Jair Bolsonaro fala à imprensa no Rio de Janeiro. Fernando Frazão/Agência Brasil​
Jair Bolsonaro fala à imprensa no Rio de Janeiro. Fernando Frazão/Agência Brasil

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Politică

As perguntas que Jair Bolsonaro ainda não respondeu

De situação militar na Venezuela a comércio exterior com os EUA e Petrobras, listamos pontos importantes de seu plano de governo que permanecem obscuros.

Que Jair Bolsonaro não gosta de debater, a gente já sabe — antes mesmo do terrível ataque que sofreu em Juiz de Fora, já tinha anunciado que não participaria mais de debates após ser chapuletado por Marina Silva. Desde que foi esfaqueado no dia 6 de setembro, o candidato do PSL tem controlado milimetricamente a sua agenda, e passou para o segundo turno sem responder a uma série de questões importantes que impactam diretamente no futuro do Brasil e dos brasileiros.

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Após ele cancelar os novos debates que faria por recomendações médicas — apesar de marcar um evento público na mesma data — corremos o risco de termos um segundo turno novamente sem debates, e sem que essas perguntas sejam feitas ao candidato. Por isso mesmo, nós da VICE levantamos alguns tópicos de suma importância para que, se não forem respondidos, ao menos leve à reflexão dos eleitores as intenções por trás dessa opacidade da campanha do ex-capitão. Vai vendo:

Combate à corrupção

O PTB foi um dos primeiros partidos a declarar apoio a Bolsonaro no segundo turno. A questão é que praticamente toda a cúpula do partido, incluindo o presidente Roberto Jefferson, está sendo investigada dentro da Operação Registro Espúrio da Polícia Federal, que acusa o PTB de liderar um esquema de desvios e propinas no processo de registro de sindicatos quando o partido controlava o Ministério do Trabalho durante o governo Temer. Caso seja eleito, O senhor vai garantir a continuidade das investigações? Vai dar liberdade para a PF prender o líder do partido que foi o primeiro a apoiá-lo? Qual vai ser o espaço do PTB em um governo Bolsonaro?

Desde 2002, os governos Lula e Dilma se comprometeram a seguir com uma regra democrática de escolher o novo Procurador Geral da República através de uma lista tríplice, votada pelos próprios procuradores federais. Os governos petistas sempre escolheram o primeiro colocado da lista, mesmo quando foi Rodrigo Janot, peça-chave para o impeachment de Dilma. Essa regra só foi quebrada por Michel Temer, que escolheu Raquel Dodge, segunda colocada da lista. Apesar disso, o presidente não tem obrigação de seguir essa regra, podendo indicar qualquer procurador que preferir para o cargo — um general da sua campanha recentemente criticou a atuação do MP em uma entrevista, por sinal. O senhor se compromete a continuar com essa regra ou vai atropelar a classe dos promotores federais?

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Privatizações e energia

O senhor tem se desmentido constantemente em relação às privatizações. Já falou inúmeras vezes que iria vender tudo, mas recentemente voltou atrás, contradizendo o seu plano de governo, que diz depender das privatizações para reduzir a dívida pública. Afinal, o que exatamente o senhor quer vender? A Petrobras será vendida? Qual vai ser a política de preços da empresa? O preço do combustível no Brasil vai flutuar de acordo com o mercado internacional (é bom lembrar que as previsões são de que o barril de petróleo vá a US$ 100 em 2019), como na época de Pedro Parente? O senhor tem medo de uma nova greve dos caminhoneiros? Se ela acontecer, o senhor vai reprimir os manifestantes?

O plano de Guedes sugere a privatização de ao menos dois bancos públicos controlados pela União, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. Com a pressão enorme dos juros reais sobre a capacidade produtiva brasileira, qual é a sua política para baixar os juros para investidores, empresários e consumidores? Não existe o risco de aumentar ainda mais o monopólio das instituições financeiras sobre o brasileiro?



Política e comércio exterior

O senhor diz ter um apreço especial pelo governo de Donald Trump nos EUA, e chegou a bater continência à bandeira norte-americana em uma visita ao país. Recentemente Trump criticou o Brasil, dizendo que nosso país trata “injustamente” as empresas norte-americanas. Além disso, a guerra comercial de Trump com a China está prejudicando os fazendeiros que plantam soja nos EUA, mas ajudando muito os produtores brasileiros. Como será sua postura no comércio exterior com os EUA? Fará um comércio ideologizado? Vai barrar as exportações brasileiras para países comunistas como a China? E se Trump retaliar os produtores agropecuários brasileiros?

Além disso, o governo Trump tem reforçado a ideia de uma intervenção militar direta na Venezuela. Qual seria a postura de um governo Bolsonaro diante de uma guerra nas nossas fronteiras? Participaria de uma ação armada ao lado de Trump? E se a Rússia intervir? Se o Brasil entrar em guerra com a Venezuela, teremos convocação militar para os jovens brasileiros?

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Drogas, segurança e saúde pública

O senhor está se candidatando com uma retórica de combate ao crime. Estima-se que o Brasil solucione em torno de 8% dos seus homicídios, uma taxa vergonhosa. Em estados que investiram em investigação, a taxa de homicídios cai, mostrando que a inteligência é mais importante que a repressão direta no combate ao crime contra a vida e a impunidade. Como o senhor pretende mudar essa taxa tão baixa? Como o “excludente de ilicitude” aos policiais pode ajudar nisso?

Aliás, sobre excludente de ilicitude, caso a proposta seja aprovada, o que impede de um policia passar a mão na bunda da minha namorada e, se eu for reclamar com ele, me dar um tiro na boca e depois sair dizendo que eu era bandido?

A bancada da bala fala em voltar com medidas repressivas para usuários de droga. O senhor patrocinaria esse projeto?

O canabidiol (ou CBD) é uma substância medicinal derivada da maconha que vem sendo liberada paulatinamente pela Anvisa e por decisões judiciais, especialmente no tratamento de crianças com epilepsia grave. O senhor conhece os benefícios do CBD? O senhor pretende barrar a importação e produção local de CBD, uma vez que é derivado da maconha?

O senhor já declarou que o HIV seria um problema pessoal, e não caso de saúde pública. O senhor cortaria o tratamento de soropositivos pelo SUS? Diminuiria as campanhas de prevenção existentes hoje? Não tem medo de que o Brasil sofra com uma epidemia de Aids?



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