Funcionários da Havan contam como são forçados a declarar apoio a Bolsonaro
Sede da Havan em Brusque, Santa Catarina. Foto: Divulgação/ Havan

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reportagem

Funcionários da Havan contam como são forçados a declarar apoio a Bolsonaro

Coação, assédio e medo fazem parte da rotina dos trabalhadores da empresa de Luciano Hang desde abril deste ano.

“Ninguém se manifesta por medo”, enunciou a mensagem recebida no início da madrugada desta quinta-feira (04). Pouco depois da meia-noite, o diálogo com um dos 15 mil colaboradores da rede varejista Havan deu o tom do que se passa no interior da empresa comandada por Luciano Hang, proibido pelo juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do trabalho de Florianópolis, de coagir seus funcionários para votar em Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL, sob pena de multa em R$ 500 mil, caso a ordem seja descumprida.

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Durante toda a quarta-feira (03), a VICE conversou com funcionários da Havan para entender a rotina de uma companhia regida pela coação, insegurança, assédio e medo. A maioria deles preferiu não emitir opiniões, mesmo com o sigilo resguardado. “Quando alguém tenta se manifestar de maneira contrária, os colaboradores que são a favor das ideias do Luciano [Hang] já olham de cara feia”, revela Amanda*, cujo nome real é guardado por motivos de segurança.

Ao longo dos últimos dias, vídeos institucionais e registros de convenções da Havan mostram Luciano Hang convocando seus funcionários para votar em Jair Bolsonaro. “Vamos mudar o Brasil. Neste dia 7, é 17! Toca o hino nacional!”, esbraveja o diretor ao microfone diante de milhares de colaboradores na sede da empresa, em Brusque, Santa Catarina. Em diversos momentos do discurso o jingle da campanha de Bolsonaro é tocado. “Estão todos cansados. Desde abril fomos obrigados a usar como uniforme a camiseta verde. Todos os colaboradores estão exaustos com o apelo da empresa”, comenta Amanda. Questionada sobre a regularidade das intervenções, ela afirma que “isso já aconteceu muitas vezes, interna ou publicamente”.

De acordo com Amanda, uma pesquisa para conhecer as opções eleitorais de 12 mil empregados foi enviada por e-mail, e o nome de Jair Bolsonaro foi o mais citado. Em um vídeo veiculado para os funcionários e postado em sua página do Facebook, Luciano Hang diz que “30% dos colaboradores vão votar brancos e nulos”. Ele segue: “Se você não for votar, se você anular seu voto ou votar em branco, e depois do dia 7, o nosso país, lamentavelmente, ganha a esquerda, até eu vou jogar a toalha. A Havan vai repensar o planejamento, talvez não abra mais lojas. Se eu não abrir mais lojas, ou se andarmos para trás, você está preparado para sair da Havan?”, questiona.

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Após a decisão da 7ª Vara do Trabalho contra Luciano Hang, Amanda afirma que “ainda não houve nenhum tipo de conversa entre os funcionários, mas todos acabam falando entre si e, diante do medo com o futuro da empresa, e também para defender seus empregos, acabam concordando com tudo”, revela. “Nós não fomos obrigados e não houve algo direto, mas está implícito. Particularmente, me sinto ofendida.”

Ex-funcionária da Havan, Rosana* ressalta que Luciano Hang possui um temperamento questionável, por vezes explosivo. “Ele é querido em momentos oportunos, passa uma imagem de homem empreendedor. Mas quando algo dá errado, fala o que dá na cabeça sem se preocupar com ninguém”, comenta. A falta de conduta atinge também Cláudio Fraga, apresentando como consultor da Havan. “O assédio é praticado pelo braço direito do Luciano, Cláudio Fraga. Não foi só comigo, mas com inúmeras mulheres do escritório. Ele vê uma mulher de batom e diz que vai beijar a boca dela”. Sobre as eleições, ela alega que “sempre se incomodou em utilizar a camisa verde” e que “nenhum funcionário gostava daquilo”.

Mas há quem não veja problema nas atitudes do empresário. “Luciano está fazendo isso nas redes sociais dele. Aquele evento é algo normal e ele sempre reúne os funcionários para falar das metas. Naquele momento, houve uma explicação sobre conscientização do voto. Há um posicionamento da diretoria, mas os funcionários têm liberdade de escolha”, analisou Letícia*.

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Além da multa em dinheiro, o juiz Carlos Alberto Pereira de Castro também determinou que Luciano Hang veicule um vídeo nas redes sociais afirmando que seus empregadores têm o livre direito de escolher seus candidatos. Até o momento, nada foi publicado.

A assessoria de imprensa de Luciano Hang e Cláudio Fraga alegou que ambos estão em viagem e preferiram não se manifestar.

* Os nomes dos entrevistados foram alterados.

Assista ao nosso documentário "O Mito de Bolsonaro":

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