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A revista acadêmica que estuda fotos de Mark Zuckerberg

A primeira edição do “The California Review of Images and Mark Zuckerberg”, lançada esta semana, é mais interessante do que parece.

O Mark Zuckerberg mudou a forma como pelo menos um quarto dos humanos no planeta vê as coisas. Olhar as fotos postadas no Facebook, muitas vezes, é a forma que temos de saber como é o nenê da nossa amiga ou a cor do cabelo da ex do nosso namorado. Agora uma revista acadêmica quer explorar não a forma como nós vemos uns aos outros no Facebook, mas como o Mark Zuckerberg vê a si mesmo.

A The California Review of Images and Mark Zuckerberg dedica-se a “analisar representações visuais específicas do Mark Zuckerberg na mídia de massa, e vinculá-las a um discurso crítico e acadêmico mais abrangente”, de acordo com um post chamando para envios, de autoria de Tim Hwang, fundador e editor da publicação.

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O projeto começou quando Hwang conversava com um amigo e descobriu que ambos colecionavam imagens do Mark. “Estávamos nos exibindo e trocando imagens do Zuck, estávamos colecionando Zucks raros”, Hwang explicou. “Ele tem uma qualidade estranha que culmina em cenas visualmente esquisitas.”

Na superfície, a revista pode até parecer destinada a um nicho específico ou algo difícil de ser criado. Afinal, será que existe material suficiente sobre a iconografia do Mark Zuckerberg a ponto de produzir uma revista dedicada a esse assunto?

A primeira edição da publicação, que foi lançada na segunda-feira, prova que sim: ela inclui seis ensaios escritos por um grupo diverso de acadêmicos, como a historiadora da ciência Melissa Lo e o estudioso de mídia Ethan Zuckerman.

“Fiquei muito surpreso”, Hwang me contou pelo telefone. “Quando criei a chamada para os artigos, achei que fôssemos encontrar apenas uma ou outra pessoa interessada.” Ela me contou que recebeu quase 100 submissões.

Cada ensaio trata de uma, ou uma série de, representação(ões) visual(is) do fundador do Facebook. “Intimidades Neocoloniais” mergulha nas implicações geopolíticas de um abraço particularmente constrangedor entre Zuckerberg e o primeiro ministro indiano Narendra Modi. “A Insignificância Significativa de Mark Zuckerberg” explora o significado de uma das fotos de perfil do CEO de 2013, publicada uma década antes de o Facebook ser fundado, em 2004. Outra seleção, “Zuckerberg Suado e Computação Fresca”, de autoria de Mél Hogan, examina uma entrevista particularmente úmida de Zuckerberg sobre as políticas de privacidade do Facebook em 2010.

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Hwang me contou que o interessante sobre o Zuckerberg é que ele acaba sempre com uma imagem terrivelmente estranha, apesar de sua imagem ser moldada cuidadosamente. “Ele é extremamente controlado, mas, por algum motivo, se tornou muito estranho”, afirmou Hwang. “Como é possível que essa celebridade CEO tenda a emergir com essa imagem política? Há muito a escrever sobre isso, acredito, é um poço bastante profundo.”

Quando ouvi falar da The California Review of Images and Mark Zuckerberg pela primeira vez, lembrei de um fenômeno em particular cujos acontecimentos eu testemunho, na página do Facebook do CEO, toda vez que ele compartilha opiniões e atualizações de sua empresa com as cerca de 100 milhões de pessoas que escolheram “segui-lo”.

Nos comentários, vários fãs do Zuckerberg se envolvem naquela prática antiga do fandom da internet: postar arte de fã. A maioria das imagens é do rosto do Zuckerberg. Ao rolar a página de comentários, é possível lembrar do motivo real da California Review of Images and Mark Zuckerberg : documentar o modo como o fundador do Facebook seja, talvez, o líder corporativo mais visual do planeta.

“Basicamente, Zuckerberg é muito visual de um jeito que os outros CEOs não conseguem”, Hwang me contou. “Eles não desenvolveram tanta atenção visual quanto Zuckerberg. Desde Steve Jobs, não tivemos mais ninguém tão icônico.” Talvez o único equivalente ao Zuckerberg seja o Elon Musk, fundador da Tesla e do SpaceX, que também é motivo de uma quantidade imensa de arte de fãs.

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Usuários mais casuais do Facebook sabem qual é a imagem do Zuckerberg. O CEO usa o recurso de exibição ao vivo do Facebook com frequência para mostrar a si mesmo explicando os recursos e programas novos da empresa. A exibição geralmente mostra o Mark sozinho, olhando para a câmera.

Mark sabe que está sendo constantemente observado e que a imagem que ele mostra para o mundo está sendo intensamente julgada e analisada por seus fãs e críticos. Por exemplo, ele passou boa parte do ano de 2017 fazendo uma viagem de relações públicas meticulosamente planejada pelos EUA, que foi regularmente documentada em sua página do Facebook.

A turnê foi tão orquestrada que fez muitos questionarem se não se tratava de uma grande estratégia para concorrer a um cargo político. Outros, eu inclusive, argumentei que a turnê era justamente para torná-lo – e também o Facebook – mais confiável para seus bilhões de usuários.

Essa turnê também estimulou jornalistas a escreverem longos perfis a fim de descobrir a real identidade de Zuckerberg, e qual o efeito de sua persona na sua empresa. Isso só faz sentido quando, em algum momento, os acadêmicos também quisessem analisar o papel de Zuckerberg em nosso mundo através de suas próprias lentes. Hwang simplesmente forneceu uma plataforma para que eles fizessem isso com sua revista.

Mark Zuckerberg é um “meio realmente interessante para falar sobre muitos assuntos importantes”, Hwang me contou. “Todo esse fenômeno é misterioso, como um fractal, e quanto mais você olha para ele, mais estranho ele fica.”

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