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Sexo

Traição é misoginia?

Uma coluna de conselhos, para homens.
Foto via Flikr user Harsh Agrawal, CC 2.0).

Estamos no meio de uma guinada cultural. Os homens estão confusos. “Como vamos saber o que é OK se vocês não disserem?”, ele choram, rasgando suas camisas e uivando para a lua. Aqui vai a solução: pergunte! Me mande suas dúvidas sobre romance, relacionamentos e sexo. Sou uma mulher, pode perguntar.

Qual é o problema?

Uma questão enviada pra mim no Curious Cat: Traição é misoginia?

O que não estou entendendo?

O ato da infidelidade não é inerentemente misógino. Não pode ser, porque as mulheres são tão capazes de trair quanto os homens. Monogamia é um enigma humano, não de gênero. As mulheres não acham isso mais fácil que os homens. Na verdade, historicamente, considerando que a identidade das mulheres era obrigatoriamente subordinada ao seu casamento (ser obrigada a parar de trabalhar e se dedicar a cuidar da casa, não ter uma vida fora dela), não é loucura dizer que as mulheres estão mais de saco cheio do confinamento da monogamia que os homens.

Num nível mais básico, as mulheres têm as mesmas chances de transar com alguém além do parceiro que os homens. Tesão não é uma aflição só masculina. Todo mundo compartilha o fardo de ter que lidar com desejos “errados”.

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Então, transar com outra pessoa não é misoginia, mas o contexto de por que e como você traiu pode consistir em misoginia. O que a traição faz é ignorar conscientemente o eu da parte traída, negando a ela o direito de uma escolha informada sobre com quem ela está. Um homem pode – apesar de nem sempre – estar traindo por alguma dinâmica de gênero zoada em seu relacionamento. Ele pode estar abusando do desequilíbrio de poder e dependência presente em tantos relacionamentos heterossexuais, para manipular sua parceira para aceitar esse tratamento ruim. Ele pode estar traindo por causa de um senso de que tem direito a isso, o que muitos homens sentem; que eles merecem ter tudo que quiserem, independente de como isso afeta os outros.

Já fui traída. Também já traí – duas vezes, numa situação bêbada na adolescência de que me arrependo. No meu caso, o que é mais engraçado, misoginia – misoginia internalizada – desencadeou minha primeira traição. Eu ainda era bastante jovem e estava tão obcecada com a ideia de que era atraente para os homens que assim que meu parceiro e eu saímos do período de lua de mel, e ele não estava mais me fazendo sentir sexualmente desejada o suficiente, entrei em pânico; quando apareceu alguém que me fez sentir irresistível, foi muito fácil me submeter.

No segundo caso, traí para acelerar o final do meu relacionamento. Conscientemente, eu não reconhecia para mim mesma que queria terminar o que, agora sei, era um relacionamento abusivo. Eu estava tão investida que não conseguira imaginar me afastar e separar nossas vidas tão completamente. Mas assim que traí, logo soube por que eu tinha feito isso, e terminei com ele.

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Eu costumava ter uma ideia bem ruim de mim mesma e monogamia, considerando essa história, e achava que estava fadada a sempre trair, mas agora penso que o que faz diferença é tentar estar consciente dos seus sentimentos e de onde eles vêm. Eu era tão divorciada deles na época que não tinha ideia que queria terminar, até saber logo depois de ter traído. O que eventualmente me deixou segura do conhecimento que posso me envolver com monogamia, se quiser, é que agora tento viver de um jeito que negar esses sentimentos seria impossível. Tento me analisar com frequência e não me sentir mal se tenho sentimentos “negativos” em relação ao meu parceiro ou à monogamia. Monogamia é algo difícil e embaraçado às vezes e tudo bem não amar a pessoa 100% do tempo. Não esperar que relacionamentos monogâmicos sejam situações perfeitamente idealizadas que satisfazem cada desejo seu torna tudo mais fácil.

A outra coisa que mudou minha ideia de monogamia e traição foi ver que a monogamia não é a única opção disponível. Se, por alguma razão, eu decidir que simplesmente não posso ser fiel a um parceiro e que não fui feita para a monogamia, não será um problema. Posso ser não monogâmica. OK, pode não ser exatamente o que eu queria, considerando que relacionamentos não monogâmicos definitivamente não são pra todo mundo. Mas como eu disse para esse cara mês passado sobre suas taras, você não pode ter todo desejo e inclinação atendido por todo mundo que você acha atraente.

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Muitas vezes as pessoas traem porque acham em algum nível que podem e devem ter tudo. Elas acham que se conseguirem enganar o parceiro, elas podem desfrutar dos benefícios de um relacionamento monogâmico e da excitação do sexo casual. Mas você não pode ter tudo – ninguém pode. Um relacionamento baseado em mentiras não é um relacionamento de sucesso.

Não tem nada de errado em querer passar o resto da vida buscando vorazmente múltiplos parceiros sexuais, e deus sabe que passei um longo tempo fazendo isso. Mas tem algo errado em esconder informação que, se revelada, mudaria a decisão da pessoa de estar com você. Assim como você merece ter suas necessidades atendidas, a outra pessoa também merece. Se você precisa ter múltiplos parceiros, vá em frente e faça isso. Se a pessoa precisa de monogamia, deixe que ela tenha isso, se não com você com outra pessoa. Se ela também não está totalmente convencida sobre a monogamia e está disposta a negociar um arranjo, melhor ainda. Todos merecemos ter nossas necessidades atendidas e temos a responsabilidade de tentar fornecer o mesmo para nossos parceiros.

O que eu realmente preciso saber?

Traição não é necessariamente misoginia, mas pode ser informada por misoginia (mas nem sempre).

Para fazer uma pergunta para a Megan, vá até a página dela do Curious Cat.

@mmgannnolan

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