O MC PP da VS leva o melhor do rap para o funk paulistano
Foto: Weslei Barba/VICE

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O MC PP da VS leva o melhor do rap para o funk paulistano

Cria da GR6, maior produtora do gênero em SP, o artista mistura Racionais com MC Daleste e, por conta da caneta e do bigode, já ganhou o apelido de 'Mano Brown do Funk'.

Quem não acompanha com lupa o mundo do funk paulistano pode se perder nos nomes, sons, popôs e cornetas mil que permeiam o gênero musical mais chavoso das terras do Piratininga. Mas, apesar de lhe faltarem os números superlativos de outros colegas de profissão, quem tem ouvidos atentos sabe que o MC PP da VS é mais que uma promessa — é um inovador do estilo.

Filippe Oliveira, de 24 anos, está há nove tentando a sorte como funkeiro em São Paulo, e estourou dois anos atrás após ter começado a gravar a sério na GR6, umas das maiores produtoras da capital paulista, responsável pela carreira de gigantes como MC Livinho.

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Alto, tatuado, perfumado e recém-saído da barbearia, PP recebeu as perguntas da reportagem da VICE de braços cruzados, tímido e um pouco monossilábico em algumas respostas. As produtoras da GR6 que nos acompanhavam riram quando falei que PP é um homem muito tímido. Ambas juraram que nos shows o funkeiro se torna outra pessoa. Com a revelação das duas, PP se animou. "Pior que eu sou outra pessoa mesmo quando tô fazendo baile", contou sorrindo.

Escapando das músicas chicletes e irresistíveis do MC Livinho, Filippe foi na contramão do que o mainstream do funk apresenta para o público. Ao invés de apresentar rimas fáceis de decorar contendo sentidos sexuais muitas vezes nem tão duplos, a caneta de PP na verdade solta histórias com começo meio e fim, poucas repetições — se estivéssemos falando de rap, a expressão "storyteller" saltaria à mente. Bebendo na fonte do Racionais MC's, acerta sem querer no Ogi, sem deixar de se manter fiel ao flow da Baixada Santista que, transplantado serra acima, virou o que se conhece hoje como "funk neurótico".

Apesar do talento nato para histórias, que poderia ter deslocado sua carreira para o mundo do hip hop, as origens de Filippe, cuja repetição das letras "p" virou PP no nome artístico, nascido na Vila Sapão, zona leste da capital paulista (daí que vem o "VS") o direcionaram para a carreira de funkeiro. Começou a ensaiar as primeiras rimas com o MC Daleste, no improviso. "O Daleste estudava na mesma escola que eu. Na verdade, meu amigo estava na mesma sala que a dele e me apresentou", conta. "O Daleste batucava na frente de casa. Ele pegava um balde e batucava numa roda, cada um fazia uma rima e foi ali que eu comecei a cantar. Desde aí fui fazendo letra."

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Foto: Weslei Barba/VICE

Assim como muitos funkeiros, Filippe demorou para deslanchar sua carreira de artista. Trabalhou com telemarketing, materiais de construção, distribuição de panfleto, tudo para conseguir sustentar sua família — o MC tem dois filhos, Maria Eduarda, 6 e Luis Fernando, 3. "Nunca deixei de trampar também pra conseguir usar minhas roupas, eu era muito fodidão (risos)."

Até então, o funk paulista engatinhava em comparação ao reinado do Rio de Janeiro. Para o funkeiro, grande parte da conquista territorial de SP se deve a Daleste, cuja popularidade crescia vertiginosamente até ser assassinado em cima do palco em 2013. Na sequência, com o crescimento do sucesso de novos artistas, o funk paulistano se profissionalizou. "Antes a gente gravava som na lan house mesmo. Pedia pra todo mundo ficar quieto e ligava o microfone. Hoje tem muito MC, mas é o seguinte: tem muito produtor também. Tem a produtora que ajuda em tudo que você precisa: gravação de clipe, música. O difícil é entrar, mas antigamente se você não tivesse uma moedinha pra gravar, você tava fodido", lembra Felippe, sem falsa nostalgia.

Ao entrar na GR6, PP da VS foi tentando emplacar um som até que conquistou a gravadora com a faixa "Som de Paredão", o que lhe rendeu imediatamente uma base de fãs generosa e, vira e mexe, o apelido "Mano Brown funk" sendo invocado em um ou outro comentário de fã. PP ri, encabulado, do apelido: "acho que é por causa do bigode".

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Por mais que sua timidez o impeça de aceitar as comparações, o artista não esconde a admiração pelo rapper do Racionais MC's. "Me inspiro nele e no Daleste, são pessoas que me fizeram começar a cantar mesmo. Peguei o conteúdo do Daleste e ouvia muito Racionais. Ai foi assim que escrevi minhas letras."

O repertório do MC ainda é pequeno em comparação a outros artistas contemporâneos que soltam sons quase diários, mas o cuidado em apresentar uma rima bem feita o faz ter uma visão e timing mais maduros para o próprio fã se naturalizar com a música. "Tem uma música chamada 'Extrato Bancário' que fala bastante da minha vida que teve muita gente que falou que tem muito conteúdo, até mais do que gente que entrou pro rap agora", conta.

Até os bailes de PP parecem mais com shows de rap nacional. "Meu show só tem homem (risos). No palco tem bastante mulher na frente, mas logo vêm os caras no show e empurram as minas pra trás (risos). Mas como tenho mania de descer do palco alguma hora durante o show, peço pro pessoal respeitar". Solteiro, solta um "daora" quando pergunto sobre o assédio das fãs.

São de três a quatro bailes por dia no fim de semana, um número que parece normal para quem trabalha com o funk, embora frenético para quem olha de fora. Fora dos palcos, PP diz se dedicar aos seus sons ("tem semana que sai de cinco e sete músicas") e a ficar com os filhos, dos quais fala com orgulho.

Foto: Weslei Barba/VICE

Recordando o primeiro show quando era anônimo e o primeiro show de verdade, vê a evolução da própria carreira. Antes do sucesso relata ter precisado pagar a entrada da balada em que iria cantar. Foi até vaiado algumas vezes. No primeiro show de verdade, ouviu uma plateia lotada no Campo Limpo cantar seu som em coro. "Pensei só 'eita porra'."

Já no final da entrevista, perguntei se Filippe se considera um homem ambicioso. "Minha única ambição é dar o melhor para minha família". Mais alguma coisa? Ele deixa escapar. "Quero gravar um som com o Mano Brown".

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