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Esse Cara Vem Trolando Neonazistas Há Quase uma Década

Esse cara, sob o pseudônimo de Andy Flemming, se infiltrou nos círculos neonazistas australianos para disseminar as informações em seu programa de rádio e em seu blog. E recebeu inúmeras ameaças de morte por conta disso.

Foto cortesia do autor.

Mês passado, um partido de extrema-direita chamado Australia First postou detalhes na internet do homem que eles acreditam estar por trás do pseudônimo Andy Fleming. Na última década, "Fleming" vem enfrentando os neonazistas locais. E eles não estão nada felizes com isso, claro. Ele já recebeu incontáveis ameaças e abuso racial, o que justifica seus esforços para permanecer anônimo.

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Estudos mostram que o racismo é uma preocupação crescente na Austrália, e Fleming é um protagonista natural a se levantar contra isso. Ele decidiu agir depois de ver a face nazista da cena punk em sua cidade, Melbourne. Para evitar ser encurralado, ele precisava esconder sua identidade. Fleming resolveu usar táticas estilo Anonymous para se infiltrar nesses círculos e disseminar o que encontrava em seu programa de rádio e em seu blog. E assim, ele reuniu um bom grupo de seguidores (o blog tem mais de 2,75 milhões de visualizações – e Fleming não pensa em parar tão cedo).

Consegui entrar em contato com o homem por trás do nome e saber mais sobre sua batalha contra os supremacistas brancos.

Skinhead neonazista com um patch em alemão que diz: "Skinhead: Branco e Orgulhoso". Foto cortesia de Wikimedia Commons. VICE: Como você reagiu quando viu as informações que tinham vazado?
Andy Fleming: Não é a primeira vez que esses caras acham que me identificaram. Havia um perfil na página do meu blog no Facebook que sempre fazia comentários hostis. Já bloqueei esses caras, e então as informações foram postadas no site do Australia First.

Recebi um e-mail do homem que eles acharam que era eu, e ele me disse que estava recebendo telefonemas e mensagens ameaçadoras. Convidei o cara para participar do meu programa de rádio para esclarecer as coisas, mas muita gente ainda não está acreditando.

Como você se envolveu no combate a esses grupos?
Eu meio que caí no buraco pela recomendação dos outros. Comecei meu blog, SlackBastard, por volta de 2005, como meio de canalizar minhas opiniões políticas. E as coisas evoluíram daí.

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Eu sei que você está transmitindo informações sobre esses grupos em seu programa de rádio. Quais foram as consequências disso?
A estação vem recebendo algumas ameaças. É um show gravado, então, se algum grupo aparecer na estação, o DJ trabalhando lá na hora pode ser confundido comigo. Isso, obviamente, é muito precário, mas a estação me apoia. Estamos discutindo no momento como resolver isso.

Como a cena punk se relaciona com os neonazistas?
Há um elemento na cultura punk que atrai a extrema-direita. Isso atingiu o auge com os movimentos neonazistas do final dos anos 1980, e havia muito conflito nos shows. Mas gosto de pensar que a maioria dos punks assina embaixo do slogan do Dead Kennedys: "Nazi Punks Fuck Off".

Que tipo de táticas você usa para se proteger?
Às vezes, disfarço meu endereço de IP, e nunca revelo meu nome ou detalhes que possam ser rastreados. Vários conhecidos meus que já escreveram sobre a extrema-direita têm recebido muita intimidação por causa disso.

Qual foi a pior ameaça que você já recebeu?
Recebi muitas ameaças de morte. Publiquei uma compilação delas no meu blog recentemente. Também tenho recebido muito abuso por causa de meu suposto status de judeu.

Qual é seu maior objetivo?
Promover o antifascismo e o anarquismo. Minha própria política é antitética ao fascismo – existimos em lados opostos do espectro político – então, promover minha visão é muito importante para mim.

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Como os supremacistas brancos da Austrália se comparam a grupos de outros países ocidentais, como EUA e Reino Unido?
Os nazistas são marginais na sociedade ocidental. Esse não é o caso em países como Grécia e Hungria. Eles estão do lado oposto do espectro e há vários partidos similares aparecendo por aí. Tem havido um crescimento em grupos similares ao Tea Party norte-americano, ao UKIP na Inglaterra e ao One Nation na Austrália. Esses partidos expressam preocupações similares com o fascismo, mesmo sem serem tão extrema-direita.

Vale mencionar que, no Ocidente, o antissemitismo entre os neonazistas está sendo substituído por um sentimento antimuçulmano, impulsionado pela Guerra ao Terror.

O que os neonazistas andam orquestrando pela internet?
Muitos deles são bastante ativos nas redes sociais – sua maior comunidade é a StormFront. Muitos desses grupos organizam eventos, encontros e, ocasionalmente, tentam invadir encontros da extrema-esquerda.

Com que frequência você acha que ataques – como ao vietnamita Minh Duong – acontecem?
Definitivamente, vêm acontecendo incidentes de ataque a imigrantes em Melbourne, no entanto, às vezes é difícil confirmar os motivos. É difícil distinguir esses casos de, digamos, espancamentos aleatórios. O que é realmente preocupante é a popularização da ideia de que esses ataques são legítimos porque a vítima não era branca ou australiana.

Estudos recentes mostraram que o racismo é a maior preocupação dos migrantes que vivem na Austrália. No geral, você acha que o racismo está piorando no país?
Sim. Vendo a política e a mídia, a raça é uma questão que vem sendo abordada de maneira cada vez mais vulgar e aberta. Há uma retórica grande de proteção às fronteiras australianas, o que invoca muita paranoia.

Qual será o impacto se o primeiro-ministro Tony Abbott conseguir aprovar a alteração na Lei de Discriminação Racial?
Acho que essas mudanças poderiam encorajar aqueles que estão relutantes e deixar o racismo mais presente, já que ele seria entendido como algo aceitável. Isso só vai piorar as coisas.

Há uma distinção entre skinheads e boneheads?
Os skinheads se desenvolveram no Reino Unido no final dos anos 1960, começo dos 1970. Os Boneheads são a infiltração da extrema-direita na cena. É muito contraditório que supremacistas brancos tenham se envolvido com a ideologia skinhead, que se inspirou muito na cultura jamaicana em termos de moda e música. Bonehead é um termo para os skinheads que traíram as raízes da cultura.

Como os australianos podem evitar esses grupos?
As suásticas são uma pista óbvia – mas, na realidade, nem sempre é tão aparente assim. Em muitos lugares, os neonazistas adotaram as modas da extrema-esquerda. Não é mais tão fácil identificá-los.

Eles fazem reuniões e shows, então, é óbvio que você deve evitar essas coisas como o diabo foge da cruz. A mentalidade de grupo sempre promove a violência.