A Cracolândia, na região central de São Paulo, tem inúmeras particularidades e regras não ditas, mas que são eficientemente aplicadas.A primeira que descobri foi: fotógrafos não entram no "fluxo", local onde os usuários se concentram.Afeito a uma coisa errada, o fotógrafo Gabriel Uchida já nos colocou na linha de frente das torcidas organizadas, retratando uma guerra particular e compilando suas tatuagens, mas, para se chegar na Cracolândia uma porta não convencional foi a escolhida.
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"Eu comecei a frequentar a região já faz um bom tempo, passei várias noites rodando por ali, conversando com as pessoas. A ideia era fugir das lendas, mitos e preconceitos e criar um ensaio verdadeiro do cotidiano da região," explica Gabriel.Nessas caminhadas, Gabriel conheceu Índio Badaróss, artista e morador de rua descoberto pelo também artista Zezão.Badaróss ficou conhecido quando a Folha de S.Paulo lhe deu o apelido de "Basquiat da Cracolândia".
"Ele [Índio] pinta telas, muros e tudo mais o que encontrar jogado pela rua. Pode ser uma placa de trânsito, uma porta velha ou o que for. O mais louco é que como ele vive em um barraco na rua, suas obras também ficam ali e muitas vezes acabam sendo levadas como lixo pelo caminhão da prefeitura ou roubadas por algum malandro qualquer. Enquanto algumas telas estão ali tomando chuva na calçada, outras estão em galerias e com colecionadores em cidades como São Francisco, Los Angeles, Basel."
Mesmo com a notoriedade que o pintor ganhou, sua realidade não se alterou e, depois de muitas conversas com Gabriel, que ajudou doando telas e tintas, a ideia da documentação pintou.Uchida deixou três câmeras descartáveis com o morador, trocou poucas palavras e voltou em alguns dias para buscá-las. Uma delas se perdeu, mas as outras revelaram fotos incríveis do local.Os olhos do Índio Badaróss e a ideia do Gabriel Uchida nos trouxeram as incríveis imagens dessa matéria.
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