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Sexo

Faço consolos baseados em pênis de insetos

A artista Joey Holder passou quatro anos imprimindo em 3D consolos em escala humana modelados em pênis de insetos. Então a gente tinha que conversar com ela.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
Joey Holder insect penis plaster dildo
(Foto: Damian Griffiths, cortesia da Seventeen Gallery.) 

Um objeto da era espacial está suspenso da parede de uma galeria. Poderia ser um meteoro ou uma forma de vida alienígena. Mas o formato fálico já diz tudo. O espigão estranho é o pinto de uma abelha. A artista Joey Holder passou os últimos quatro anos trabalhando em The Evolution of the Spermalege, um projeto sobre órgãos reprodutivos de insetos. Usando escaneamento 3D detalhado e microtecnologia, ela faz consolos em escala humana usáveis com base em piroquinhas de insetos. Tem vários pênis de invertebrados na exposição, incluindo de ácaros, gorgulhos, moscas domésticas e aranhas. Feitos de silicone prateado dermatologicamente testado, os consolos são realmente impressionantes. É um negócio meio David Attenborough, meio erótica sci-fi, se você transa esse tipo de coisa.

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Me encontrei com Joey para saber mais sobre a fascinação dela por genitália não-humanas.

‘The Evolution of the Spermalege', Joey Holder, 2014-and ongoing, courtesy of the artist

Um protótipo 3D de pênis de inseto (‘The Evolution of the Spermalege', Joey Holder, 2014-, cortesia da artista).

VICE: Oi, Joey, por que você está fazendo consolos de insetos?

Joey Holder: Direto ao ponto. Gostei. Sempre fui fascinada pela diversidade da natureza. Eu estava estudando os acasalamentos estranhos de certos insetos, em particular do gorgulho [caruncho] de feijão. O macho dessa espécie fura o abdômen da fêmea com seu pênis e injeta o esperma através da ferida na sua cavidade abdominal. Pode parecer bizarro pra nós, mas é só um exemplo dos curiosos rituais sexuais desses insetos. O pênis das abelhas que produzem mel quebram e explodem. A louva-deus fêmea come o macho, às vezes até durante a cópula! Decidi destacar essas práticas estranhas fazendo modelos impressos em 3D da genitália de insetos, e os aumentar para criar consolos. Pensei em como nossos desejos sexuais humanos são categorizados e como certas coisas são consideradas “tabu”. Spermalege pode nos ajudar a pensar mais abertamente. Todas as possibilidades existem na natureza.

Você já usou algum deles?

Ainda não. No momento penso neles como “objetos de arte”. Mas eles podem ser usados para propósitos eróticos já que são de silicone dermatologicamente testado. No futuro, espero expandir a disponibilidade e explorar esse caminho. Levei muito tempo para chegar até aqui porque é muito caro produzir o silicone.

Notei a citação da feminista futurista Donna Haraway no seu site. Como The Evolution of the Spermalege se relaciona com o trabalho dela sobre liberação sexual, tecnologia e ecologia?

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Haraway diz: “Precisamos de uma aliança multiespécies, através das divisões assassinas da natureza, cultura e tecnologia”. Muitas vezes tentamos criar divisões e hierarquias entre seres vivos e até não-vivos. Meu objetivo é questionar o jeito fixo como somos ensinados a pensar nos nossos corpos, identidades, gêneros e capacidades biológicas. Quero encorajar as pessoas a olhar além de categorias limitadoras. Observar outras espécies nos permite refletir sobre nossa própria existência desconcertante, e estar mais aberto a aceitar outras possibilidades. A cultura e a sociedade estabelecem o que é “normal” ou “desejável”. O mundo natural contém uma variedade de formas e comportamentos requintados, que muitas vezes são invisíveis pra nós. Imaginamos como é a vida em outros planetas, mas o que está bem no nosso nariz é mais alienígena do que qualquer coisa que imaginamos.

Another bug penis

(Foto: Damian Griffiths, cortesia da Seventeen Gallery.)

Acho que o mundo dos genitais de insetos de fato é invisível para a maioria das pessoas. Você diria que quer capturar a complexidade do mundo natural?

Com certeza. Alguns animais são hermafroditas (têm os órgãos sexuais masculino e feminino), alguns se reproduzem assexuadamente (reprodução envolvendo um único organismo), alguns são hermafroditas sequenciais (podem mudar de macho para fêmea e vice-versa). Também há animais que “agem” como o sexo oposto. Homossexualidade existe em quase todas as espécies observadas. As teorias de Darwin se centravam em reprodução, ou seja: que todos os seres vivos têm esse objetivo em mente. Pensamos que machos são promíscuos, dominantes e agressivos, e que fêmeas são castas e passivas. Para muita gente, essa é só a ordem natural do mundo. Mas a realidade é muito mais complicada! Animais já foram observados se envolvendo em sexo por prazer, interação social, demonstração de dominância ou alívio, ou em troca de objetos. Nossos próprios preconceitos culturais nos cegam, nos fazendo colocar os animais nos tipos de papéis que vemos no mundo humano ao nosso redor.

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Como seu trabalho se relaciona com suas experiências pessoais?

Já fui instrutora de mergulho. O fundo do mar tem um conjunto de regras completamente diferente: você pode se mover quase sem peso, ir em qualquer direção. Vibrações e sons podem parecer que estão ao ser redor, ou até dentro de você. E os peixes, crustáceos e tudo mais – o que me surpreendeu no começo – estão pouco se fodendo com a sua presença. É como se eles já tivessem visto de tudo, então humanos com um tanque de mergulho não chamam a atenção! Dentro do meu trabalho, quero refletir sobre esses habitats alienígenas e as criaturas que vivem neles, e mais importante, o que eles podem nos ensinar.

Obrigada, Joey.

The Evolution of the Spermalege é parte da exposição Joy Before the Object da Seventeen Gallery, Londres, que vai de 12 de abril até 25 de maio de 2019.

@hepezz

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