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Relato

Uma breve história paterna de adoção

Pai adotivo de dois meninos fala sobre sua experiência.
Foto cedida pelo entrevistado

O Brasil tem mais de nove mil crianças e adolescentes no Cadastro Nacional de Adoção. Já a fila de espera para quem quer pai e mãe ultrapassa os 44 mil.

A destoante diferença entre os números é reflexo dos perfis que os pretendentes buscam. A procura é muitas vezes por crianças recém-nascidas de até dois anos de idade e brancas, como informa a TV Senado. A maioria dos menores aptos à adoção está entre as faixa dos nove ao 17 anos, maior parte declarada pardas (49,22%).

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O gerente de inovação e sustentabilidade Luis Fernando Guggenberger, 39, somou o anseio da paternidade junto ao sonho de sua então namorada Patrícia Parado, 37. Juntos, adotaram João, de dez anos e Leonardo, de seis. A adoção e paternidade foi a mudança mais marcante na vida de Luis, nos últimos cinco anos. O publicitário de formação contou seu relato paterno ao repórter Bruno Costa:

"A vontade de ser pai adotivo veio desde o namoro com a minha esposa, Patrícia Parado, há 12 anos atrás. A pedido dela, sempre tivemos um perfil definido: preferencialmente negro, até cinco anos, menino ou menina.

Levamos um ano entre a palestra de introdução, entrega de documentos, entrevistas para entrar no Cadastro Nacional. O perfil de crianças e o fato de aceitarmos irmãos certamente influenciou para que o processo todo fosse muito rápido.

Em meados de 2013, demos entrada no Fórum de Santana/Casa Verde, em São Paulo. Soubemos do aceite 20 dias depois de termos entrado na Cadastro Nacional de Adoção. Nos ligaram do Fórum sobre os dois e agendamos na semana seguinte para um Fórum em outro lado da cidade, para conhecer o caso dos dois. Fomos ao abrigo conhecê-los e então tivemos 30 dias de adaptação com as crianças, visitando-os em duas manhãs por semana e aos domingos eles passavam o dia todo conosco. Foi muito rápida toda a adaptação.

O nosso primeiro encontro no abrigo foi sem dúvida o momento mais marcante, até hoje. Estávamos ansiosos e ao mesmo tempo com medo de como as crianças reagiriam, pois adotamos dois irmãos biológicos da mesma mãe. E foi incrível. Eles brincaram conosco naturalmente. O João, meu mais velho, de certa maneira sabia o que estava se passando. Ele tinha cinco anos, já o Léo tinha um ano e 11 meses. Outro momento marcante foi quando os levamos pra casa em definitivo. O brilho nos olhos ao verem o quarto pronto, só deles, foi algo indescritível.

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O primeiro Dia dos Pais foi emocionante. Desde o carinho e o cuidado deles em me dar o presente feito na escola. Me acordar abraçando e beijando. E foi duplamente especial porque para meu sogro foi seu primeiro Dia dos Pais como avô.

Nossa vida mudou muito, minha missão é deixar filhos melhores para o mundo. Então, o que faço, as decisões que tomo são sempre pensando neles, em ser um pai presente para eles. Há um ano e quatro meses atrás troquei de emprego para poder estar mais próximo e tirar a sobrecarga da minha esposa. Hoje em dia, nos dividimos entre as participações nas reuniões com os professores, muitas vezes saio com os meninos para que ela possa ter seu próprio tempo, seu próprio espaço para fazer suas coisas, ficar sozinha consigo mesma.

É importante que o casal esteja consciente dos desafios que virão. E aos homens que apoiem mais mais, incentivem mais as esposas neste sonho de maternidade, pois nós [homens] que muitas vezes colocamos a maior trava para isso.

Em novembro deste ano os meninos completam cinco anos conosco e estão completamente adaptados e nós a eles. Espero continuar apoiando o crescimento deles, garantindo bem-estar, boa educação e muito carinho. Adoção é uma forma de amar um ser humano igual a gerar seu próprio filho."

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