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A luta pela casa própria em 'Final Fantasy XIV'

A especulação imobiliária no MMO da Square Enix está causando protestos entre os jogadores.
Shirogane, o novo distrito residencial de 'Final Fantasy XIV'. Imagens: Square Enix/Reprodução.

Muita gente quer ter um cantinho de mundo para chamar de seu, até mesmo nos games. Em Final Fantasy XIV, MMORPG da Square Enix que recebeu recentemente sua segunda expansão, "Stormblood", há um sistema imobiliário no qual jogadores podem adquirir um lote e construir uma casa — mas nem todos têm essa oportunidade, apesar de todos pagarem a mesma mensalidade pelo jogo.

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O game conta com quatro áreas residenciais, com um número limitado de lotes disponíveis para compra. Quando FFXIV passou por seu relançamento em agosto de 2013, essas áreas ainda não existiam. Três delas foram adicionadas posteriormente, em uma atualização ainda naquele mesmo ano. Nessa época, o preço dos lotes era absurdamente alto em relação à quantidade de Gil (a moeda do jogo) em circulação. Um lote grande de primeira classe poderia custar 625 milhões, dependendo do servidor (os preços variavam de acordo com a população dos servidores). Juntamente a isso, a aquisição de lotes era restrita às Free Companies, que são como guildas ou clãs.

As áreas residenciais são excelentes pontos sociais nos quais você pode fazer novos amigos, interagir com vizinhos, reunir seu grupo fixo de raid e ainda pode decorar a residência do jeito que quiser, tornando aquele cantinho de mundo virtual no seu cantinho de mundo virtual. Além disso, ter uma casa dá a você a oportunidade de usar o sistema de jardinagem, que resulta numa das melhores fontes de Gil no game, e para as Free Companies dá acesso a recursos como osairships e missões de exploração. No fim das contas, não é simplesmente um recurso estético.

Assim como rola nos bairros de luxo de metrópoles como São Paulo, cheios de condomínios e muros, os distritos residenciais de FFXIV eram um tanto desertos no começo de tudo, mas a Square Enix implantou uma medida para que o preço dos lotes diminuísse naturalmente com o tempo, desvalorizando 14% a cada seis horas.

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Quando finalmente liberaram os lotes particulares (independente se o jogador estava ou não em uma Free Company), os preços passaram a ser mais aceitáveis. Como é relativamente fácil fazer dinheiro em FFXIV e a Square Enix ainda ajudou com uma nova redução em 2016, ficou muito mais fácil ter a sua casinha em Eorzea.

Um lote grande de primeira classe passou a custar 50 milhões, mas seu preço mínimo poderia cair até para 24 milhões. Os lotes pequenos, que são espaçosos o suficiente para um jogador sozinho, poderiam cair para míseros 1,8 milhão de Gil. Apesar dos preços amistosos, o número de lotes continuou limitado, ou seja, só uma pequena parcela de jogadores tem, de fato, acesso a esse recurso do game. Como tudo funciona na base da “ordem de chegada”, os primeiros a chegarem no lote são os primeiros a compra-los. Não existe uma fila, uma ordem ou qualquer tipo de organização.

Usuários colocaram seus lotes a venda por dinheiro real em sites de leilão, destinados a transações entre jogadores que buscam comprar, vender ou leiloar seus lotes.

A situação da falta de lotes é pior do que parece. Há casos em que jogadores adquiriram múltiplos lotes apenas para vende-los mais tarde, a preços maiores e mais salgados, mesmo que a prática seja contra os Termos de Serviço de Final Fantasy XIV. Alguns usuários até colocaram seus lotes a venda por dinheiro real em sites de leilão. Há todo um subreddit destinado a transações entre jogadores que buscam comprar, vender ou leiloar seus lotes.

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A indústria imobiliária em FFXIV implodiu com a chegada da nova expansão, "Stormblood", e a introdução de uma nova área residencial chamada Shirogane. Além do distrito, que tem temática oriental, ser cobiçado pela sua arquitetura, lá jogadores têm mais chance de descolar uma casa. Mas tudo deu errado, de novo, talvez até pior do que antes, porque os preços dos lotes não foram ajustados e muitos jogadores já tinham juntado muito o dinheiro necessário em mãos. Todo mundo sacou que a abertura do mercado de lotes depois da atualização seria caótica, com milhares de jogadores buscando seu espacinho ao mesmo tempo.

Jogadores se aglutinam para disputar lotes em Shirogane. Via Twitter.

Muitos jogadores ficaram acordados de madrugada para serem os primeiros a entrarem no game para adquirir seus lotes em Shirogane. A página inicial do subreddit de FFXIV estava cheia de postagens reclamando da atual situação do sistema residencial do game, e questionando por que a Square Enix ainda adotava esse esquema de funcionamento. Na opinião dos jogadores, um sistema baseado em instâncias, no qual cada jogador poderia ter sua casa isoladamente, fora de uma vizinhança, o que então eliminaria o problema de ocupação dos lotes, seria uma solução. Alguns usuários argumentam que esse tipo de sistema tiraria o aspecto de vizinhança, um dos principais fatores pelos quais os jogadores querem ter as casas, e que outras medidas devem ser tomadas.

Um sistema semelhante ao de instâncias já existe na forma de apartamentos, mas o problema é que eles não dão acesso sequer à jardinagem, e também não é possível decorar o exterior. Pelo menos existem saguões no qual você pode socializar com seus vizinhos, já é alguma coisa.

Em resposta ao grande caos causado pela introdução de Shirogane, Naoki Yoshida, o produtor e diretor de FFXIV, disse no fórum oficial que o estúdio vai adicionar mais lotes a todas as áreas residenciais em uma atualização futura. A declaração afetou o mercado imobiliário clandestino, que surgiu depois que alguns jogadores compraram vários lotes e os revenderam em fóruns paralelos.

Yoshida e sua equipe também garantiram que irão estudar o feedback dado pelos jogadores com relação à maneira como os lotes são vendidos. Essa foi a primeira vez que algum integrante da equipe de desenvolvimento do game citou uma reavaliação do sistema, o que deixou alguns jogadores que ficaram fora da bolha imobiliária esperançosos, ainda que duvidosos.

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