O que Ocorre com o Corpo de uma Mula de Cocaína Quando as Cápsulas Rompem?

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O que Ocorre com o Corpo de uma Mula de Cocaína Quando as Cápsulas Rompem?

Na série Narcos, uma mulher morre depois que trouxinhas com cocaína quebram dentro de si. Eis o que se passaria dentro dela.

Narcos, a nova série do Netflix, tem uma cena sinistra em que uma jovem grávida morre na sala de emergência de um hospital em Miami, nos Estados Unidos, depois de ter ingerido sem querer 12 gramas de cocaína.

A mando de um traficante colombiano, ela ganharia uma grana para ingerir cápsulas seladas da droga e entregá-las aos receptores em outro país – a conhecida prática de "mula". O azar dela é que, durante o voo, os comprimidos com a droga se rompem. A quantidade de cocaína na corrente sanguínea é tamanha que não há qualquer chance dela e do bebê sobreviverem.

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A cena – nada incomum fora da ficção – me lembrou de um post de uns anos atrás em que eu examinava a fisiologia por trás de uma megaoverdose de cocaína. Resolvi resgatar.

Em 2011, uma jovem mula irlandesa foi presa em um aeroporto brasileiro com 72 pacotes de cocaína em seu sistema digestivo. O total era de 830 gramas. Os detalhes são escassos sobre como o suspeito passou por uma máquina de imagiologia médica e gerou a perturbadora imagem acima, mas de qualquer forma, a mula estava viva e passava bem depois da remoção dos pacotes. Ela foi condenada a 15 anos de prisão por tráfico internacional de drogas.

O mecanismo utilizado para a remoção dos 72 pacotes nunca foi especificado. Traficantes de baixo risco (aqueles que têm poucos pacotes dentro de si) podem ser enviados a um sanitário especial para soltar um barro enquanto policiais com luvas inspecionam o conteúdo das fezes. A mula irlandesa, porém, contava com fatores de alto risco por causa da quantidade de pacotes. Cirurgia não é o melhor caminho nessas horas, mas levando em conta como a parada estava espalhada por tudo que é lugar, talvez tenha sido a única opção.

Ele deu sorte. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association em 1983 analisava 47 mulas. No total, um deles acabou rompendo um dos pacotes durante a defecação enquanto outros 12 tinham pacotes prestes a serem rompidos dentro de si. Isso é ruim, ok. Mas o quão ruim?

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Supõe-se que, se um único pacote de cocaína se rompe no seu estômago ou intestino, você já era. Overdose garantida. E se fizermos um cálculo rápido, vemos que a suspeita está certa. Cada um dos 72 pacotes que o cara levava tinha cerca de 11 gramas de cocaína, o que rende mais ou menos 220 carreirinhas. É muito pó – e pó, ao contrário do que se imagina, chega com as mesmas concentrações seja pelo seu nariz ou pelas tripas. No último caso demora mais, o que faz com que a droga pareça bem mais fraca. Mas o efeito é o mesmo.

Digamos então que um pacote se rompeu em algum ponto do corpo de uma mula. São 220 carreirinhas liberadas de uma vez. Levará cerca de 30 minutos até que a droga seja absorvida, de acordo com tudo que encontrei sobre assunto. A dose fatal para humanos é de 1,5 gramas. Um dos pacotes tinha 11.

Dirão alguns que as pessoas cheiram mais que isso o tempo todo – ou ao menos dizem que cheiram. É só googlar "o máximo que de pó já cheirado" e encontraremos um tantão de gente que se gaba de cheirar vários papelotes de uma vez só. Como explicar? Bem, a real é que nunca houve um estudo científico sobre o quanto um humano aguenta de cocaína.

Crédito: drugabuse.gov

Dá pra imaginar vários motivos pelos quais os pesquisadores não curtem muito essa ideia de testar limites de seres humanos com o pó e tal. Mas com animais é diferente. Há vários testes por aí. A dose de cocaína LD100, quantidade necessária para matar 100% das cobaias, para um cachorro (de 68 kg) é por volta de uma trouxinha. Para um rato, chega-se a 13,5 gramas. (Se você viu os primeiros episódios de Narcos, deve saber que ratos piram em cocaína.)

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Se nossa mula fosse um puta ratão, ele talvez conseguisse absorver 11 gramas de cocaína sem morrer graças a um derrame, uma série de infartos, hemorragia, hipotermia ou delírio mesmo.

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O termo médico exato para o que estamos falando é "síndrome de acondicionamento corporal". Aparentemente, segundo relatos médicos, é possível sobreviver a um pacote rompido com auxílio hospitalar. Os doutores ministram benzodiazepínicos por via intravenosa, o que rebate os efeitos estimulantes no sistema nervoso central, e também resfriam a pessoa com gelo para impedir que morra de superaquecimento. (Mas, mesmo com todo esse esforço, muita gente morre porque é tarde demais.)

Não encontrei números totais decorrentes da prática, mas alguns dados podem ajudar a colocar tudo em perspectiva: entre 1990 e 2001, por exemplo, 50 pessoas morreram em Nova York por causas relacionadas. Se liga, guerra às drogas.

Tradução: Thiago "Índio" Silva