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Simon Pegg não quer mais ser o cara geek de Hollywood

Conversamos com o astro de 'Missão Impossível – Efeito Fallout' sobre seu novo filme, sua carreira e a cultura geek tóxica cercando 'Star Wars'.
Imagem cortesia do Daily VICE.

Quando encontro Simon Pegg pessoalmente, a realidade é muito diferente do cara nerd pouco hollywoodiano que eu esperava. Ele está usando uma jaqueta jeans com uma camiseta listrada branca e preta – fashion e casual.

Tenho que lembrar que esse é o mesmo cara que uma vez se descreveu com um “garoto geek”. Tenho que lembrar que ele é o mesmo ator que começou cocriando a série cult de TV Spaced – a história de Tim Bisley, um cara de vinte e poucos anos obcecado por cultura pop, e sua colega de apartamento Daisy Steiner (Jessica Stevenson) – zoando muito, chapando e vivendo cada referência da cultura pop que existia. E claro, tenho que lembrar das comédias clássicas de Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso, etc.). Mas conversando com ele no nosso escritório em Toronto semana passada, ele tinha uma vibe bem diferente do que eu esperava. Ele está adulto.

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“Honestamente, não me sinto mais tão investido em todas essas coisas nerds como costumava”, ele revela. “Talvez porque esteja ficando velho, não sei.”

É irônico pensar na trajetória de carreira de Pegg considerando como suas paixões de infância informaram seu caminho: seu amor por filmes de zumbis, Doctor Who, Star Wars e Star Trek que se ligam ao seu currículo cinematográfico e imagem pública como algo irremovível – a promoção do último Missão Impossível sendo simplesmente uma extensão disso.

Estreando em 26 de julho, Simon Pegg reprisa seu papel como Benji Dunn, um técnico do IMF que vira agente de campo e ajuda Ethan Hunt (Tom Cruise) a completar uma missão que coloca o agente de 56 anos contra a CIA. O filme vem recebendo boas críticas por saber o que é – um filme de ação que é tão bobo que é inteligente.

Enquanto conversamos sobre a série em detalhes, tenho uma sensação forte que Pegg, embora grato, já superou ser sempre escalado como o nerd engraçado. Ele é mais que isso, como evidenciado por suas revelações recentes sobre seu alcoolismo e depressão. Como ele realmente quer ser visto? Conversei com ele sobre tudo isso e mais.

Cortesia do Daily VICE.

VICE: Você continua seu papel como Benji, um técnico do Missão Impossível III, que é basicamente você com uma origem mais técnica. Quanto do personagem é moldado por você versus o roteiro?

Simon Pegg: Vejo Benji como um personagem que mostra a visão do público que está entrando nesse mundo de alta espionagem, máscaras e acessórios high tech porque ele é a parte mais humana do grupo. Ethan é o super-herói, muito enigmático e equipado, como Ilsa Faust; Luther Stickell, o personagem de Ving Rahmes, é descolado, reservado e um pouco misterioso. Enquanto Ben é aquele que sempre pergunta por que estamos fazendo isso. Podemos morrer, é idiotice. Qual o problema de vocês? Vamos meio que questionar isso? É basicamente a mesma pergunta que faço para o Tom quando vejo as coisas que ele faz e penso no que ele já fez. É isso que torna fácil se identificar com o Benji. Tenho que fazê-lo o mais humano possível. E invariavelmente, ele acaba sendo um pouco como eu. Não sou como o Benji. Não estou nem perto de ser tão capaz quanto ele, ou tão mortal. As pessoas não percebem isso. Não sei. Benji realmente vem dessa honestidade. Não é como se ele tivesse um passado limpo ou fizesse piadas o tempo todo. Ele não é aquele cara todo engraçadão e descolado. O que ele faz é falar a verdade. Acho que em situações onde a tensão do filme é alta, é engraçado quando alguém diz “Espera um minuto [risos], do que você está falando?”

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Honestamente, eu me sentia um pouco reduzido quando Benji era só, sabe, o alívio cômico. Não acho que sou, acho que sou o personagem que tem uma certa leveza, mas também acho que os outros personagens também trazem humor. Tom está muito engraçado nesse filme porque está interpretando o Ethan um pouco fora de sua zona de conforto. Ele está um pouco menos certo das coisas do que geralmente é, e o Tom é muito bom em interpretar personagens vulneráveis. Pense em Jerry Maguire e No Limite do Amanhã, onde ele interpreta alguém que essencialmente é um pouco babaca. Ele é brilhante nisso, sabe, porque vulnerabilidade é algo que ele faz muito bem, mesmo quando ele é o homem de ação definitivo. Para mim, é uma questão de tentar manter as coisas reais.

Imagem cortesia da Paramount Pictures.

Ele se torna um personagem mais divertido de interpretar conforme o tempo passa?

Bom, não exatamente. Quando fiz Missão Impossível III, achei que era como o JJ Abrams vendo Todo Mundo Quase Morto e pensando “vamos dar uma cena para ele, vai ser divertido”. E foi. Fiquei muito empolgado em conhecer o JJ, mas não percebi que faria esse personagem quatro vezes e o veria evoluir de ser um cara meio nerd para esse agente secreto, e tem sido divertido desde o primeiro momento. Ele tira uma vida em sua primeira missão e fica em perigo extremo de várias maneiras, particularmente no novo filme onde ele quase, por pouco, perde a vida. Então é sempre divertido interpretar um personagem que cresce na tela enquanto tenho todas essas pessoas vendo cada faceta que vem de um cara do TI se tornando um assassino a sangue frio.

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Considerando que estamos falando sobre quatro anos, fora o tanquinho, o que você tirou como resultado de interpretar o Benji? Quer dizer, você sabe consertar um computador, ou ficou um pouco melhor em tecnologia pelo menos?

[Risos] Não aprendi nada, quer dizer, posso ter algum conhecimento… na verdade não, nem isso. Adoro tecnologia, adoro comprar coisas mas quando elas quebram, eu chamo alguém para consertar porque não faço ideia do que tem lá dentro.

Pelo menos você ainda tem a barriga de tanquinho?

Talvez algumas lombadas [risos]. Mas quando está fora de temporada, você não precisa ter tanto cuidado. Quando estamos na temporada de filmagens malhamos muito. É legal ter essa desculpa para treinar pesado todo dia. Mas a coisa mais difícil, acho, sobre se manter em forma, mesmo tendo essa pressão para todos nós continuarmos em forma de certa maneira, é encontrar tempo pra fazer isso. Temos cronogramas cheios e trabalhamos bastante. É difícil tirar uma hora por dia para puxar ferro. Mas quando estamos filmando, faço um regime severo e temos uma pessoa cuidando da nossa nutrição. É fácil ficar na sua melhor forma física assim, o que é sempre legal, porque em Missão Impossível III eu parecia uma batata de jaqueta [risos]. Parecia sim. E agora, sou mais como um ramo de aipo ou outro vegetal reto.

Cortesia do Daily VICE.

Quando você está interpretando novos personagens ou personagens recorrentes como o Benji, o que você aborda quando se trata de trazer esse lado cômico?

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Sabe, não sei. Fiquei meio marcado nesse tipo de papel porque comecei na comédia. Nunca planejei ser um ator de comédia e fico um pouco puto quando se referem a mim como comediante. Não sou. Não faço uma comédia há 25 anos. Claro, comecei com comédia stand-up porque estava treinando para ser ator e tudo mais, mas não queria ficar esperando o telefone tocar. Prefiro sair por aí e fazer coisas, e stand up era um jeito ótimo de se apresentar. Essa foi minha rota para a atuação. E por acaso as primeiras coisas que fiz foram comédias. Eu era fã do gênero e também não foi uma coisa forçada, porque amo comédia.

Mas sabe, minha maior ambição quando eu tinha 16 anos era ser parte da Royal Shakespeare Company em Stratford, Inglaterra, e fazer Shakespeare. Valorizo muito a ideia de uma atuação dramática, e eu e o Edgar Wright sempre nos certificamos de que nossos filmes tivessem uma veia disso. Não tem nada de engraçado em ter que atirar na sua mãe quando ela vira um zumbi. Parece engraçado quando falo assim, mas naquela cena do filme, a ideia era interpretar isso como uma tragédia. Foi o mesmo para Heróis de Ressaca, que era sobre um alcoólatra suicida. Nada nisso é engraçado.

Então que tipos de papel você quer interpretar agora?

Ah, não sei. É difícil, e não quero parecer ingrato com as coisas que já fiz, do que tenho muito orgulho. Só quero ter uma variedade no meu trabalho. Por exemplo, acabei de fazer um filme em LA chamado Lost Transmissions, sobre um cara esquizofrênico que para de tomar os remédios e tem um surto, ele está em LA, e acaba virando sem-teto. É algo fácil de acontecer nos EUA por causa de como o sistema de saúde funciona. Você pode ir de ser um ser humano completamente funcional para acabar nas ruas rapidamente; foi um papel dramático e gostei muito de fazê-lo. Foi diferente e uma mudança de ritmo.

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Bom, me deixe perguntar, como seu sistema de crenças dita os papéis que você quer interpretar então? Você tem apoiado certas causas e acabou de mencionar um papel cercando esquizofrenia. Você é obviamente um indivíduo mais maduro, e não imagino que você queira fazer outro Spaced.

Ah, não [risos]. Spaced era sobre um certo tempo na história e sobre nossas vidas também. Acho que nunca poderíamos escrever Spaced agora. Acho que as pessoas se identificavam conosco porque éramos pessoas de 20 e poucos anos dividindo uma casa, chapando o tempo todo. Nem sei mais onde estão meus sapatos [risos], não, isso não é verdade. Guardei num armário especial. Mas sério, acho que neste ponto da minha vida isso me deixa feliz. Essa é a medição definitiva de sucesso para mim. Minha própria felicidade. Então posso fazer um filme que não vai se sair muito bem. Mas desde que eu goste do processo de fazê-lo, nunca vou me arrepender. Não me arrependo de nada que fiz porque sempre gostei mais do processo que do produto final.

Isso é geralmente o que você tem no final, um tipo de eco do que aconteceu durante a época em que você estava fazendo aquele trabalho. É disso que vem minha satisfação. Quando você tem um pequeno suvenir no final que serve como uma lembrança, seja um filme, uma música ou uma pintura.

Você está dizendo que está se divertindo. Por que alguns diriam que na época em que você fazia séries de TV como Spaced, você tinha muito mais liberdade criativa. A indústria parecia nova. Se envolvendo com todas essas franquias e mundos estabelecidos, você ainda se sente desafiado criativamente?

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É uma parte interessante desse tipo de história, sabe, particularmente com algo como Star Trek: Sem Fronteiras, que acabei coescrevendo. Foi um grande desafio porque era algo muito estabelecido, recebíamos um set definitivo no espaço e nos diziam para jogar com isso. Quer dizer, foi insano e muito legal. Gosto do desafio e acho que ficaria entediado rápido se não gostasse. Com Missão Impossível: Efeito Fallout, levamos um ano para gravar tudo e uns 140 dias no set mesmo filmando, e isso às veze sé um pouco cansativo, porque você começa a pensar “Quando vamos terminar essa coisa?” Mas a prova do pudim está em comer, que é um ditado antigo. Quando comemos o filme, foi ótimo.

O que isso significa exatamente?

Ah, um pudim, uma torta de maçã. Eles fazem a torta mas você não vai saber se é uma boa torta quando compra. Então, quando finalmente assisti o filme e comi um pedaço dessa torta cinematográfica, percebi que estava gostosa… essa é a metáfora mais confusa da história.

Não quero te deixar preso num espaço nerd, mas queria mudar o assunto para Star Wars um pouco. Todo mundo sabe que você é um grande fã da franquia, então qual sua opinião sobre o estado atual das coisas? A série atingiu um pico?

Bom, não pode estar no pico porque o pico sempre vai ser o começo. A série tem uma das melhores sequências da história em O Império Contra-Ataca. Foi a melhor continuação de uma história. O jeito como eles mudaram ligeiramente o tom para ser mais sofisticado, no jeito como mergulharam mais fundos nos personagens com essa abordagem extraordinária. O primeiro, que era um filme lindo, simples e claro, era moralmente tudo que os EUA precisava na época e teve um efeito global. Aí saiu o segundo e ele era cheio de angústia e mais descolado, aí veio o terceiro e eles meio que voltaram um pouco para o começo. Adoro o Retorno do Jedi e não sou um crítico do Retorno do Jedi. Algumas pessoas, depois das prequelas, começaram a olhar para trás, tipo, ah, eles tinha Ewoks e coisas assim, mas não lembro de ficar decepcionado sobre aquela entrada.

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Mas entendo, eles reciclaram a Estrela da Morte um pouco e vimos o Chewbacca fazendo aquele barulho de Tarzan foi um erro cômico. Aí saíram as prequelas e através de Spaced, acabei não gostando. E me tornei pessoalmente um representante das críticas das prequelas Star Wars, o que foi desconfortável porque as pessoas realmente gostaram, e fiquei puto porque elas não eram muito boas quando outras pessoas na verdade gostaram. Disso você teve um leva e traz meio tóxico que era cansativo, e realmente me arrependo de ter me envolvido nisso.

Bom, considerando o estado daquela franquia, se você quisesse me dar um pitch rápido de uma série sua de ficção científica, como seria?

Hum, eu tenho uma ideia, mas não vou te contar. Não quero falar porque é uma ideia de verdade [risos]. Honestamente, não me sinto mais tão investido nessas coisas nerds como costumava ser. Talvez seja só porque estou ficando mais velho, não sei. Eu tinha uns vinte anos quando gravitava isso. Isso simplesmente não me incomoda mais.

Então você superou a coisa nerd de sci-fi?

Sim. Gosto de Handmaid's Tale, Westworld, esse tipo de ficção científica. As coisas de lasers e tudo mais são menos atraente pra mim hoje.

Matéria originalmente publicada pela VICE Canadá.

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