Homem empurrando uma barraca de bebidas na praia
Ilustração: Flora Próspero/VICE

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Volta às Férias

De Papai Noel a homem-camisinha: histórias de empregos de verão

Quem inventou a roupa do Bom Velhinho esqueceu que o Natal brasileiro acontece no calor.

Praia, rolezinho, maratona na Netflix. Cada um planeja o verão do seu jeito. A quase unanimidade é: descanso. Mas quase. Em tempos de crise, muito brasileiro abre mão da calmaria pra fazer aquele corre e levantar uma grana durante a estação. E pelo visto, vale tudo. Do clássico Papai Noel até se vestir de homem-camisinha.

A necessidade cria possibilidades de novos negócios, experiências inusitadas e, em alguns casos, até divertidas. O fato é que trabalhar no verão é realidade pra muita gente, apesar de não ser o paraíso. Conversei com algumas pessoas que usam os dias que poderiam ser de descanso para enfrentar possíveis perrengues por uns dígitos na conta bancária com trampos temporários. Saca só:

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O HOMEM-CAMISINHA

Antonio, 27, é iluminador e designer cênico, mas trabalha como ator figurante durante o verão há cinco anos. "Gosto da oportunidade de conhecer pessoas diferentes e poder interagir com elas", diz.

Quando assunto é figuração, ele já passou por inusitadas experiências. “Comecei a atuar em 2013 e de lá pra cá já fui torcedor desesperado do Esporte Clube Bahia numa ação promocional de cerveja, também já fui músico da banda de Carmem Miranda numa campanha da prefeitura e até ‘homem-camisinha’, numa campanha do governo federal durante o Carnaval em Salvador", relembra.

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Ator Antonio José atuando de "homem-camisinha". Foto: Arquivo pessoal

Ele conta, entretanto, que a parte chata é relacionada aos prazos e cobranças de pagamentos. “Os contratos de pagamento, em sua maioria, demoram cerca de 30 a 60 dias para serem liquidados e a necessidade de cobrar o produtor pelo pagamento acaba tornando o trabalho chato."

PAPAI NOEL EM TEMPO INTEGRAL

Já Diomar Tolentino, 64, enfrenta a dura realidade de ser o tradicional entregador de presentes diretamente do Polo Norte para o verão brasileiro. Há 10 anos ele dá vida ao Papai Noel e diz: “Tenho contato direto com as crianças que, apesar de nascerem em um meio com tantas informações, ainda acreditam no Bom Velhinho".

Mas nem tudo é paraíso, afinal, verão é sinônimo de uma temperatura infernal e aquele monte de roupa, gorro e barba tira o humor de qualquer cidadão. “De fato, a roupa do Papai Noel dá muito calor”, fala.

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Papai Noel Diomar Tolentino na praia de Salvador

Papai Noel Diomar Tolentino na praia de Salvador / Foto: Arquivo pessoal

A rotina também é afetada, já que para estar com a família dos outros, Diomar precisa abdicar da sua: “Para ser Papai Noel para as outras famílias tenho que realocar as férias com a minha. A rotina em casa muda e meu Natal é comemorado somente após o dia 25, por causa da demanda de trabalho”. Mas ele afirma que não tem vontade de trabalhar em outra época nem em outra ocupação: "Sou Papai Noel em tempo integral”. Boa sorte, guerreiro Diomar.

DJ VERÃO

Adriano Vaz, 32, é produtor audiovisual e professor de inglês, mas também trabalha como DJ em festas e eventos. Como o verão em Salvador é bastante movimentado, o número de festas e profissionais aumentam quando chega a alta temporada. “Me divirto comigo mesmo, curtindo as músicas que toco, a vibe da galera dançando, tomando umas cervejas e flertando (risos)”, diz. Alguém precisa trabalhar e se divertir, beleza?

Dj Adriano Vaz / Foto: Caio Lírio Ateliê Fotográfico

DJ Adriano Vaz. Foto: Caio Lírio Ateliê Fotográfico

E ALGUÉM PRECISA CUIDAR DO SEU DOG ENQUANTO VOCÊ VIAJA E FICA BÊBADO

E enquanto muitos estão dando um rolê e curtindo uma praia enchendo a cara de batida de côco, a estudante de medicina veterinária Ana Paula, 26, trabalha de pet sitter. Há dois anos, ela é babá de animais domésticos durante o período de férias em São Paulo. "Acho o melhor trabalho do mundo”, relata.

Ana Paula - Pet Sister / Foto: Arquivo pessoal

Estudante de Medicina Veterinária, Ana Paula é pet sister durante as férias / Foto: Arquivo pessoal

CHUP-CHUP COM E SEM ÁLCOOL

Foi também no calorão de Salvador que Milena Moreira, 28, gestora cultural, não pensou duas vezes e lançou um produto que combina com a época. Assim, nasceu no verão de 2015 o “Chupa Chups - Geladinhos Cósmicos”, geladinhos com e sem álcool, que ganhou até vinheta.

A ideia nasceu de uma situação não muito agradável, ela conta: “Tudo começou quando sofri uma injúria racial, trabalhando para uma instância pública em Salvador. Comecei a me sentir angustiada, trabalhando para um sistema que não me respeitava. Então decidi virar empreendedora”.

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Para ela, o contato com as pessoas e o carinho é o mais atrativo. “A musicalidade que acompanha essa época do ano, a espontaneidade da praia, os convites para participar dos eventos carnavalescos, aparições na telinha levando um pouco de humor para a vida das pessoas, enfim, toda a interação com o povo solar baiano me preenche de amor."

Mas nem tudo é amor, pois Milena relata sofrer assédios durante o trabalho. “Essa parte é horrível e estou me referindo ao público masculino. Ah! E também a maldade alheia, por sempre associar o nome ‘Chupa Chups’ de uma forma pejorativa”, conta. Mas ela afirma que não deixou a maldade tomar conta de sua marca “cósmica amorosa”.

GELATINA COM CACHAÇA

E se verão também é sinônimo de moda e estilo, foi pensando nisso que o estudante de Geologia Rômulo Costa criou a Mandacaru Camisas, marca que vai além das necessidades da estação. Mas o grande negócio de verão do jovem é o Jelly Shotz - Gelatina com cachaça.

Rômulo Costa - Mandacaru Camisas/ Foto: Divulgação

Rômulo Costa, marca Mandacaru Camisas / Foto: Divulgação

“A vida de estudante, a falta de emprego com horários flexíveis e o entretenimento do próprio trabalho serviram de força motriz para a invenção”, menciona. E com uma pequena bandeja e uma caixa de isopor Rômulo e seus amigos saem para vender a iguaria. “A ideia surgiu no Carnaval de Olinda em 2015 com o intuito de ajudar nas despesas de um grupo de amigos e segue periodicamente em dias festivos e/ou em noites agitadas do Rio Vermelho [bairro de Salvador]."

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Rômulo Costa e amigos vendendo Jelly Shotz

Jelly Shotz na orla em Salvador (dir. à esq. Rômulo Costa, Ramon Borges, Eduardo Ribeiro e Ícaro Chaves / Foto: Arquivo pessoal

Para ele, a parte mais legal é a interação com o público, como explica: “Eu e meu sócio, Ramon Borges, procuramos manter um ar de brincadeira e divertimento durante a venda”. Problema mesmo para o negócio dos jovens só mesmo o tempo e a física: “Os dias chuvosos costumam atrapalhar e a manutenção da textura da gelatina possui um tempo curto de vida”.

E quem se animou para fazer aquela grana extra no verão, numa rápida busca em sites de emprego achei algumas vagas. Tem para acampamento de verão, sorveteiro(a), atendente de loja, promoter de eventos e, para quem curte trabalhar perto do mar, encontrei vagas para blitz de verão com panfletagem na praia.

Mas não basta só a vontade e o sorrisinho no rosto. Tem que ter pique de enfrentar aquele calor infernal, roupas estranhas e muitas vezes abafadas, assédios de macho escroto (que no verão parecem estar no cio), ou mesmo empresas enroladas na hora do pagamento. Pois é, trabalhar no verão, meus amigos, é para fortes.

Volta às Férias é o nosso especial que vai te ajudar a se preparar para o verão mais merecido da sua vida até agora. Saque tudo aqui.

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