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Música

Os BitTorrent Bundles Funcionam Mesmo?

A ideia é permitir que os músicos controlem melhor seus lançamentos, além de gerar ainda mais informação sobre quem, como, onde e como seu som está sendo consumido.
O diretor de conteúdo da BitTorrent, Matt Mason, falou conosco no começo deste ano. Foto: PopTech/Flickr.

Se você estava vivo e tinha acesso à internet durante o começo dos anos 2000, sem dúvida se lembra do BitTorrent como aquela parada que todo mundo usava para piratear singles do LCD Soundsystem. Na realidade, a empresa tem diversas diversos aplicativos legais dedicados a cumprir a dita promessa da internet. Um dos seus mais novos serviços a virar notícia é o Bundles, a resposta da empresa de compartilhamento de arquivos à publicação de conteúdo.

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Lançado oficialmente em maio de 2013, o BitTorrent Bundles foi criado com o objetivo de permitir que artistas e cineastas disponibilizem seu conteúdo ao público como e quando quiserem. Desde então, o serviço fez parceria com um fluxo contínuo de artistas de primeiro escalão da indústria da música. Diplo, Thom Yorke e Azealia Banks já lançaram Bundles de sucesso.

A Azealia Banks vai pagar US$ 10 mil dólares para você remixar "Chasing Time" via BitTorrent  Bundles.

Entramos em contato com o diretor de conteúdo da BitTorrent, Matt Mason, para saber dos planos e qual a filosofia da empresa acerca da plataforma. Matt, um DJ veterano de rádio pirata, fundador da revista RWD e autor do livro The Pirate's Dilemma, explica por que os princípios da BitTorrent de eficiência, flexibilidade e empoderamento do usuário são tão importantes para os músicos. "Se você é uma banda querendo lançar uma música, o Google Play, que oferece 22 milhões de músicas por dez libras, não vai te ajudar", explica ele. "A Netflix, que não te dá um feedback de onde as pessoas estão assistindo aos seus filmes, não vai te ajudar a saber onde lançar o próximo". Como ele coloca, "a promessa da Internet ainda não se cumpriu".

O Diplo recentemente relançou o seu disco de estreia, Florida, via BitTorrent Bundles. 

Durante um ano e meio, a equipe da BitTorrent testou diversas abordagens para a ideia de levar conteúdo diretamente dos artistas para o seu público. "Não existe um modelo de negócios tipo tamanho único, que possamos estender a todos", diz Mason. Foi pensando numa solução para este problema que veio a ideia para a flexibilidade do "Gates". O Gates permite ao músico definir exatamente como quer disponibilizar seu trabalho – seja dando de graça três músicas em troca do endereço de e-mail do usuário ou o álbum todo por US$ 5, só cabe a ele mesmo decidir.

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Outro benefício do Bundles reforçado por Mason é a coleta de dados. A maioria dos agentes de booking, empresários e promoters espertos afirma que dados sobre o público são o recurso mais importante que um artista pode ter, e o Bundles oferece relatórios que ajudam os músicos a definir novos mercados-alvo ou melhorar sua relação com mercados já existentes. Matt me mostra um estudo de caso em que um dos primeiros apoiadores do Bundles, o Counting Crows, usou os dados oferecidos pelo Bundles para convencer um grupo de promoters na Europa a dar um upgrade na locação dos seus shows, transferindo-os de arenas para estádios. Embora os resultados obviamente variem de acordo com a popularidade do artista, a plataforma certamente oferece uma melhoria substancial para a tomada de decisões.

Os críticos do projeto afirmam que, não importa quantos downloads um lançamento tenha, tudo é feito fora da esfera de influência tradicional, o que torna a sua posição nas paradas e as suas vendas discutíveis. Para muitos isto não é problema, mas para artistas mais populares conseguir aquele disco de ouro pode estar na ordem do dia.

Analisamos a experiência que o produtor Comets We Fall, de Los Angeles, teve lançando um bundle. 

Depois da nossa conversa com Matt Mason, queríamos descobrir se a plataforma da BitTorrent funcionava bem para produtores menores; saber que o Mad Decent e o Fool's Gold podem lançar discos de sucesso através dela é legal e tudo mais, mas a plataforma precisa ser capaz de beneficiar pessoas sem dinheiro para marketing e apoio da indústria. Acompanhamos o Comets We Fall, um talentoso produtor de Los Angeles com um pequeno grupo de seguidores que estava lançando seu próximo EP via BitTorrent. Muita semanas e downloads depois, entramos em contato com o empresário dele, Nathan Hoy, para analisar a experiência.

"Antes de mais nada, o Bundles é intuitivo e fácil de navegar", conta Nathan. O processo todo de criar um Bundle levou menos de dez minutos, ele explica. Além disso, depois de conseguir 880 mil downloads e arrecadar 20 mil endereços de e-mail, a equipe ficou mais do que satisfeita e disse que com certeza lançaria via Bundles de novo. Eles também descobriram informações valiosas sobre o tipo de conteúdo que teve boa recepção. Ao longo do lançamento, houve uma forte demanda de produtores musicais por arquivos premium (à capela e stems) na comunidade BitTorrent, e com seu conhecimento recém-adquirido, Nathan diz que eles com certeza irão incluir "pacotes para produtores" nos próximos lançamentos.

Embora obviamente os resultados variem de músico para músico, a experiência do Comets We Fall mostrou que, para além das legiões de músicos de primeiro escalão, a plataforma tem potencial para produtores em ascensão que queiram experimentar o Bundles. Em um tempo em que as plataformas de streaming se tornam mais mesquinhas em relação ao conteúdo e mais generosas com os anunciantes, a BitTorrent apresenta uma das poucas inovações positivas em conteúdo online deste ano.

Ziad Ramley está no Twitter: @ZiadRamley

Tradução: Fernanda Botta