BK' Lollapalooza Brasil​ BLSFM
Show do BK' no Lollapalooza Brasil com projeções do coletivo BLSFM. Fotos cortesia do artista. Montagem por Vinicius Trigo. 

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Noisey

A vivência de Abebe e seus amigos de década virou projeção no show do BK'

Focando em mostrar o que viveu e quem o acompanhou nos últimos 10 anos, o rapper transformou o palco numa exposição de sua experiência no hip hop.
VT
ilustração por Vinicius Trigo

Aos 20 anos, antes de se tornar BK', o rapper Abebe Bikila fazia parte de um coletivo audiovisual formado durante um projeto social no centro do Rio de Janeiro. Ainda começando a se aventurar no rap, ele fazia experimentações musicais enquanto os outros membros do grupo – incluindo Calebe Gomes, seu irmão – conduziam experimentos de filme, animação e edição de vídeo.

Neste domingo (8), no Lollapalooza Brasil, o rapper fez uma grande celebração de seu último disco, Gigantes, e contou com a ajuda de alguns amigos e conhecidos para tal. Além das participações de Drik Barbosa, Akira Presidente, Juyé e Luccas Carlos durante a apresentação, BK' também convidou coletivo BLSFM (lê-se Blasfêmia) para voltar aos tempos de sua formação, no centro do Rio de Janeiro, e criar projeções em LED especialmente para o show. A ideia do show era trazer a vivência deles do que é ser jovem, carioca e de comunidade.

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A ideia da parceria foi de Calebe, que trabalha com o irmão desde o começo de sua carreira e foi responsável por dirigir os clipes de Gigantes. “Eu queria puxar eles pra fazer parte disso, porque é uma galera que eu sei que manda bem e, além de tudo isso, conhece da nossa vivência”, explica.

Para Caio Jonathan, 27, o rap é um gênero que enaltece não só o artista principal, como todos os outros que passaram pela trajetória dele, e esse trampo foi a consolidação dessa ideia. “Todo mundo que ele conhece, ele quer que cresça junto. É o rap que possibilita isso, então é sobre você crescer e não esquecer de onde veio.”

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Show do BK' no Lollapalooza Brasil com projeções do coletivo BLSFM. Fotos cortesia do artista. Montagem por Vinicius Trigo.

Já desde o Castelos & Ruínas, cuja capa é uma foto do fotógrafo carioca Wilmore Oliveira, BK' mostra ser um artista que se importa com o aspecto visual de sua obra e seus vizinhos de vida. O rapper vem, desde então, intensificando esse aspecto e deixou isso claro com Gigantes: a capa do disco e de "Correria", seu primeiro single, são pinturas do Maxwell Alexandre, cuja pintura inspirada pela canção "Quadros", Éramos as cinzas, agora somos o fogo, faz parte do acervo oficial do MASP. A trilogia de clipes "Correria", "Deus do Furdunço" e "Julius" também são trabalhados bem pensados e produzidos, dirigidos por Ronaldo Land e Calebe.

Quando falamos em estrutura de shows ao vivo, ainda são poucos os rappers no Brasil que pensam conceitualmente em suas apresentações e as elaboram – seja num nível Travis Scott, conhecido por seus shows pirotécnicos e megaproduzidos, seja num nível do próprio Kendrick, que com apenas algumas projeções e interludes consegue transformar sua apresentação num filme de kung fu. Um bom exemplo pioneiro por aqui é o Don L que, no show de estreia de Roteiro pra Ainouz, Vol. 3 em janeiro do ano passado, contou com uma estrutura de palco distópica criada por Camila Schmidt.

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"É muito importante enaltecer essas partes que estão mais de segundo ou, às vezes, terceiro plano", comenta Robson. "Tem que botar a cara, tem que falar, tem que investir. O BK' reconheceu isso e nós tivemos uma oportunidade de buscar."


Assista BK' respondendo ao nosso Questionário Noisey da Vida:


O resultado foram animações criadas com base nas interpretações pessoais dos membros, mas que não deixavam de lado os contextos das músicas sobre as quais foram criadas, e que foram projetadas num telão atrás do palco. "As músicas do BK' sempre têm um conceito por trás, então foi o casamento perfeito. Estávamos organizando ideias pra tentar passar a imagem da música da melhor forma pro público", explica Robson Amaro, 27, um dos membros do coletivo.

Já BK', por si só, tem carisma o bastante pra preencher todo o Autódromo de Interlagos e mostrou isso desde os primeiros momentos do show de ontem: durante a apresentação, ele desmascarou o Djonga, que estava "disfarçado" com o moletom por cima da cabeça perto das grades do palco, e prometeu tomar uma cerveja com os fãs assim que o show acabasse.

Pelo tamanho do palco e a energia do rapper e daqueles que subiram para se apresentar com ele, é possível que algumas animações tenham passados despercebidas aos olhos dos espectadores mais desatentos, mas elas acompanharam, com um belo sincronismo de ideias, todo o set de BK'.

Algumas eram um tanto literais, como silhuetas de pessoas e animais correndo durante "Correria" e mosaicos de corações durante "Planos", a lovesong com a participação de Luccas Carlos; algumas, como as luzes piscantes de "Jovens", lidavam um pouco mais com a abstração e as metáforas contidas nas letras do rapper.

Era só o começo do domingo no Lollapalooza quando ele subiu no palco, mas uma galera já se amontoava para assistir o rapper – e, quem sabe, ficar até mais tarde pra pegar um bom lugar para ver o Kendrick Lamar, última atração da noite no palco principal.

Tal qual o próprio Djonga mostrou no mês passado com seu disco Ladrão, BK’ mostrou na prática no palco de um dos maiores festivais nacionais. Colocando pretos pra fazer dinheiro, o rapper usou do espaço conquistado pra recuperar uma história de raiz e, de quebra, mostrar a sua visão sobre o que o rap nacional pode ser - ao menos no palco. BK' viu a oportunidade de resgatar uma parte de sua história para levar nos lugares em que hoje ocupa. Em um festival direcionado para um público elitizado e de maioria branca, trazer amigos de uma década para projetar suas artes consolida o que o rap quer significar.

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