FYI.

This story is over 5 years old.

Motherboard

As mulheres pré-históricas eram provavelmente mais saradonas do que as atletas de hoje

Novo estudo com ossadas revela o quanto de trabalho braçal elas faziam milhares de anos atrás.
Crédito: University of Cambridge

As mulheres da pré-história faziam e aconteciam.

Um novo estudo da Universidade de Cambridge, nos EUA, revelou que o sangue, suor, músculos e trabalho feminino foram cruciais para o desenvolvimento da agricultura.

Os pesquisadores compararam ossos de mulheres pré-históricas de comunidades agrícolas com o de atletas de elite e sedentárias dos tempos atuais. Descobriu-se que, em mulheres pré-históricas – ao longo dos 6.000 anos de agricultura na Europa central ao menos –, os ossos de seus braços indicavam que elas lidavam com cargas superiores à mulher moderna no geral.

Publicidade

As ossadas mais antigas do estudo datam de 7.400 anos atrás. Já as mais recentes, de 2.800 anos.

A pesquisadora-chefe do estudo, Alison Macintosh, pós-doutora e pesquisadora em Cambridge, me disse via email que é comum que estudos de estruturas ósseas ligados à evolução humana apontem diferenças entre homens e mulheres, muitas vezes com os homens possuindo ossos mais fortes que as mulheres ou mudanças mais pronunciadas em seus ossos ao longo do tempo que as mulheres. O que é complicado mesmo é determinar se isso tem relação com as diferenças nas atividades de cada gênero ou se é uma questão biológica.

“Isso significa que, se observamos ossos mais frágeis em mulheres que homens no passado, podemos inferir que elas não desempenhavam tantos trabalhos braçais quanto os homens, subestimando seu trabalho, quando na verdade estamos diante de diferenças biológicas”, afirmou Macintosh. “É por isso que precisamos comparar mulheres vivas com mulheres pré-históricas.”

Direto do estudo: trata-se de um modelo tridimensional criado a partir da imagem de um úmero de uma agricultora pré-histórica. O osso tem origem no norte da África e não fez parte do estudo em si, ainda que se trate de um exemplo do tipo de osso e metodologia utilizada na pesquisa. Crédito: Universidade de Cambridge

Foram escolhidas remadoras para fins de comparação na pesquisa. A razão é que a equipe de remo feminina de Cambridge treina duas vezes ao dia por muitas horas, fazendo movimentos repetitivos de baixo impacto afetando as regiões superiores e inferiores do corpo. Estes movimentos e a carga empregada são possivelmente próximas das atividades de mulheres pré-históricas dentro de comunidades agrícolas, de acordo com Macintosh.

Publicidade

Os pesquisadores não sabem o que as mulheres estavam fazendo exatamente para obter ossos tão fortes, como dito por Macintosh. Tendo em vista que tais comunidades praticavam a agricultura sem o auxílio de máquinas, podemos presumir que as atividades envolviam arar o solo, plantar e colher, além de moer grãos para fazer farinha – tudo manualmente.

Além de tarefas relacionadas à agricultura, as mulheres também cuidavam do gado (ordenhando, processando leite, carne, peles e lã, sem contar carregar comida para estes animais pra cima e pra baixo), produzindo ainda cerâmicas e têxteis.

Todas essas atividades são braçais e provavelmente as mulheres passavam dias a fio nelas. Com base na pesquisa, é tentador concluir que elas eram saradaças, mas ainda é cedo para dizer se tais estudos mudarão ou não a maneira como vemos as mulheres pré-históricas.

“Ossos e músculos tem uma relação bastante próxima, visto que músculos se prendem aos ossos e os tensionam quando nos movemos”, disse Macintosh. “Porém ainda estamos começando a entender como a estrutura óssea pode antever o tamanho de um músculo ou sua força, então não podemos falar muito sobre a musculatura destas mulheres pré-históricas ainda.”

Agora se você quer imaginar nossas matriarcas ancestrais como deusas-maromba que nos deram avanços na agricultura de presente, pode.

Leia mais matérias de ciência e tecnologia no canal MOTHERBOARD.
Siga o Motherboard Brasil no Facebook e no Twitter.
Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter e Instagram .