Os presidenciáveis são muito ruins de memes
Imagem via Twitter da Katia Abreu.

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Eleições 2018

Os presidenciáveis são muito ruins de memes

Como o tiro da imersão na cultura digital está saindo pela culatra até dos candidatos mais moderninhos.

No dia 13 de agosto, a senadora e candidata à vice-presidência Kátia Abreu (PDT) postou no Twitter a foto oficial da campanha que realiza com o presidenciável Ciro Gomes e chamou a atenção dos usuários da rede social por conta do excesso de Photoshop. Depois de muita repercussão, comentários e, obviamente, memes feitos com a imagem, a própria senadora passou a brincar com os seus seguidores, terminando a sequência de tweets com um post "Acho que fui longe demais…" e seu rosto substituído pelo da Pabllo Vittar.

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A goiana não é a única a entrar na onda dos memes nas suas redes oficiais. No Instagram, o também candidato à presidência Guilherme Boulos (PSOL) publicou o pôster de um festival chamado "BoulosPalooza", cujas principais atrações do lineup seriam "revogação da reforma trabalhista", "reforma tributária", "direito à moradia" e outros. Em uma tentativa ainda mais constrangedora de se enturmar com os jovens, Henrique Meirelles (MDB) postou no Twitter numa sexta-feira um gif seu com a legenda #sextou.

Dentre tantos posts embaraçosos, pipoca uma pergunta na cabeça de possíveis jovens eleitores: por que os presidenciáveis são tão ruins de memes? Dos memes feministas forçadíssimos da ex-possível-candidata e atual-possível-vice Manuela D'Ávila ao Ciro Gomes usando o meme mais velho da internet, o Keyboard Cat, parece que seja lá quem faz a campanha desses candidatos na internet falha miseravelmente em se conectar com os eleitores memeiros.

A VICE entrou em contato com alguns presidenciáveis para descobrir quem era o responsável por suas campanhas digitais, mas só recebeu resposta de Meirelles (quem posta em suas redes é Daniel Braga, que também já fez o marketing digital do governo Temer e de João Dória) e Boulos, cujas redes estão a cargo de membros do MTST e Mídia Ninja, segundo sua assessoria.

Os memes começaram a dar as caras na política brasileira por volta de 2010, quando figuras como o então presidenciável Plínio de Arruda Sampaio viraram um tanto cômicas aos olhos dos usuários de redes sociais. O mesmo aconteceu com o então candidato Eduardo Jorge nas eleições de 2014. Mas a imagem construída dos presidenciáveis em ambientes digitais se tornou especialmente importante agora em 2018, quando a duração das campanhas eleitorais diminuiu de 90 para 45 dias e os candidatos aprenderam que podem contornar seu tempo restrito de propaganda na TV e rádio com a internet.

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O Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e docente da ECA-USP e Faculdade Cásper Líbero Rafael Grohmann fala, porém, que a lógica da comunicação nesses ambientes não é a mesma. "Você tem casos nesse ano, por exemplo, do social media do Geraldo Alckmin (PSDB) postar um comentário como o próprio Alckmin, dizendo 'é isso mesmo, Geraldo!'. A estratégia de comunicação política [das campanhas] tem que não só entrosar o ambiente digital, mas entender a dinâmica desses ambientes digitais. Reproduzir uma lógica própria da comunicação de massa não funciona."

Grohmann destaca a importância de memes nas campanhas eleitorais usando dois exemplos: o da relevância de perfis de paródia como Haddad Tranquilão e Dilma Bolada durante eleições passadas e a ajuda que dispositivos como o 4chan e alguns outros submundos da internet tiveram na formação da alt-right e na própria eleição do Trump nos EUA. Essa história é contada no livro Kill All Normies, da pesquisadora norte-americana Angela Nagle.

Quando a iniciativa de fazer os memes parte das próprias campanhas dos candidatos, porém, o resultado é um "flop total", segundo Grohmann. "Quando algo é feito pra virar meme ou pra viralizar, já tende a perder um pouco o efeito espontâneo de um meme. Adaptar-se à cultura da internet não significa necessariamente você adentrar todo esse universo em que se perde a própria identidade do candidato", fala o pesquisador.

O uso de plataformas digitais surtem efeitos diferentes para cada um. Os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT), por exemplo, sempre se mantiveram distantes das redes sociais; já Jair Bolsonaro (PSL) utiliza destas como um canal de comunicação direto com seus eleitores – ou "multiplicadores", como os próprios se denominam no nosso documentário.

"Existe uma disputa de memes entre diversos circuitos, e tem memes que nem chegam a nós. O que às vezes circula para [eleitores de esquerda] não circula para eleitores do Bolsonaro, por exemplo, por conta dos próprios algoritmos", fala Grohmann. "Os memes podem influenciar a eleição e podem formar uma opinião pública de alguma maneira, mas de modo muito restrito."

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