Marcus D’Almeida está com o pódio olímpico na mira

FYI.

This story is over 5 years old.

Gillette Brasil

Marcus D’Almeida está com o pódio olímpico na mira

A mais realista promessa de medalha brasileira está nas mãos precisas de um garoto arqueiro de 18 anos.

O carioca Marcus D'Almeida é um menino de 18 anos quase igual aos outros da sua idade. Quase. O que o separa dos demais é sua habilidade magistral de tiro com arco — que muitos chamam de arco e flecha. Se estivéssemos na Idade Média, o rapaz talvez fosse uma célebre arma de guerra. Como estamos em 2016, ele é um dos grandes talentos brasileiros com chance de medalha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A carreira de Marcus, como é de se imaginar, tem sido meteórica. "Apesar de rápido, tudo foi acontecendo no tempo certo", nos disse. "Pra mim foi muito fácil aceitar como tudo mudou. E na real não consigo ver essa diferença toda. O treino que eu faço em 2014 é o treino que eu faço esse ano", explica o garoto, humilde. Em seis anos de prática, o jovem arqueiro brasileiro se tornou, para os sul-coreanos, os mais tradicionais da modalidade, "o Neymar do tiro com arco"."Em 2014 eu estava muito bem e saiu uma matéria lá sobre mim e — é super difícil sair alguma reportagem sobre estrangeiros da modalidade lá é como se saísse uma matéria de um argentino que não joga no Brasil. Eles deram esse nome e espalhou bem rápido pelo mundo." Ao ser questionado sobre sua técnica apurada e seu concentração, Marcus desmistifica os caminhos que o levam até o ponto central do alvo. "Eu não trabalho com respiração, vou mais pela visualização", diz. "Tento visualizar um tiro perfeito antes de atirar. Essa é a técnica." Ele ainda levanta a bola para se dar bem no tiro com arco: atirar, atirar e atirar. "Para ser bom no tiro com arco é preciso ser persistente. É um esporte bastante difícil". Para se ter uma ideia, ele atira diariamente 400 flechas. Por semana: 2000. Por mês: 8000. Isso sem contar as competições. Algumas dessas flechas levaram o cometa Marcus aos holofotes do tiro com arco. Apenas um ano depois de começar a treinar já começou a apresentar os primeiros resultados: foi prata no Campeonato Brasileiro na categoria infantil. "Com 14 anos um olheiro da seleção brasileira gostou da forma como eu atirava e me chamou pra atirar junto com a seleção", ele explica. Sim, você está lendo direito: aos 14 anos ele já treinava com a seleção profissional. Aos 15, foi ouro no Campeonato Brasileiro, na categoria cadete, vice-campeão continental. Aos 16 anos, vice-campeão mundial, campeão no sul-americano do Chile com ouro na categoria individual, equipe masculina e equipe mista. Ano passado — pausa para respirar, um momento —foi campeão mundial júnior, bicampeão brasileiro adulto e bateu pela primeira vez o recorde brasileiro com 670 pontos. Este ano Marcus voltou a bater a marca com 671 pontos (a pontuação máxima em cada tiro vale 10) e foi o primeiro colocado nas seletivas para as Olimpíadas.

Publicidade

Trampando a visualização antes de atirar. Foto: Gabriel Heusi

Tá pensando que a rotina é fácil? Que é só ter umas 400 flechas e disparar? Ledo engano, cara pálida. O tiro com arco é um esporte cansativo e os pódios nunca vieram e jamais virão com facilidade. Marcus explica um pouco sua rotina de trampo: "Eu acordo 6h da manhã, tomo café às 6h30 e 7h já estou no campo. Fico até 11h, 11h30. Vou pro almoço, depois tenho duas horas de descanso. Volto às 15h pro campo e fico até 17h30. Depois disso vou para academia. Aí é fisioterapia, massoterapia e às vezes consulta com a psicóloga. Aos sábados é só treino na parte da manhã." É uma média de nove horas diárias de preparação. Carioca de sotaque acentuado, Marcus Vinicius Carvalho Lopes D'Almeida treina diariamente na Urca no Centro de Capacitação Física do Exército e vê com bons olhos o espaço que o tiro com arco tem recebido ultimamente. "A gente tá indo bem. Estamos caminhando em passos ok, nem lento nem rápido. Estamos num momento bom e a modalidade tá com reconhecimento", diz. "Não temos toda a pressão do mundo em ganhar medalha." E dá o papo para a reta final. "Agora é treinar. Temos que estar focados e não tem muito mais o que fazer."

De olho nas Olimpíadas. Foto: Gabriel Heusi

Com os pés fincados no chão e muita maturidade, o arqueiro carioca sabe que o caminho não será fácil até o pódio olímpico, o primeiro do Brasil, mas está 200% preparado para ampliar sua estante ocupada por mais de 50 medalhas e uns 10 troféus."Faço o que eu posso fazer", diz. "Treino, penso no melhor que posso fazer no treino e, na hora de atirar, entra um pouco do fator sorte e tudo o que acontece naquele momento." Marcus ainda dá sua opinião sobre o local que sediará as competições a partir do dia 5 de agosto: o Sambódromo. "Achei bem diferente a escolha, o Sambódromo é um lugar bastante conhecido. Acho que vai ser legal. Vai ser diferente, o vento é um pouco diferente lá." Esperamos que, como tem sido até agora, os ventos sejam favoráveis para ele, um jovem de 18 anos comum — exceto pelo fato de ser, para muitos, uma das mais realistas promessas de medalha do Brasil nas Olimpíadas.

Quase um menino comum de 18 anos. Foto: Gabriel Heusi