Mano Brown
Foto: Cabra/VICE

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A arte do Racionais sobrevive ao retrocesso

Veja fotos do primeiro show do grupo mais importante do Brasil depois da eleição de Jair Bolsonaro.

Quando entrevistei o Edi Rock no mês passado, ele me disse que a arte é a única coisa que sobrevive ao retrocesso. “A arte tenta a vantagem de ir diretamente pro coração das pessoas, e elas se identificam. As pessoas ouvem música para a guerra ou para a paz. Sempre ouviram Racionais pra isso, e continuam ouvindo”, ele falou. Dei razão a Edi na mesma hora, obviamente, mas talvez não tenha percebido tudo o que ele queria dizer com essas declarações até assistir ao show do Racionais MCs no último sábado (24), no Credicard Hall, na terra onde Deus é uma nota de 100.

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O show era especial por diversos motivos: primeiro porque as picapes de KL Jay foram acompanhadas por uma banda que recriava seus tão célebres beats com bateria, baixo, metais e, ocasionalmente, a voz de Lino Krizz, que agia como uma espécie de maestro. O segundo motivo é que esse foi o primeiro show dos Racionais após a eleição presidencial do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro.

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Foto: Cabra/VICE

Mano Brown está do lado certo

Esse fato é relevante por motivos óbvios e foi destacado em alguns momentos pelos próprios membros dos Racionais: depois de "Jorge da Capadócia", Mano Brown avisou que "vai ter luta!", e, mais para o fim do show, Edi Rock disse que ninguém está acima da Constituição Federal e que precisamos nos unir por um bem maior. "Lute pelos seus direitos", avisou o MC. As declarações contagiaram a plateia que, antes da música que fechou a apresentação, "Vida Loka, Pt. 2", entoou um "ei, Bolsonaro, vai tomar no cu".

Mas nenhum desses gritos foi tão impactante quanto presenciar aquelas músicas que todos já ouviram tanto sendo tocadas ao vivo, com uma sonoridade um pouco mais viva e colorida graças à banda que acompanhava o quarteto. O setlist contou com diversos sons antigos do grupo, muito mais do que eu havia visto no outro show que assisti do Racionais, no ano passado. Após abrir com "Pânico na Zona Sul", eles seguiram com sons do Holocausto Urbano ("Tempos Difíceis" e "Beco Sem Saída") e Raio X do Brasil ("Fim de Semana no Parque", "Mano na Porta do Bar" e "Homem na Estrada"), com Brown anunciando o ano de lançamento de cada som antes que ele começasse. Foi como assistir a uma retrospectiva do Brasil urbano nos últimos 20 anos em sua representação mais honesta, a arte.

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Foto: Cabra/VICE

O clímax do show foi, é claro, quando chegaram os tão celebrados sons do Sobrevivendo no Inferno, em especial a dobradinha "Capítulo 4, Versículo 3" – com uma nova introdução, com dados atualizados, ditada pelo grande Seu Jorge nos telões ao redor do palco – e "Diário de Um Detento", cujas letras eu mal consegui cantar junto (apesar de saber de cor, como todo paulistano/brasileiro que se preze) pelo fascínio de ouvir aquela violência tão gráfica sendo entoada a plenos pulmões por todos os presentes.

A música dos Racionais sempre foi grande, imponente e desconfortável de ouvir – no melhor sentido possível da palavra; o da arte que incomoda, te tira da zona de conforto. Mas dado o contexto político, social e econômico em que vivemos, e viveremos mais intensamente a partir de 2019, o show se tornou ainda mais impactante. É dois zero um oito depois de Cristo, e a fúria negra ressuscita outra vez.

Veja mais fotos da apresentação abaixo:

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Foto: Cabra/VICE

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Foto: Cabra/VICE

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Foto: Cabra/VICE


Veja o Noisey Live Racionais MCs - "Preto Zica" e "Finado Neguin"


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