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Sexo

Por Que Amo Assistir o Ron Jeremy Trepando

Ele é a manifestação da identidade masculina grotesca, metendo os dedos e os genitais em todo orifício que pode.

Assistir o Ron Jeremy fazendo sexo é como testemunhar um urso pardo comendo um flamingo, ou um menino de rua tentando abrir uma máquina de doces. Ele é a manifestação da identidade masculina grotesca, metendo os dedos e os genitais em todo orifício que pode, tudo isso simultaneamente, sem sentido, sem seguir nenhum plano, só um corpo humano convulsionando em impulsos sexuais. É como ver um chimpanzé tentando abrir uma embalagem de controle de Xbox.

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Você não se masturba enquanto assiste o Ron Jeremy transando. Usar uma cena do Ron Jeremy pra bater punheta é como usar um vulcão pra fazer churrasco — provavelmente é mais saudável se afastar e ficar vendo de longe. Com Candy Stripers 2, um filme de 1985 sobre um hospital e médicos fingindo ler papéis, o Jeremy ganhou o AVN de Melhor Ator Coadjuvante. Numa das primeiras cenas, ele está sentado numa mesa de escritório enquanto uma das enfermeiras massageia seus ombros. Eles se beijam, depois ele se afasta e faz uma careta, como se estivesse enojado consigo mesmo por ser incapaz de literalmente inalar outro ser humano. A respiração dele soa como um caminhão acelerando em ponto morto.

As mulheres sempre foram o foco da pornografia com seus gritos exagerados e rostos contorcidos, isso porque os espectadores homens que vivem indiretamente através do pornô, eternamente narcisistas e inseguros, sempre tentando proteger seus egos frágeis, precisam que as mulheres estejam amando totalmente aquele pau. Mas o Jeremy é central em suas cenas. Ele não é como a maioria dos paus anônimos do pornô, friamente destacados ou insensíveis ao ato. Ele é um fracassado esquisito, uma figura com quem conseguimos nos relacionar enquanto ele grunhe e celebra o fato de estar fazendo qualquer sexo que seja. Não há a desumanização do macho, ele chama os seios das mulheres de “peitinhos” e as nádegas de “bumbum”. Ele diz isso na cara delas, pra câmera. Ele as chama de “querida” e coloca uma toalha no chão pra proteger os joelhos delas quando elas vão fazer um boquete pra ele a céu aberto. Ele tem uma fascinação real e honesta pelo corpo feminino. Os olhos deles estão vidrados, desnorteados, lascivos. Ele demonstra gratidão por estar vivo e por essa mulher estar viva e por ele poder tocar as partes dela.

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Em Erotic Starlets 22, de 1987, Jeremy está sentando num sofá usando um agasalho azul marinho ao lado da Christy Canyon, que está só de calcinha e sutiã. Quando a Canyon tira o sutiã, o Jeremy faz uma cara como se estivesse testemunhando o pouso na lua depois de usar opiáceos, como se ele chegasse em casa e encontrasse a Cleópatra jogando Wii Fit na sua sala. Você pode argumentar com confiança que nunca houve uma resposta humana tão sincera pra um evento qualquer quanto a do Ron Jeremy vendo os peitos de uma mulher. Você pode até dizer que pornografia é artificial, explícita, que atende às nossas compulsões mais sépticas, mas o Jeremy não é misógino nem desonesto.

“Ron Jeremy, Ícone Hedonista Pauzudo” é um tema que já foi discutido diversas vezes e que não implica muita reconsideração. Mas “Ron Jeremy, Devorador de Mulheres”, revisitado no contexto dos pornôs que você assistiu mais recentemente, é como uma revelação. Os atores pornôs modernos são uns robôs bombados, aparentemente imunes a emoções e sensações que pessoas normais experimentam durante o sexo — o ato todo é só movimento furioso, constante e mecânico. As cenas de sexo do Jeremy são totalmente carnais, expostas e humanas. Ele tem que tirar o pênis a cada três minutos, estrangular a base do membro e dizer pra garota parar de trazê-lo tão perto do orgasmo. As performances do Jeremy são estranhas e nada sensuais, mas isso também as torna cativantes. Ele é um homem enrugado e peludo, suado, encurvado, com uma barriga tão grande, tão inchada e tão perfeitamente esférica que parece que o umbigo dele vai estourar e fazê-lo voar pela sala como uma bexiga furada.

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É quase impossível se importar menos ou mostrar menos preocupação com a aparência pública do que o Ron Jeremy. Ele usa camisas de botão com desenho de chamas e camisetas do Hinder, uma banda de rock espetacularmente horrível. Ele se veste como um cara que perdeu a casa num incêndio e, ao invés de dinheiro, a seguradora pagou o prejuízo em cartões de presente de uma loja de departamentos fuleira. Ele tem o físico do Dr. Robotnik. Ele parece um mascote genérico e levemente racista de uma marca de pizza congelada. Ele é obviamente careca, mas mantém seus longos, frágeis e gordurosos fios de cabelo pendurados na parte de trás de sua cabeça como a pele de um animal deixada pra secar num porão. Ele existe perpetuamente num estado de pai recém-divorciado — camisa pra fora da calça, às vezes camisa nenhuma, sempre parecendo que entrou por acidente no recinto, mas ficando por ali mesmo porque acabou o feijão em lata em casa e não tem nada passando na TV. Parece que ele está permanentemente coberto com maionese quente e palha de aço velha.

Os arquétipos masculinos do pornô costumam ter uma característica definidora: negro, vagamente europeu ou “alternativo” (usa camisa de flanela). Mas o Jeremy é meio que um problema encaroçado e suado. Atores pornôs são indiferentes e indistintos, a maioria é só atraente o suficiente pra imaginar que aquela mulher realmente transaria com o entregador de pizza, sempre inócuos e esquecíveis. Eles são um instrumento, uma ferramenta. Mas não dá pra negar que o Jeremy está ali, acontecendo em cima de você e você precisa lidar com isso.

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Pelo Twitter dele parece que ele é um cara que faz apresentações de vaudeville num cruzeiro enquanto periodicamente enfia o pau na vó de alguém. Ele parece um Dom DeLuise menos maníaco e se expressa em frases que são menos sequências de palavras e pontuações, e mais saraivadas de duplos sentidos toscos reciclados. Durante uma cena de Jurassic Cock: Old Geezer Massage com a Jennifer White, que é judia, ele diz: “Você sabe qual a diferença entre uma garota judia e meio quilo de gelatina? A gelatina mexe quando a gente come. Vamos ver se você pode mudar isso”. Ele é a versão XXX do Henny Youngman.

Ele já fez propagandas de molho de pimenta, skate e pílulas de potência masculina. Ele tem sua própria marca de rum. Ele tem essa falta de vergonha na cara, esse desejo de se rebaixar e ganhar cada centavo e cada centímetro de notoriedade a partir de suas proezas sexuais gordurosas e enrugadas, o que me parece algo puramente norte-americano. Numa entrevista em 1997 pra Salon, ele disse que esperava eventualmente poder sair do negócio do pornô. Dezesseis anos depois, ele parece numa coisa chamada Pee-Wee's XXX Adventure: A Porn Parody. Ele já tentou atuar no mainstream, mas seus papéis em filmes e videoclipes são menos personagens e mais símbolos da depravação do final do século XX, de cada triunfo do homem comum e da possibilidade de mobilidade social dólar a dólar que existe nos Estados Unidos. Ele só consegue interpretar o Ron Jeremy.

Ele é um pau pra toda obra mulambo. Ele enfia a cara em qualquer coisa porque não tem prioridades além de sentar naquela cadeira e transar com aquela garota. Ele aperfeiçoou a arte da apatia e indiferença exteriores. Ele é um judeu do Queens que batizou sua marca de rum de “Ron de Jeremy” e que uma vez apareceu numa entrevista usando Crocs e calça de moletom. Ele esmagou o conceito de pretensão em mil pedacinhos. Ele se diverte com a improbabilidade de tudo o que faz. Ele é nojento, ele está nu, ele não se importa. E nós continuamos assistindo.

O John Saward mora em Connecticut e curte O.V. Wright e comer guacamole pelado. Siga o cara no Twitter: @RBUAS.