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Eletrônicos são o lixo que mais cresce no mundo, e você deveria se importar

O valor material do e-lixo sozinho é de US$ 62,5 bilhões, três vezes mais que a renda anual das minas de prata do mundo.
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
MS
Traduzido por Marina Schnoor
e-waste
Imagem: Curtis Palmer / Flickr.

Lixo eletrônico é uma ameaça crescente ao meio ambiente. Graças aos custos baixos de fabricação, é mais fácil que nunca para corporações injetarem milhões de notebooks, smartphones e outros eletrônicos no mercado. Companhias de eletrônicos querem que os consumidores continuem comprando novos produtos e acreditam que conserto e reutilização prejudicam seu lucro. Monitores velhos e televisões enchem armazéns por todo o país, e empresas como Apple e Microsoft até falam do problema, mas muitas vezes suas práticas de negócio só pioram as coisas.

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Isso levou a um mundo onde as pessoas jogam fora aparelhos quebrados em vez de consertá-los, e esses iPhones, televisores e notebooks descartados estão envenenando o planeta. Uma nova iniciativa combinando esforços das Nações Unidas, do Fórum Econômico Mundial e do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável quer mudar isso.

O grupo formou a Plataform for Accelerating the Circular Economy (PACE) e anunciou a iniciativa no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde divulgou seu primeiro relatório. “O e-lixo é o fluxo de resíduos que cresce mais rápido no mundo”, diz o documento. “Estima-se que esse fluxo atingiu 48,5 milhões de toneladas em 2018.” A maior parte do e-lixo vem da Europa e EUA e acaba em lugares como a Nigéria e Hong Kong, que sofrem os custos humanos e econômicos de lidar com o material.

O e-lixo geralmente não é biodegradável e muitas vezes contém componentes feitos de materiais tóxicos como chumbo. Desmontar e reciclar o e-lixo, que pode envolver partes queimadas, causa problemas de saúde. “Os trabalhadores sofrem com alta incidência de defeitos de nascença e mortalidade infantil”, escreveu o PACE. “Elementos tóxicos são encontrados no sangue de trabalhadores informais em depósitos de e-lixo, onde a queimada a céu aberto é usada para coletar material.”

A PACE quer combater esse problema conscientizando sobre os perigos de saúde e o custo econômico do e-lixo, construindo parcerias com corporações e governos, depois realizando planos coordenados para abordar o problema. A PACE acha que pode conseguir fazer as corporações agirem por interesse próprio.

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Imagem via ONU.

“O valor material [do e-lixo] sozinho é de US$ 62,5 bilhões, três vezes mais que a renda anual das minas de prata do mundo e mais que o PIB da maioria dos países”, continua o relatório.

“Acho esse relatório excelente, mas quero ser realista sobre o que é preciso para mudar nossos comportamentos nessa questão”, disse Nathan Proctor, chefe dos esforços de direito de reparo do grupo de direitos do consumidor dos EUA PIRG. “Sem atenção e envolvimento do público, isso não é suficiente para conter o sistema entrincheirado que temos agora, que prospera com eletrônicos descartáveis. Esperamos conseguir entregar essa pressão pública para ajudar a realizar alguns dos objetivos desse relatório.”

Proctor acredita que o foco deveria estar no direito de reparo das pessoas. “A conclusão óbvia é que nosso relacionamento com eletrônicos está fora de controle”, disse. “Conserto é uma parte crítica para reparar nosso relacionamento com esses produtos e é mais eficiente que reciclagem. As pessoas devem ter a capacidade de consertar as próprias coisas. Temos lixo demais no mundo para que só as empresas que fabricam os produtos possam consertá-los. Era assim que aparelhos eram mantidos até bem recentemente.”

A nova coalizão da ONU sabe que vai precisar fazer muitos interesses divergentes, das corporações aos governos até ativistas como Proctor, agirem juntos. Mas a equipe está otimista. “A coalizão de e-lixo da ONU já teve uma reunião importante com grandes marcas, incluindo Apple, Google e outras, e recebeu todo apoio delas para estabelecer uma cooperação mais próxima sobre o assunto do e-lixo”, disse Ruediger Kuehr, diretor do Programa de Ciclos Sustentáveis da Universidade das Nações Unidas. “Está claro que só vamos conseguir canalizar essa questão para caminhos mais sustentáveis se tivermos sucesso em desenvolver uma colaboração próxima.”

Para Kuehr, conseguir a atenção das elites de Davos já foi uma vitória. “Conseguimos entrar na agenda política e estamos orgulhosos disso agora ser um tópico-chave do Fórum Econômico Mundial em Davos”, ele disse. Kuehr também apontou que mais e mais consumidores estão comprando produtos que geram e-lixo e, se o problema não for abordado, os humanos poderão estar gerando 120 milhões de toneladas métricas de e-lixo por ano em 2050. Segundo a PACE, fazer uma tonelada de notebooks libera 10 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

Kuehr acha que o maior problema do e-lixo no futuro próximo será coletar todo o lixo e o separar corretamente para reciclagem. “Mesmo em países que visam uma taxa de reciclagem de 85% – como a União Europeia – apenas de 30 a 40% são reciclados hoje”, ele disse. Para aumentar esses números, a PACE planeja pesquisar sistemas de recompensa para incentivar a reciclagem. Mas Kuehr também coloca a culpa e a responsabilidade sobre os fabricantes de eletrônicos. “Eles precisam apoiar ainda mais o reparo e renovação para mostrar o caminho.”

Montanhas de e-lixo tóxico em chamas envenenando trabalhadores, e bens de consumo contrabandeados para países como a Nigéria pintam um retrato assustador. Mas há muitas razões para ter esperança – o movimento pelo direito de reparo está crescendo nos EUA e Europa, e a nova coalizão da ONU representa uma abordagem global para o problema.

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