FYI.

This story is over 5 years old.

Noisey

12 álbuns para curtir um dos selos mais estranhos do indie, a Drag City

O selo norte-americano finalmente fez o favor de entrar no Spotify. Agora você pode fazer o streaming dos álbuns do Silver Jews, Ty Segall e outros.
Crédito das fotos: Foto do Silver Jews: Gary Wolstenholme/Redferns; Foto de Ty Segall: Deneé Segall; Foto de Bill Callahan de PYMCA/UIG via Getty Images

Matéria originalmente publicada no Noisey US.

Sempre pareceu apropriado, de certo modo, que a Drag City não participasse do frenesi tecnológico e financeiro que é o ecossistema de streaming de música. Combinava com as músicas que o selo independente de Chicago havia lançado ao longo dos anos: surtadas, impressionantes, indiretamente atentas aos sons do rock e do pop que seguiam tradicionalmente na mesma direção. Mesmo que as canções feitas por seus artistas fossem diferentes, havia algo que as unia, como se fossem observadoras deslocadas. Elas eram divisionistas de cabelo desgrenhado, meio hippies e céticas em relação ao capital. Eram opositores conscientes de que a guerra do streaming estava certa, em um sentido cósmico.

Publicidade

Mas o mundo muda, e apesar de alguns dos maiores artistas do selo ainda detonarem os gigantes do serviço de streaming, eles decidiram incluir a maior parte de seu catálogo no Apple Music e no Bandcamp no ano passado (embora o segundo seja usado mais como uma loja on-line, com apenas uma faixa de cada lançamento disponível gratuitamente). Eles não fizeram declarações públicas sobre a decisão, mas, até onde sei, o selo estava falido. No último fim de semana, quando uma parte significativa do catálogo foi disponibilizada em outros serviços, como o Tidal e o Spotify, foi como a compreensão de algo inevitável: um reconhecimento final (suspiro) de que é assim que vamos ouvir música agora, acho.

Mas a perda de uma das grandes resistências aos serviços de streaming é, em essência, uma vitória para você, que, em teoria, assina o Spotify mas não tem nenhum dos álbuns lançados pela Drag City (porém, é claro, devia comprá-los). Se você não é um crítico de música no Twitter ou um nerd velho como eu, há uma chance razoável de você só ter uma vaga familiaridade com o selo, exceto por alguns discos excelentes de Joanna Newsom. Se esse é o seu caso, más notícias: eles ainda não estão no Spotify, pois, para a artista, o serviço é “uma conspiração abominável”. Quem sou eu para discutir?

A boa nova, contudo, é que agora estão disponíveis centenas de horas de outras músicas com um espírito semelhante: uma longa história de desconstrucionistas extremamente letrados destruindo a história estabelecida do que chamamos de rock e a refazendo à sua própria imagem. Alguns dos artistas mais famosos do selo ainda resistem ao Spotify e a outros serviços – mais poder para vocês, Bonnie “Prince” Billy e Royal Trux – mas abaixo segue uma coletânea educativa do tipo de loucos que fizeram parte do selo ao longo de décadas. Você pode conhecer alguns e, se trabalha em alguma loja de discos mais eclética do meio oeste dos Estados Unidos, certamente vai reclamar dessa minha lista enviesada. Contudo, se não ouviu alguma dessas faixas, você vai querer passar um tempinho vivendo nesses mundos estranhos.

Publicidade

Coletânea, Hey Drag City (1994)

Abstrações abafadas de bandas de garagem, mutações art-punk de outro mundo, e balbuciações psicodélicas folk dividem espaço em essa coletânea inicial – um exame dos anos em que todas as bandas da Drag City consistiam de virtuosos que insistiam em soar como músicos péssimos ou audiófilos que se recusavam a aprender a tocar seus instrumentos. Royal Trux, Pavement, Smog, Will Oldham e Silver Jews trocam um scum-pop gloriosamente ferrado, e essas são só as bandas de que você já ouviu falar.

Gastr Del Sol, Crookt, Crackt, or Fly (1994)

O segundo álbum do Gastr Del Sol, e o primeiro a ter a participação de Jim O’Rourke, um experimentador inveterado de Chicago, o disco é uma colagem impossível de linhas sobrepostas de violão entrelaçadas em formas duras e afiadas que fazem as pessoas quererem inventar novos gêneros (usando hífen, de preferência) para tentar defini-lo. Pode-se tentar chamar as músicas de post-rock, mas elas parecem mais a batida de carro mais suave do mundo, fios de aço zunindo e se entrelaçando um com o outro de modo surreal e flexível.

Flying Saucer Attack, Further (1995)

Como o nome sugere, a dupla inglesa formada por David Pearce e Rachel Brook trazem a energia alucinatória e interestelar do kosmische em seu segundo disco como Flying Saucer Attack – lançando em conjunto com a gravadora Domino. Drones de guitarra sobrenaturais, dedilhados instáveis e vocais sussurrados se estendem com languidez para ocupar todo o espaço. É um exemplo essencial de um certo tipo de lançamento da Drag City que parece perfeito para ser ouvido enquanto se está deitado no escuro.

Publicidade

Silver Jews, American Water (1998)

Às vezes um consenso acontece por um motivo. O momento favorito de todos na carreira de David Berman, o maior poeta de camisa xadrez dos Estados Unidos, é sem dúvida um dos melhores registros do rock dos anos 1990. Com um ritmo espirituoso, psicodelicamente detalhado e com arranjos que fazem parecer que toda a seção rítmica está unida por fita adesiva e meias velhas de elástico, American Water é um retrato expressivo da paisagem dos EUA, um esclarecimento da masculinidade acadêmica na era do nascimento da Internet e uma exagese completa do espírito do indie rock representado por caras inteligentes com sobrancelhas arqueadas e talento vocal questionável (“Todos os meus cantores prediletos não sabiam cantar”) que se aproxima da perfeição.

Loren Mazzacane-Connors and Alan Licht, Hoffman Estates (1998)

Conduzido por Jim O’Rourke, assim como muitas dos álbuns de espírito mais livre da época, essa colaboração que se transformou em uma montagem experimental caótica é uma representação perfeita do quanto a Drag City ousou ir longe. Além de trazer os rabiscos da guitarra de Connors em sua forma mais legível e a distorção de Licht explodindo da maneira mais discreta, o disco também incluiu um elenco de músicos que incluíam o monólito do drone Kevin Drumm, o baixista de vanguarda Joshua Abrams e uma respeitada seção de metais e instrumentos de sopro (quantos discos da sua gravadora favorita têm um cornetista nos créditos?). O centro de gravidade aqui é baixo e lento, mas as partes florescem para o exterior, como colunas de fumaça saindo de uma fábrica antiga.

Publicidade

Edith Frost, Telescopic (1998)

Compositora texana de grandes detalhes impressionistas nas fronteiras distorcidas entre o folk e impulsos vanguardistas desordenados. Posicionada logicamente no centro da instrumentação confusa, Edith Frost canta sobre lembranças, perdas e amor de um jeito quase sinestésico — enredando detalhes sensoriais as narrativas tão adoravelmente distorcidas quanto suas linhas de guitarra. Telescopic é um antecedente óbvio, senão pouco citado, das resmas de registros de indie rock do Bandcamp. É fácil o bastante imaginar um mundo onde este disco seja amado como um álbum antigo de Alex G, ou a estreia de Lucy Dacus, ou algo semelhantemente simples e realizado com maturidade.

U.S. Maple, Acre Thrills (2001)

A banda de noise rock de Chicago U.S. Maple mais ou menos seguiu a trajetória aceita pelos experimentalistas, passando das abstrações iniciais para formas mais figurativa. Mas esse disco de 2001 pega tudo isso em algum lugar ao meio de uma transformação Animorphis, que, como todos sabemos, é o estado mais perturbador. As linhas de guitarra geram melodias, sem dúvida, mas elas tocam três ou quatro linhas diferentes, tornando a música pesada, complexa e difícil de acompanhar. Você pode praticamente ouvi-las se contorcendo enquanto evoluem para formas mais tradicionais, mas as melhores partes aqui surgem nas falhas desse processo de aglutinação, quando elas se escoram em loops tortíssimos por minutos a fio.

Publicidade

Sir Richard Bishop, Polytheistic Fragments (2007)

Um dos grandes momentos da prolífica carreira do mais jovem dos irmãos Bishop pós-Sun City Girls, Polytheistic Fragments demonstra a vivacidade para improvisar que Bishop trouxe para seu trabalho como guitarrista solo. Baseando-se em um jazz extravagante, drones suaves e solos de guitarra ao estilo raga, o álbum consegue divertir e ao mesmo tempo induzir ao transe — é o tipo raro de disco que serve para ouvir enquanto se lava a louça ou durante uma viagem meditativa interna.

Scout Niblett, The Calcination of Scout Niblett (2010)

O quinto disco de estúdio — e o primeiro pela Drag City — da compositora inglesa Scout Niblett começa com uma distorção que soa quebrada. É um som feroz, involuntário, como se tentasse desesperadamente parecer contido. Esse também é mais ou menos o espírito das músicas de Niblett: conjuntos esparsos de guitarra elétrica e voz que ocasionalmente explodem em caos. Em “I.B.M”, ela canta que “atira raios com os melhores deles”. E com razão: suas canções atingem proporções míticas.

Bill Callahan, Apocalypse (2011)

A mente criativa por trás do Smog canta profecias ao bom e velho estilo norte-americano cerca de cinco anos antes de esse se tornar o padrão das composições do indie rock. Odes sarcásticas à identidade do país colidem com projeções de Astral Weeks e visões de um rejeitado que terminam com um tiro de sinalizador em Deus. Poucos compositores fazem o desespero existencial ser tão exaustivo e afetuoso ao mesmo tempo. Este disco pode ser considerado uma recomendação geral para a obra de Callahan, mas comece por ele e então ouça o que veio antes.

Publicidade

Ty Segall and White Fence, Hair (2012)

Dois dos nomes mais jovens da Drag City se uniram em 2012 para fazer um disco que os levou a extremos — Segall aos seus limites mais alucinatórios e desgastados e Tim Presley (que usa o apelido White Fence) a um território mais de canções — o que torna esse disco uma viagem feliz pelas terras psicodélicas em torno do punk, garage, scuzz ou seja lá o que esses caras tocam. Canções de amor lisérgicas, meditações tocantes sobre a natureza do tempo e surrealismo violento à la Buñuel são fervidos e se tornam uma espécie de lodo cósmico repugnante.

Bitchin Bajas, Bajas Fresh

Prova de que a dedicação da Drag City aos loucos verdadeiros nunca diminui, no ano passado o selo lançou esse álbum duplo magnífico dos mestres do drone e manipuladores de fita Bitchin Bajas. São longas passagens de policromia sintética e rabiscos de guitarra (?) que deixariam Manuel Gottsching orgulhoso. Mas seguindo o espírito de seus colegas de selo e de seus antepassados, a dupla pega leve, costurando suas improvisações de modo artesanal e casual, e juntando tudo isso com uma referência a uma cadeia de restaurantes casualmente tex-mex. Não se pode correr o risco de soar muito sério.

Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
Siga o Noisey no Facebook e Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.