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Brasileiros vão denunciar intolerância religiosa à ONU

Religiosos de matriz africana e coletivo baiano estão levantando dados para fazer denúncia oficial e responsabilizar o país por omissão.
Religiosos reunidos em Salvador, Bahia, para encaminhar denúncia à ONU. Foto: reprodução/ Facebook Ilê Maroialaji - Alaketu

Na última terça (3), a mãe de santo Rosana dos Santos esteve na Assembleia Legislativa da cidade de São Paulo para falar sobre intolerância religiosa a partir da experiência assustadora que viveu no final de setembro. Seu terreiro de candomblé na cidade de Jundiaí, São Paulo, amanheceu destruído após um incêndio no dia 25. Casos como esse incitaram religiosos ativistas e o Coletivo de Entidades Negras (CEN), da Bahia, a compilar dados de ataques similares para serem encaminhados à ONU (Organização das Nações Unidas).

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Na terça, a Comissão dos Terreiros Tombados da Bahia se reuniu com a subprocuradora-geral da República, Deborah Duprat, para discutir maneiras de registrar e investigar episódios de violência motivados por intolerância religiosa.

Segundo Marcelo Rezende, coordenador do CEN, a ideia é "apresentar uma denúncia na ONU e na OEA (Organização dos Estados Americanos), na Corte Interamericana, sobre esses tipos de violência para responsabilizar o Estado brasileiro por omissão", conforme afirmou ao Correio 24 horas.

Os advogados da comissão religiosa irão argumentar que os episódios recentes ocorridos no Rio de Janeiro e em outros estados representam grave violação dos direitos humanos às religiões afro-brasileiras. Para isso, dados estão sendo colhidos também em São Paulo, Pernambuco e no Rio Grande do Sul.

Terreiro incendiado em Jundiaí

Vizinhos da mãe de santo Rosana afirmam terem visto pessoas correndo logo no início das chamas. "Esse ato criminoso foi tão ignóbil e tão vil que nem posso acreditar que tenha vindo de outra religião ou até de algum desafeto", publicou nas redes sociais. "Minha razão não entende tamanha crueldade – não comigo, mas com Deus." Apesar de não haver feridos, o caso não é isolado. Em menos de um mês, ocorreram oito ataques a religiões de matriz africana na capital paulista, conforme levantamento feito pela CartaCapital.

Segundo a reportagem, dois terreiros foram atacados em Carapicuíba nos últimos dias, além de um crime recente em Franco da Rocha, quando um homem invadiu um culto religioso e esfaqueou quatro pessoas, sendo uma delas menor de idade.

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A Polícia Civil e a Procuradoria Geral do Estado apuram se o incêndio que aconteceu no terreiro de mãe Rosana foi motivado por intolerância religiosa. A estrutura do local era de madeira e foi completamente consumida pelo fogo. Imagens, instrumentos musicais e quadros ficaram destruídos.

Nas redes sociais, a Frente de Direitos Humanos de Jundiaí pediu que os culpados sejam punidos. "Faz-se necessário identificar e responsabilizar as pessoas que praticaram tal crime, e, de igual forma, compreender que se trata de uma agressão a toda sociedade, pois fere direitos invioláveis, tais como à liberdade de consciência, de religião e de culto", trazia o texto da organização nas redes sociais.

Imagem de Chico Xavier depredada

Não são só as religiões de matriz africana que têm sofrido ataques. No último sábado (30), um busto do espírita Chico Xavier foi alvo de pedradas em Uberaba, Minas Gerais. O monumento fica no cemitério da cidade e, apesar de ter os vidros blindados, acabou trincado.