveu todo tipo de evento, eventos tipo poltergeist.

No passado, um superintendente morava ali no porão, e eu acho que ele era psicótico. Ele tinha sido um caçador e, em vez de pendurar cabeças de animais, ele pendurava pernas de veado, saindo bem daquela parede. Alguma coisa naquilo era muito perturbador. A energia era muito estranha e completamente assustadora.

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Como a Joan entrou em contato com você?
Eles tinham levado um cientista metafísico até lá. Ele tinha, tipo, um medidor de presença demoníaca, e o medidor tinha tocado loucamente ali. O cientista era amigo de um amigo meu, e eles sugeriram que eu viesse e limpasse a casa dela, porque sabiam que eu sabia fazer isso.

O que aconteceu quando você chegou na casa dela?
Ela tinha mandado a limousine dela me buscar. O motorista me contou que a Joan estava com muito medo de me encontrar – sabe, essa sacerdotisa vodu vinda de Nova Orleans –, e eu também estava muito intimidada de encontrá-la.

Quando desci do carro, lá estava ela, de salto alto, então estávamos exatamente olho no olho. Ela deitou a cabeça no meu ombro e começou a chorar. “Você pode me ajudar?”, ela perguntou. E ficamos amigas imediatamente depois disso.

E como foi a cerimônia?
Em certo momento, estávamos no lobby de entrada e a Joan teve que sair para pegar alguma coisa. Ela estava segurando um cálice e eu estava segurando uma espada. Eu estava usando uma túnica preta até o chão. Eu estava gritando com toda força, e a espada se levantou bem quando os outros inquilinos do prédio saíram pelas portas deles. Eles olharam para mim e foi, tipo, “Quem é você? O que você está fazendo?”.

E, antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, a Joan desceu pelas escadas – os sapatos fazendo clique, clique, clique e o cálice na mão – e afirmou: “Estou de saco cheio dessa merda e vou fazer alguma coisa sobre isso. Quem quiser que a gente entre em seu apartamento, é só falar, mas ninguém vai nos impedir!” E várias pessoas disseram: “Sim. Venham ao nosso apartamento, por favor”.

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Quanto tempo levou a cerimônia?
Passamos uns três dias juntas trabalhando nisso.

Em vários momentos, ela te chamou de o guia espiritual dela. Então suponho que o relacionamento de vocês continuou depois dessa cerimônia inicial.
Sim. Ela fez questão de manter o relacionamento vivo. Ela me ligava ou vinha a convenções, e eu ficava do lado dela, fazia um amuleto gris-gris de presente ou simplesmente a apoiava. Outra coisa é que nunca cobrei nada pelos meus serviços, provavelmente sou a única pessoa na vida da Joan que nunca cobrou nada dela.

Quando foi a última vez que vocês se falaram?
Estive na casa dela três semanas antes de ela morrer.

Você sabia que era a última vez que ia vê-la?
Eu sabia, porque, quando descobri que ela estava em coma, tentei mandar energia e luz de cura, e consegui ouvir ela dizer claramente: “Foda-se. Não vou ficar lutando com vida como uma inválida babona. Tenho 81 anos. Vou embora daqui!”

Obrigado, Sallie Ann!

Nota: Mesmo que as afirmações de Glassman devam ser consideradas com certo ceticismo, elas frequentemente correspondem a eventos reais. No entanto, a história do traficante que morreu de AIDS na cadeia não pode ser confirmada.

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Tradução: Marina Schnoor