Artistas lamentam o fim do Paint
Desenho horrível de despedida feito pela repórter Marie Declercq, lembrando que fez bem em não seguir o caminho das artes.

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Artistas lamentam o fim do Paint

Após 32 anos, a ferramenta quebra-galho não será mais atualizada pela Microsoft. R.I.P. :(

Desde 1985 a humanidade se delicia com a fácil usabilidade de uma já saudosa e finada ferramenta tecnológica: o Paint. Na última quinta (20), a Microsoft botou o programinha mais quebra-galho dos internautas pelo mundo na lista dos softwares que não serão mais atualizados no próximo update do Windows 10.

Aqui, armamos uma marcha fúnebre para dar adeus e agradecer pelas graças que alcançamos na elaboração de flyers de festas ruins, na retirada de tantas espinhas da adolescência em fotos feitas com a webcam (mesmo que a resolução fosse de 2 megapixels) e nas inúmeras pirocas que desenhamos para passar o tempo. Antes do Photoshop e do gerador de memes, era lá que a geração pré-memes criava sua zoeira autoral. Paira um silêncio sepulcral no ar. Na lápide do Paint, artistas que nele muito se deleitaram dão seus relatos para compor esse triste epitáfio. Leia abaixo.

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A gótica tropical feita no Paint pelo Rafa Campos.

Rafael Campos, artista, ilustrador e autor da finada tirinha Deus Essa Gostosa

"Se os desenhistas da Marvel e da DC usassem o Paint, os gibis de super-heróis não seriam essa porcaria horrorosa cheia de sombreado e brilho cafona que é. Só passei do Paint para o photoshop porque uso tão mal o segundo que parece o primeiro."

Arte de Paint: Layse Almada

Layse Almada, artista, ilustradora e tatuadora

"Comecei a usar o Paint para ilustrar, e foi meu primeiro contato com a coloração digital. Ele é fácil, tem ferramentas acessíveis, e tem uma importância foda pra mim. Não deixem o Paint morrer!"

Bruno Maron, artista e dono do blog Dinâmica de Bruto

"Meu primeiro contato com o Paint foi em 1994. Me lembro perfeitamente, era a coisa mais fascinante do mundo fazer um desenho na tela do computador. Talvez aquilo fosse uma espécie de evolução natural de um brinquedo que eu surtava na infância: o traço mágico. Fiz uma porrada de desenho com o Paint, desenhos que provavelmente eu armazenei num disquete e agora viraram poeira cósmica, fiquei triste ao constatar que é impossível o resgate desse tipo de coisa. Os desenhos eram horríveis, mas certamente seria muito emocionante revê-los hoje. (…) O Paint seria como a Kombi dos programas gráficos, um dia iam tirar de linha, mas o carisma é eterno. Me lembro que a sequência natural foi pular pro Corel Draw, que eu sempre achei uma bosta de programa. Mais uma coisa da década de 90 que vai deixar saudades. Valeu por tudo, Paint."

Diogo Fontana, não trabalha com arte ("o máximo que fiz foi ajustar alguns banners") mas é um artista de Paint

"Eu e meus amigos temos um grupo no Whatsapp e às vezes rolava de alguém ter uma coluna semanal dentro do grupo para falar de algum tema, como cura pra ressaca, curiosidades históricas ou algum outro tema aleatório. Eu comecei a brincar com uns desenhos no Paint (sempre fui horrível com desenho) e enviava o desenho e uma descrição viajada. Daí essa ficou sendo minha coluna por uns 3 meses.

Baleiro Urbano por Diogo Fontana.

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Explicação/textão do artista sobre a obra acima: Apesar de ser uma peça com cores ditas como 'sóbrias', identificamos que as balas apresentam pigmentações fortes, quase artificiais. É uma crítica clara à quantidade de corantes que são induzidos nelas para que fiquem apetitosas e se destaquem em um mundo com uma quantidade inédita de informação. Apesar disso, normalmente elas são deixadas de lado, principalmente quando colocadas dentro de um baleiro, recipiente que junta dezenas de cores, mas que acaba deixando os produtos 'sem graça', principalmente dentro de escritórios sóbrios e sem muitas cores. Normalmente elas são deixadas próximas de uma garrafa de água ou de café, o que nos permite compreender todo um ar corporativo a elas. Até por isso, o baleiro aparece 'encostado', em uma ponta da tela.

Pedro Nekoi, designer gráfico e artista digital

"Fiz esta linda arte no Paint em meados de 2007, após ter ido ao shopping e tomado três milkshakes do Bob's e a compartilhei no meu fotolog (R.I.P.). Eu lembro que o Paint era uma das minhas ferramentas favoritas do PC. Nas aulas de informática, no colégio, a gente passava 1h só desenhando no Paint. Foi com ele que eu descobri que era possível fazer arte digital, que meu hobby de rabiscar no papel poderia ser feito no computador, com o mouse! Com certeza o acesso ao Paint me influenciou bastante pra minha profissão atual: designer gráfico e artista digital. Viva o Paint ❤"

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Alexandra Moraes, criadora do blog O Pintinho e autora do livro O Pintinho para Colorir

"Eu ainda nem consegui me recuperar totalmente de quando mudou o nome de Paintbrush pra Paint…"

O gato-pomba da Júlia Barcha.

Julia Barcha, artista e estudante de arte

"Uso bastante pra cropar imagem, redimensionar, inverter, etc. que é um programa bem leve e fácil de usar, fora a praticidade dele já vir instalado. Sempre usei pra fazer uns rabiscos bobos e rápidos no PC dos outros quando eu quero passar pra deixar um recadinho ou algo assim pra quando ela voltar. Quando desenho no paint, eu curto usar o mouse mesmo, a mesa digitalizadora (tablet) não acrescenta muita coisa. O lance do paint é ser limitado e travadão mesmo."

Arte de Walter Rego feita, sim, nele, o saudoso Paint.

Walter Rego, cartunista e designer gráfico

"Desenho desde muito cedo e, no meio dos anos 90, quando ganhei meu primeiro computador, foi instantânea a vontade de usá-lo como ferramenta de desenho – e o único software com essa finalidade era o famigerado Paintbrush. Uma vez, fiz uma apresentação de slides para uma disciplina de história da arte toda no Paintbrush. Na ocasião, eu abordava um visual meio anárquico, anti-establishments do design gráfico."

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