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Professora foi detida por desobediência após filmar ação policial em Goiás

Polícia Civil abordou três menores de idade que compartilharam ameaças de atentado no campus da Instituição Federal de Goiás em Águas Lindas. Docente já foi liberada.
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Foto: Reprodução.

Ação da Polícia Civil de Goiás terminou em detenção da professora Camila Marques no Instituto Federal de Goiás em Águas Lindas nesta segunda-feira(15). Agentes policiais foram até o campus do IFG de manhã para apreender três alunos menores de idade que supostamente compartilharam ameaças de um atentado no local. Durante a ação, a professora foi detida ao filmar os policiais revistando objetos pessoais dos alunos. Na Delegacia de Polícia de Águas Lindas, Camila foi autuada pelo crime de desobediência, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi liberada no começo da tarde.

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Por ser professora e ativista conhecida na área em prol de educadores, a detenção de Camila gerou uma rápida resposta nas redes sociais e uma série de boatos de que a docente teria sido presa por doutrinação ideológica. Em alguns veículos, a detenção foi chamada de “prisão política”. Camila também é coordenadora geral do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) e relatou através de um vídeo publicado pelo sindicato que foi detida com truculência.

Em um outro vídeo, Camila conta que os três alunos foram conduzidos à delegacia sem acompanhamento dos pais e foram tratados com truculência pelos agentes. "A gente não sabe ao certo o que aconteceu em específico, mas o fato é que Águas Lindas é uma comunidade de periferia e a polícia atua com truculência a todo tempo," explica. "(…) eu fui intervir justamente porque a polícia estava sendo truculenta com meus alunos e aí comecei a gravar." A professora também afirma que a resposta da polícia na abordagem pode ter sido gerado pela articulação de movimentos sociais feitas pelos próprios alunos e moradores de Águas Lindas contra feminicídio e violência policial.

O advogado Bruno Conti, representante legal da professora, disse à Agência Brasil que Marques passou a filmar os policiais após achar que a polícia estava tratando os três estudantes menores de idade com agressividade. Camila, no vídeo postado nas redes sociais do Sinasefe, explicou que não estava filmando os adolescentes e sim os agentes. “Como não foi ouvida, ela decidiu registrar com o celular. Mas ela estava filmando os agentes, não os jovens”, afirmou o advogado à Agência Brasil.

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A professora ainda disse que sua mão foi apertada por policiais quando um deles lhe tomou o celular. Em vários momentos, lhe foi negado o direito de chamar um advogado. Já a Polícia Civil de Goiás afirmou, por meio de nota, que a professora foi advertida três vezes pelos agentes para não filmar a abordagem, “uma vez que os adolescentes têm proteção à sua imagem, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)” e negaram a agressão feita por parte dos policiais.

Ainda segundo a Polícia Civil de Goiás, não foi encontrado nenhum artefato com os menores que poderia ser usado num eventual ataque. Segundo o Sinasefe, os policiais estavam já no campus de Águas Lindas desde os inícios das atividades escolares.

No fim da tarde, o IFG publicou uma nota no site oficial afirmando que a presença de policiais da Delegacia de Proteção de Crianças e Adolescentes está relacionada a uma investigação em curso. “Tal investigação trata de suposta articulação de pessoas para realização de grave atentado contra o Campus Águas Lindas, o que colocaria em risco a vida de estudantes e de servidores no decorrer desta semana, durante as comemorações do aniversário do Campus,” esclareceram através da nota.

Quanto ao caso de Marques, a Reitoria do IFG disse que reafirma sua posição “em defesa da integridade física, da liberdade, da pluralidade de pensamento dos professores, dos técnico-administrativos e dos estudantes” e irá apurar o acontecido para tomar as devidas providências.

Vale lembrar que filmar abordagens policiais não é ilegal e não há nenhum dispositivo legal que especifique situações ou ações específicas que não podem ser registradas por cidadãos, sejam eles jornalistas ou não, salvo os casos de cenas de crime com acesso vedado à imprensa. Os vídeos também não podem ser deletados arbitrariamente pelos agentes policiais e a apreensão de celulares só pode ser feita com um mandato judicial em mãos.

A VICE tentou contato com a professora para uma entrevista e ainda não obteve resposta. A reportagem será atualizada com a chegada de novas informações.

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