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Relato

Cuidado pra não cair em um desses golpes durante o Carnaval

Levantamos quais tipos de crimes financeiros podem acontecer quando você entrar no modo folião-bêbado-extremamente-vulnerável.
Belíssima colagem de Paint Brush por Débora Lopes/ VICE

Dá pra dizer que Carnaval é a festa que mais deixa o brasileiro vulnerável. Faz calor, usamos poucas roupas, bebemos demasiadamente, ficamos loucaraços e, às vezes, é praticamente impossível não estar totalmente vulnerável a golpistas. Obviamente isso pode acontecer a qualquer momento da vida, mas, considerando a festa da carne, a chance de comprar uma brejinha no meio do bloco de rua e ter mil suados reais da sua conta (ou do cheque especial) debitados sem você ver é grande. Nas últimas semanas, pipocaram notícias sobre golpes com cartão bancário durante o pré-Carnaval. Portanto, a VICE entrevistou algumas vítimas e levantou quais tipos de crimes já aconteceram (não só com cartão) pra você ficar ligado e não ser mais um ser humano perdendo dinheiro e tendo dor de cabeça.

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QUANDO O COMERCIANTE SACA SUA SENHA

Não revelar sua senha pra ninguém é tão básico quanto nossas mães implorando pra nunca aceitarmos balas de estranhos ainda na infância. Mas é óbvio que coisas horríveis acontecem e somos passados pra trás. No segundo domingo (14) de janeiro, a profissional de marketing digital Raíza Pelissari, 29, estava curtindo um pós-bloco num bar do centro de São Paulo quando resolveu comprar cerveja com um ambulante por volta da 1h30 da manhã. “Ele pediu para um senhor trazer a máquina. Eu vi o valor, R$ 15, digitei minha senha e devolvi a máquina”, relembra. Acontece que demorou para o aparelho voltar. “O homem me informou que estava processando. Achei normal, pois já havia acontecido isso outras vezes.” Às três da matina, Raíza entrou no táxi e, por curiosidade, abriu sua conta bancária pra ver quanto tinha gasto no dia. Viu os R$ 15 debitados, mas se apavorou quando notou uma compra no valor de R$ 1 mil. Ligou imediatamente para o banco e pediu que cancelassem a compra. O atendente a instruiu a voltar até o ambulante para explicar que aquele valor estava errado. Ela voltou, mas obviamente o sujeito não estava mais lá. Raíza, agora, aguarda um posicionamento da instituição bancária para saber se poderá ser ressarcida. Ela não sabe se o comerciante viu sua senha sendo digitada ou se usou algum tipo de aparelho que rouba senhas, ainda que a primeira possibilidade soe mais provável. “Vou ser mais cautelosa”, pontuou.

QUANDO TROCAM O SEU CARTÃO POR UM PARECIDO

Taí um dos golpes que mais tem acontecido. Você vai comprar cerveja de algum comerciante e, além do sujeito sacar os números da senha enquanto você digita, ele te devolve um cartão do mesmo banco, com as mesmas cores, só que de outra pessoa. Quem checa o próprio nome no cartão depois de efetuar uma compra? Você, depois de ler essa matéria. O músico Alfredo* caiu nessa recentemente e o prejuízo foi grande. Depois de comprar cerveja de um ambulante em São Paulo, ele adentrou uma festinha, ficou um pouco e foi pra casa. No dia seguinte, recebeu a bomba por SMS. “Era o banco me avisando que eu seria cobrado pois tinha usado mais crédito do que tenho direito. Abri minha conta e vi que haviam realizado uma compra de cerca de R$ 3 mil reais e um saque de R$ 300”, conta.

Alfredo ligou para a operadora do cartão e descobriu que foram feitas duas compras no crédito, totalizando quase R$ 8 mil. “Detalhe: as compras extrapolaram em R$ 4 mil o meu limite de crédito, por isso a mensagem do banco. Ao invés de bloquearem uma compra completamente fora dos meus padrões, acima do meu limite, às 3 horas da manhã, eles liberaram mais crédito.” Depois de registrar boletim de ocorrência, ir até a agência e fazer muitas ligações, a resposta que obteve da instituição bancária é que ele terá de arcar com as despesas.

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QUANDO VOCÊ TÁ BEM LOUCO E TE ROUBAM NA CARA DURA NO MEIO DO BLOCO

Eita que a folia tava boa demais para o estudante de economia Murillo Neri, 24. Fez o esquenta no bar, passou no mercado pra comprar bebida, adquiriu os famosos tubinhos de pinga com um ambulante e caiu no bloco de rua em São Paulo, ainda em 2016. Era seu primeiro Carnaval na cidade e estava recém-solteiro. Tinha tudo pra ser um grande dia. Até o momento em que ele avistou uma menina se aproximando. “Suspeitei de segundas intenções, afinal, era Carnaval”, diz. Mas era golpe. A menina chegou mais perto, enfiou a mão no bolso dele e arrancou o celular, cuja capinha guardava RG, dinheiro, cartão de débito e bilhete de transporte. “A sobriedade bateu instantaneamente”, fala.

Ele até tentou abordar a menina, mas ela passou o celular prum cara que saiu correndo na direção contrária do bloco. “Fui vítima da gangue do confete”, brinca. Murillo, então sem provas, nada podia fazer diante da garota e correr atrás do cara era sinônimo de insucesso. Triste e embriagado, se perdeu da turma com quem estava e precisou pedir socorro para um amigo que copulava num motel da Rua Augusta, próximo do bloco. No Carnaval do ano seguinte, comprou a famigerada doleira (uma espécie de pochete mais magra que você pode camuflar dentro da roupa) e não foi vítima da gangue do confete.

QUANDO ATÉ O TAXISTA DO APLICATIVO TE ROUBA

Eis mais um caso de troca de cartões, só que dessa vez por um profissional do transporte privado. A festa foi boa e, quando o relógio apontou seis da manhã de um domingo, a publicitária Júlia Shima, 24, chamou um motorista pelo aplicativo para deixar os amigos em casa e, depois, mudar a rota para seu próprio lar. Quando pagou a corrida com o cartão de débito, o motorista disse que a máquina estava sem sinal, fazendo com que Júlia tivesse de digitar a senha várias vezes até que o espertão pudesse memorizar os números. Depois de muitas tentativas, ela afirma ter recebido um cartão idêntico ao dela, só que de outra pessoa – mas, na hora, claro, não se ligou. “Quando acordei, todo o meu saldo da conta corrente tinha sido retirado em transações e um saque, totalizando R$ 3 mil”, relata. Quando foi fazer o Boletim de Ocorrência, descobriu que o mesmo motorista tinha registros anteriores com outro carro, mas continuava trabalhando e rodando pelo mesmo aplicativo. Ela entrou em contato com a empresa do aplicativo e a resposta não foi animadora. “Eles disseram que são só um intermediário e não os responsáveis pelo motorista, o que eu acho um absurdo”, finaliza.

*O nome do entrevistado foi alterado para proteger sua identidade

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