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Tecnologia

​Este Aparelhinho Pode Ler e Digitar Seus Pensamentos

A tal "internet dos cérebros" não está tão distante assim.
Crédito: Frontiers in Neuroscience

Quando Stephen Hawking fala, um laser voltado para o seu rosto detecta o movimento de um dos únicos músculos que ainda controla. Ao mesmo tempo, um computador passa pelas letras do alfabeto e determina o que o cientista está tentando dizer. É um processo lento: uma frase completa pode levar vários minutos.

Mas e se um computador pudesse ler sua mente?

Cientistas de Albany, em Nova York, nos Estados Unidos se perguntaram isso antes de demonstrar, há pouco, que é possível transformar os pensamentos de uma pessoa em uma frase legível por meio daquilo que chamam de interface "cérebro-para-texto".

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Sim: os computadores dos pesquisadores puderam decifrar o "discurso silencioso" de sete pacientes — seus pensamentos — e os traduziram em forma de texto.

Que fique claro que são os primórdios da leitura de mentes, se você quiser chamar disso. O estudo em Albany, capitaneado pelos pesquisadores do Centro Nacional de Neurotecnologias Adaptativas e a Universidade do Estado de Nova York em Albany, se deu em ambiente controlado e usou de algumas artimanhas para que tudo desse certo.

Crédito: Frontiers in Neuroscience

Existem alguns motivos para você não poder pegar um aparelho desses e ligar na internet ainda: primeiro, os crânios dos pacientes foram abertos e eletrodos foram conectados aos cérebros. Também lhes foi pedido que lessem diversos textos (o Discurso de Gettysburg de Abraham Lincolin; o primeiro discurso de John F. Kennedy; fanfiction do seriado Charmed; e uma historia infantil) para se ter uma base do que seus cérebros faziam enquanto falavam. Por último, o "dicionário" do dispositivo de reconhecimento de ondas era limitado — não escolhia as palavras a partir de toda a língua inglesa.

Ainda assim, o que Peter Brunner e seus parceiros realizaram é incrível e nos mostra que cérebros ligados à rede surgirão algum dia. As ondas cerebrais hoje são lidas por várias máquinas, mas interpretá-las ainda é complicado.

"Comparo a ter um helicóptero sobrevoando um monte de pessoas gritando: se você estiver perto, pode ouví-las, mas não separadamente; se você colocar um microfone em uma ou duas, irá ouví-las, mas não o panorama geral", disse Brunner. "Ao colocar eletrodos por todo o cérebro — distribuir microfones aos grupos de pessoas gritando — dá pra entender o que estão falando".

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Claro que não é fácil achar gente disposta a ter seu crânio aberto para experimentarem um leitor de mentes. Acontece que essa tecnologia já tem um uso clínico. Portadores de epilepsia grave muitas vezes contam com eletrodos no cérebro para determinar que parte dele é sobrecarregada durante uma convulsão. Eles usam estes eletrodos no hospital à espera de uma convulsão para que o tratamento correto possa ser administrado.

Brunner disse que sua equipe pegou carona nesse tipo de tratamento. "Estávamos pensando se seria possível saber o que alguém estava dizendo com base nos sinais enviados da superfície cerebral — independente destes serem enviados durante o discurso falado ou silencioso", declarou Brunner, que publicou a pesquisa no periódico Frontiers in Neuroscience. "Acontece que é possível, com probabilidades bem maiores que puro acaso."

O cientista disse que a pesquisa foi limitada por causa do tempo com os pacientes e suas condições: cada um tinha eletrodos em partes diferentes do cérebro. Com mais tempo para "treinar" a interface e um posicionamento mais preciso dos eletrodos (ele acredita que o giro superior temporal, no lobo temporal do cérebro, seria o ideal), os aparelhos poderiam melhorar muito. Ele também espera poder criar interfaces que não precisem ser posicionadas diretamente no cérebro.

"Poderia ser relevante para quem sofre de esclerose lateral amiotrófica — seus músculos não funcionam, mas não há qualquer efeito no cérebro", disse. "Seria desejável que a pessoa treinasse a interface antes de instalá-la."

O dispositivo de Brunner não se conectou à internet, mas ele afirmou que não há motivo para que isso não fosse feito, o que permitira comunicação em tempo real entre cérebros conectados. Talvez aquele papo todo de internet cerebral não esteja tão distante assim.

Tradução: Thiago "Índio" Silva