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Ensinei um Cara Adulto a Andar de Bicicleta

Quando meu amigo (e jornalista da VICE) Clive me disse que, apesar de ser um homem feito, ele não sabia andar de bicicleta, decidi ajudá-lo – fazendo ele passar vergonha neste post.

A andragogia é um lance obscuro na nossa sociedade. Existem certas coisas — ler, escrever, enrolar um, falar com o sexo oposto sem ajuda do item anterior ou de um roteiro escrito — que você tem que saber fazer até sair da escola ou adultos vão te rejeitar.

As autoridades tentam nos enganar de todo jeito, mas não dá pra amparar cada órfão do senso comum que fica pelo caminho. Então, quando o meu amigo (e jornalista da VICE) Clive me disse que, apesar de ser um homem feito, não sabia andar de bicicleta, decidi ajudá-lo — fazendo ele passar vergonha neste post.

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Fiquei comovido com sua triste história. Seu pai — o Clive me revelou num momento de honestidade bêbada cheia de lágrimas — era um “londrino impaciente”, que logo cansou de ensinar o menino Clive assim que seu irmão mais novo ganhou a corrida fraternal pra dominar a arte de andar de bicicleta.

Chega uma idade em que, de repente, se torna inaceitável ainda estar aprendendo a andar de bicicleta, e Clive, quando chegou nesse ponto, decidiu que isso não importava mais. Ele ainda podia caminhar e estava fazendo muito progresso nos patins. Por isso, o ciclismo foi deixado de lado. O mundo podia esperar.

Não mais. Com a patinação se tornando ainda menos socialmente aceitável do que há 15 anos, era hora do Clive subir nas duas rodas e sentir o vento em seus cabelos.

Seguimos pra Weavers Fields em Bethnal Green, Londres. No caminho, encontramos outro aprendiz. Tentamos armar uma corrida pra você dar risada, mas é difícil fotografar um homem "andando" de bicicleta quando ele avança de dez em dez centímetros, colocando o pé no chão pra não cair a cada intervalo desses.

Se você quer interpretar um papel, tem que vestir o figurino. Eu esperava que esses shorts de ciclismo e esse top desenhado pra lutadores de Taekwondo permitissem ao meu aluno vencer a batalha mental antes mesmo que a batalha física começasse. Mas acho que só deixei ele parecendo uma lésbica-bomba, sei lá.

Um pupilo precisa confiar em seu mestre. Ele precisa saber que seu professor é fodão no assunto que está ensinando. Olha pra mim — sou

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foda. Quando o assunto é ciclismo, eu manjo. Mas aí atingi uma pedra literal e metafórica no caminho. Isso acabou com a confiança do Clive. Ele percebeu que seu herói era falho e isso o assustou, como um cachorro que vê seu mestre batendo o dedinho na quina do armário.

Era hora de me impor. Tentando não mandar o Clive dolorosamente pro chão nem fazê-lo ser engolfado por chamas, optei por segurar a bicicleta pela frente e meio que fazer um moonwalk ao contrário, ganhando ritmo até que ele estivesse pronto pra ser livre como o pássaro que eu acreditava que ele era.

Isso pareceu dar bons frutos. Clive, um adulto agora, passou anos vendo as pessoas deslizarem por ele em suas bicicletas, então colocou suas observações em uso. Olhei em seus olhos. Ele olhou nos meus. Eu disse que ele estava seguro. Disse pra ele que, mesmo se o deixasse naquele momento, eu nunca o deixaria de verdade, porque sempre estaria ali com ele.

Ah, os sonhos realizados! O menino se tornou um homem. O aprendiz se tornou o mestre. O girino se tornou sapo. O Clive estava pedalando uma bicicleta. Depois Clive me disse que se sentiu “livre”, que um grande peso tinha sido tirado de seus ombros e que, enquanto pedalava pela grama, sentiu uma felicidade que nunca tinha sentido antes.

Clive tinha dominado a robusta bicicleta de três marchas com cestinha. Mas estamos no leste de Londres e nosso garoto não queria ser um quadradão, ele queria se misturar à multidão de ciclistas descolados. Quando se trata de pedalar, sou um conservador. Você nunca vai me ver com aquelas sapatilhas de presilha, indo a cafés que também são lojas de bicicleta com corredores que podem atravessar Londres inteira em seis minutos e têm tatuagens de chave Allen no braço. Então chamei o Sam Voulters, guru de moda da VICE UK e aficionado por bikes, pra vestir o Clive e mostrar pra ele o que era uma bike “da hora” de verdade. Foi difícil. Mas depois de arrumar alguns problemas com a correia ele já estava correndo de novo. Inacreditável. Criei um monstro. Clive já estava se gabando de todas as vadias que ia descolar com seu novo brinquedo e todos os motoristas que iria processar. Era hora de derrubar aquele topete.

No meu papel de professor, era meu dever ensinar o Clive que o orgulho sempre vem antes da queda. Fiz isso com ajuda de uma árvore. Se um dia você for ao Weavers Fields em Londres, é a árvore com uma “bicicleta fantasma” acorrentada nela.