Crimes de ódio contra muçulmanos estão em ascensão nos EUA

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Crimes de ódio contra muçulmanos estão em ascensão nos EUA

Dados do FBI mostram as maiores taxas desde o 11 de Setembro.
MS
Traduzido por Marina Schnoor

Muçulmanos nos EUA enfrentaram um aumento nos crimes de ódio em 2016, o ano em que se tornaram bodes expiatórios numa campanha presidencial extremamente polarizada no país, segundo novos dados do FBI divulgados na segunda-feira (13).

Os dados sugerem que os crimes de ódio contra muçulmanos aumentaram mais de 26% em 2016 chegando a 381 ofensas, segundo o FBI. É o segundo ano consecutivo de aumento; em 2015, os crimes de ódio já tinham aumentado quase 70% considerando os anos anteriores. Queixas de crimes de ódio contra muçulmanos nos EUA estão no nível mais alto desde o 11 de Setembro.

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“O aumento nacional do ano passado foi alimentado por um aumento maior que a média em jurisdições maiores e um pico na época da eleição”, disse Brian Levin, chefe do Centro de Estudos de Ódio & Extremismo da California State University, San Bernardino.

O aumento de incidentes antimuçulmanos relatado pelo FBI comprova dados encontrados por sistemas de rastreamento não-oficiais, operados por grupos como o Concil for American-Islamic Relations, a Liga Antidifamação e o Southern Poverty Law Center.

Esses grupos assistiram alarmados a como uma série de ataques inspirados pelo ISIS no país e no exterior alimentaram a retórica antimuçulmana das campanhas, afirmando que a vitória do presidente Donald Trump encorajou a islamofobia e outras formas de ódio nos EUA.

E o que talvez seja mais alarmante do que o aumento dos incidentes antimuçulmanos em si: os crimes violentos estão subindo mais rápido. Por exemplo, em 2014, 13% dos incidentes antimuçulmanos envolviam le

são corporal grave. Mas em 2016, 17% (52 no total) dos crimes de ódio antimuçulmanos envolveram lesão corporal grave, segundo o pesquisador do Southern Poverty Law Center Alejandro Beutel.

“Trump basicamente deu sinal verde para liberar a intolerância” — Alejandro Beutel

“O aumento de 2015 coincide com quando Donald Trump anunciou sua candidatura, logo depois dando início à sua retórica demonizando minorias e grupos historicamente marginalizados”, disse Beutel. “[Ele] basicamente deu sinal verde para liberar a intolerância que antes não era aceita em público.”

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Os números do FBI estão longe de ser conclusivos, isso porque o bureau depende de relatórios das agências locais, algumas das quais sequer registram crimes de ódio. De aproximadamente 18 mil agências nos EUA, apenas 15.254 submeteram seus dados de crimes de ódio de 2016.

Além disso, o padrão dos relatórios varia muito entre agências. Jurisdições com sistemas robustos de registro podem refletir uma taxa maior de crimes de ódio do que aquelas que não possuem sistema para registrar esses casos. Um estudo do Departamento de Justiça liberado no começo do ano descobriu que apenas 40% das vítimas de ódio dão queixa oficialmente. O ex-diretor do FBI James Comey declarou publicamente a necessidade de o FBI rastrear crimes de ódio de maneira mais firme.

Por mais falhos que os números sejam, eles ainda dão uma noção do que está acontecendo no país. E o retrato que eles pintam não é nada bom. No geral, diz o FBI, os crimes de ódio subiram 4,6% em 2016, tornando este o primeiro ano de aumento consecutivo em crimes do tipo desde 2004.

E os muçulmanos não são o único grupo encarando mais crimes de ódio. Foram 334 incidentes contra latinos em 2016, um aumento de 12% do ano anterior. A base de dados do FBI também mostra um aumento de crimes contra brancos: 720 incidentes em 2016, comparado com 613 no ano anterior.

Levin acredita que esse pico nos incidentes antibrancos pode ser uma resposta à ascensão do nacionalismo branco e “uma percepção de que a supremacia branca está crescendo”.

A comunidade judia também sofreu mais preconceito e crimes de ódio em 2016, revertendo uma tendência de baixa dos cinco anos anteriores. O aumento da violência contra a comunidade judia também foi observada em casos individuais que chamaram a atenção internacional, como a onda de profanação de cemitérios judeus e ameaças de bombas em sinagogas nas semanas seguintes à posse de Trump em janeiro.

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