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Drogas

Pesquisadores dos EUA querem que médicos possam receitar cogumelos para depressão

Um novo estudo da Universidade Johns Hopkins quer reclassificar a psilocibina.
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Foto: A sala de tratamento com cogumelos da Universidade Johns Hopkins. Imagem: Matthew Johnson.

Cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, acham que é hora de mudar a classificação de certos tipos de cogumelos: querem que determinados fungos deixem de ser um narcótico perigoso e vire um possível tratamento inovador para depressão.

Desde 1970, autoridades dos EUA consideram a psilocibina um narcótico Classe I, o que significa que a substância tem alto potencial para abuso e nenhum uso médico reconhecido. Segundo pesquisadores – que conduziram vários estudos sobre cogumelos – nenhuma dessas afirmações é verdade.

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Em um artigo publicado na edição de outubro de Neuropharmacology, quatro pesquisadores – Matthew Johnson, Roland Griffiths, Peter Hendricks e Jack Henningfield – dizem que é hora do FDA americano considerar passar os cogumelos da Classificação I para Classificação IV – significando baixo potencial de abuso e poucos risco de dependência. Se a classificação mudar, os médicos vão poder receitar cogumelos em certas circunstâncias.

Nos últimos anos, pesquisadores vêm usando a psilocibina para tratar com sucesso depressão e vício em testes clínicos. Num estudo de 2016, a mesma equipe da Universidade Johns Hopkins administrou cogumelos para pacientes com câncer terminal, com o objetivo de aliviar sua ansiedade e depressão.

“Estudos mostraram que a psilocibina causa redução significativa nos sintomas da depressão e ansiedade durante pelo menos seis meses depois da dose ser administrada”, explica o novo estudo.

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Foto: Shutterstock

O estudo de 24 páginas sintetiza a pesquisa sobre psilocibina para dar ao FDA a informação que a instituição precisa para determinar se a substância deve ser reclassificada. Para classificar uma droga, as autoridades consideram oito fatores, incluindo potencial real e relativo para abuso, risco para a saúde pública e dependência física ou psicológica.

A segurança relativa dos cogumelos, quando comparada a de outras drogas, é incrivelmente alta. A psilocibina fica em último lugar no ranking das drogas em termos de dano ao indivíduo e à sociedade em geral. “Mesmo misturanda com álcool e tabaco”, me disse Johnson, doutor em ciência comportamental na Universidade Johns Hopkins, por telefone.

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Ele também explicou que o potencial de abuso para psilocibina é baixo. “Ninguém sente fissura por sua próxima dose de psilocibina”, ele disse. Isso não significa que cogumelos não têm potencial de abuso. Pessoas usam cogumelos recreativamente há décadas e não vão parar agora, mas diferente da cocaína e heroína, a psilocibina não é uma substância que a maioria dos usuários usaria por noites ou finais de semana inteiros.

“Danos em potencial incluem comportamento perigoso no caso de usuários despreparados sem supervisão, e exacerbação de doenças mentais em pessoas predispostas a transtornos psicóticos”, diz o estudo. “No entanto, o escopo do uso e danos associados é baixo comparado com as drogas geralmente usadas em excesso.”

Johnson aponta histórias assustadoras dos anos 1960 de pessoas chapando com alucinógenos e caindo de telhados porque achavam que podiam voar, mas disse que esses casos são raros. “Muito mais gente caiu de grandes alturas por causa do álcool… Mas as pessoas podem sofrer acidentes.” Pesquisadores estão tendo sucesso usando cogumelos medicinais em ambientes controlados, onde a dose é regulada e administrada por uma pessoa treinada, com um psicólogo ou terapeuta guiando o paciente pela experiência e com objetivos muito específicos para a terapia.

No caso de pacientes com câncer ou outras doenças terminais, eles são guiados por uma viagem com o objetivo de ajudá-los a se conformar e superar o medo da morte. Um cenário muito diferente de chapar de cogumelos numa viagem para acampar.

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O estudo também é um passo num longo processo. Ainda vai levar anos, talvez décadas, para pessoas com depressão ou ansiedade poderem entrar numa clínica e passar por uma viagem de drogas para se curar. Johnson diz que a reclassificação pode levar de “três a 10 anos”. Estudos, que ainda não foram feitos ou estão apenas começando, serão necessários para garantir a reclassificação.

Mesmo assim, o caminho para a reclassificação não é fácil ou certo. “Tirar uma droga da Classificação 1 só ocorre quando um produto medicinal contendo a substância é aprovado para uso terapêutico pelo FDA”, explica o estudo – significando que uma terceira parte precisa fabricar psilocibina para uso médico, submeter o produto para o FDA, e aí fazer lobby pela reclassificação.

Pode parecer muita coisa, mas Johnson está otimista. “Essa é uma ciência de vanguarda e os resultados são muito promissores para vários transtornos”, ele disse.

Enquanto nenhuma grande empresa farmacêutica está sondando a Johns Hopkins sobre cogumelos no momento, algumas organizações sem fins lucrativos estão pensando em investir nisso, como o Usona Institute em Wisconsin.

O Usona ou outro grupo pode submeter uma pílula simples de psilocibina para aprovação do FDA como tratamento para depressão, desencadeando revisões da classificação. Se e quando isso acontecer, a Usona pode tirar informações desse estudo.

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