Três detidos e dois fotógrafos agredidos: o saldo do último ato "Fora, Temer" em SP
Manifestante (de camiseta vermelha) que foi detido pela polícia e recebeu golpes de cassetete. Foto: Felipe Larozza/ VICE

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Três detidos e dois fotógrafos agredidos: o saldo do último ato "Fora, Temer" em SP

Pelo segundo domingo consecutivo, a Avenida Paulista foi tomada por manifestantes contra o governo de Michel Temer. E eles falaram com a VICE.

No último domingo (11), a Avenida Paulista, em São Paulo, foi novamente tomada por manifestantes que pediam a saída do presidente Michel Temer e novas eleições. Minutos antes de o protesto começar a caminhar, três pessoas foram detidas.

De acordo com a Polícia Militar (PM), dois homens e uma mulher carregavam pedras, máscaras, bolas de gude, faca, um soco inglês e um dichavador. A foto dos objetos apreendidos foi postada no Twitter da corporação. Um dos homens detidos (de camiseta vermelha na foto acima), ficou ferido após ser atingido por um golpe de cassetete. O mesmo aconteceu com o fotógrafo Drago, que foi atingido na cabeça. Já a fotógrafa Tuane Fernandes afirma ter sido jogada contra a parede por um policial e recebido um soco nos seios.

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Manifestantes durante o ato "Fora, Temer" do último domingo (11). Foto: Felipe Larozza/ VICE

De acordo com a Frente Brasil Popular e a organização Povo sem Medo, que convocaram o evento, 60 mil pessoas estiveram nas ruas. Já a PM estimou oito mil, e afirmou que não houve nenhuma depredação.

Em diversos momentos a organização endossou a desmilitarização da PM. Durante a passeata, manifestantes cantavam em coro: "Que coincidência. Não tem polícia, não tem violência".

Deputada federal e candidata a Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina (PSOL) esteve mais uma vez no protesto. Perguntada por qual motivo, ela falou à VICE: "Porque Michel Temer não caiu ainda. O Cunha não caiu ainda. Tem muito mais golpista por aí que precisa cair. Vamos ficar na rua até quando cair o último golpista, o último traidor, o último conspirador desse país."

Manifestantes em cima do Monumento às Bandeiras no último domingo (11). Foto: Felipe Larozza/ VICE

O trajeto passou pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio e terminou pacificamente no Monumento às Bandeiras, em frente ao Parque Ibirapuera.

No início do protesto, a VICE conversou com alguns manifestantes. Abaixo, você lê as entrevistas, que foram editadas para melhor compreensão.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Marcela Darido, 28, estudante e militante do movimento negro

VICE: Por que você veio ao protesto hoje?
Marcela: Tenho acompanhado alguns dos atos porque acho importante mostrar o rechaço popular ao golpe que o Temer deu e tentar construir alguma coisa. O ato é parte de um processo de luta contra o golpe.

Por que você acha que a grande imprensa está começando a se opor ao Temer?
A minha impressão é que a grande imprensa está esperando pra ver como será encaminhada essa luta que está sendo travada agora. Mas, com certeza, ela vai ficar do lado do setor da burguesia que mais tiver vantagem. Provavelmente do lado do PSDB. Contra o Temer, mas ainda do lado dos setores mais conservadores.

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Foto: Felipe Larozza/ VICE

Como você acha que o governo Temer pode atingir, principalmente, a população negra?
Na verdade, os negros foram os primeiros a serem atingidos. As coisas progressistas que o governo do PT fez, como bolsas de estudos e as cotas nas universidades públicas, já estão sendo atacadas pelo corte do investimento nas universidades, com o fim do Prouni – mesmo com todos os problemas que o Prouni tem. E até mesmo com o aumento da violência policial, que tem acontecido desde o governo do PT e tende a crescer muito mais agora. Os negros são a parte mais explorada dentre os trabalhadores e estão sendo atingidos bruscamente com todos os ataques que o Temer fez.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

César Rodrigues, 36, supervisor de ação educativa em museus

VICE: Por que você veio ao ato hoje?
César: Acho que é um momento importante pra ocuparmos as ruas e mostrar que tudo que está acontecendo no nosso país com esse golpe de Estado está nos leva a um retrocesso. Hoje, pela primeira vez, estou trazendo meus filhos, de 15 e 11 anos.

Eles já têm algum conhecimento político?
Estão começando. Principalmente o de 15 anos, que agora está começando a indagar as coisas em casa. Tenho parentes que estão com outro pensamento, por isso acho importante que eles tenham essa visão dupla e possam formar a própria opinião.

Por que a grande imprensa está começando a se voltar contra Michel Temer?
Temos de ter uma certa temeridade quando a própria grande imprensa começa a mostrar um outro lado. Ela tem mostrado só um lado da história. Fico com o pé atrás. Prefiro não fazer uma análise imediata.

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Foto: Felipe Larozza/ VICE

Fátima Lopez, 52, assessora de imprensa

VICE: Por que você veio ao ato hoje?
Fátima: Porque sou contra o golpe. O que aconteceu no Brasil foi um golpe. Tenho vindo sempre que posso.

Qual é o Brasil você imagina com Michel Temer no poder?
Nossa… Acho que é um Brasil muito autoritário, com o pobre mais pobre e o rico mais rico. Não acredito num Brasil melhor com ele. Pela postura do partido dele, pelas últimas declarações. Acredito que perdemos muito do que já tivemos e conquistamos, principalmente as classes mais baixas. É um governo que vai excluir, e não incluir.

Você acha que novas eleições é algo viável?
Seria o ideal. Isso só vai acontecer se tiver essa pressão popular, se formos pra rua pedir, exigir. O negócio é ir pra rua.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Eduardo Nunes, 36, historiador, bacharel em direito e professor universitário

VICE: Por que você veio para a manifestação?
Eduardo: Para me posicionar e me manifestar contra a abrupta tomada do poder, pela retirada da Dilma como presidenta da República.

Por que a grande imprensa está começando a se voltar contra Michel Temer?
É um equívoco de leitura da realidade quando se pensa e se personaliza o processo histórico que o Brasil está vivendo. Conceber que Temer é a história é um completo equívoco. O Temer representou vozes conservadoras, vozes contra direitos, contra a manutenção dos poucos passos progressistas que o Brasil deu nos últimos anos. Ele continuará sendo um representante enquanto expressar a vontade de grupos econômicos majoritários e grupos de comunicação que conseguem execer força e lobby político a ponto de conduzir as diretrizes, as políticas nacionais.

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